Profissionais de marketing de influência destacam como as marcas podem se aproveitar desse novo hábito e do engajamento da rede social.
Sinônimo de território onde qualquer assunto ou informação pode ser encontrado, o Google, bem como outros buscadores, vem começando a enfrentar uma concorrência diferente nessa área.
Uma pesquisa divulgada pela Adobe em janeiro deste ano apontou que 64% dos jovens da geração Z (pessoas nascidas entre os anos de 1995 e 2010) preferirem recorrer ao TikTok para procurar estabelecimentos ou aprender como usar determinado produto ou ferramenta.
Esse comportamento vem sendo observado já há algum tempo por quem trabalha com redes sociais e pelas próprias plataformas, que vêm em uma disputa cada vez mais acirrada pela atenção e pelo tempo dos usuários.
O fato de já atrair a geração Z – e também a Alpha – para consumirem seus vídeos faz com que o TikTok seja visto, de forma mais natural, como um território onde procurar informações e dicas, concentrando diferentes usos na mesma plataforma.
Profissionais que atuam com marketing de influência e comunicação digital detectam essa mudança de hábito dos usuários de redes sociais. As plataformas, que antes se posicionavam apenas como entretenimento, hoje também são fonte de informação e consulta, na opinião de Flavio Santos, CEO e cofundador da MField.
O fato de o público mais jovem estar usando mais o TikTok como ferramenta de buscas deve-se, também, a méritos da plataforma. Além de ser bastante eficaz, o ambiente da rede social traz muita aplicação do uso dos produtos e também traz perspectivas de suas aplicações, de acordo com Marcelo Nakamura, diretor de atendimento da NetCos.
Ou seja, se nos buscadores tradicionais é possível, por exemplo, encontrar explicações sobre o funcionamento de determinado aparelho, no TikTok o usuário consegue encontrar diversos vídeos de pessoas mostrando como fazer o melhor uso daquilo.
Bruno Maceno, head de conteúdo da JotaCom, cita um exemplo pessoal para explicar sobre as vantagens da ferramenta de buscas do TikTok. O profissional conta que queria muito aprender como fazer uma edição de áudio usando inteligência artificial para um projeto pessoal.
“Joguei nos buscadores convencionais e tive dificuldade em encontrar. Lembrei-me do TikTok. Joguei “como fazer X” e o segundo vídeo já era de um criador de conteúdo ensinando o passo a passo”, conta.
Pelo fato de oferecer essa experiência imersiva e visual, com conteúdos com potencial de engajamento, o TikTok acaba ressoando com os valores da geração mais jovem. Fernando Dineli, além de head de estratégia e growth da Roda Trade, da Holding Clube, também é do meio acadêmico. Ele revela que, com base em suas observações, 90% dos seus alunos são, atualmente, usuários do TikTok e, certamente, iniciam suas buscas pela plataforma.
“Isso aponta uma profunda mudança geracional nas preferências de busca”, analisa Dinelli.
A transformação geracional foi um ponto destacado por Bruno Lunardon, sócio e CEO da SoWhat, que define que a mudança nos hábitos de pesquisa está acompanhando a transformação cultural que a GenZ tem trazido para o mundo. Nessa análise, o executivo faz um comparativo entre as plataformas.
“O Google segue a lógica da enciclopédia, das listas telefônicas e uma forma de indexar conteúdo e organizar através de uma lógica de assuntos e conexões por temáticas. Em outras palavras, é uma centralização da organização para um pós-compartilhamento”, explica Lunardo. Ele complementa explicando que o pensamento pós-digital já nasce descentralizado, promovendo uma nova forma de pesquisar, sem a necessidade de uma curadoria e selo por indexação.
Se há consenso em relação ao fato de que as novas gerações começaram a diversificar o uso e as funções das redes sociais, também é unânime entre os profissionais entrevistados a opinião de que as marcas precisam, por sua vez, se adaptar a esses novos hábitos e aproveitá-los a seu favor.
Uma vez que as pessoas estão recorrendo ao TikTok para fazer buscas, é preciso que as marcas consigam produzir, para esta plataforma, conteúdo que ofereça real valor, segundo Dinelli, da Roda Trade. “Isso inclui a colaboração com influenciadores e a criação de conteúdo que fomente a interação com a comunidade, pois, afinal, para as pessoas, a ênfase está em seguir outras pessoas mais do que marcas”, pontua.
“O comportamento abre uma janela interessante de oportunidades para as marcas se aproximarem da sua audiência com mais conteúdos que sejam ‘encontráveis’, inclusive com mais atenção aos termos e palavras-chave já utilizados pelos usuários”, sugere Nakamura, da NetCos.
O profissional destaca como vantagem do TikTok o fato de mostrar influenciadores e especialistas consumindo produtos, o que coloca o próprio usuário à prova, como um argumento mais forte para as vendas.
Nesse contexto, é fundamental, do lado das marcas e anunciantes, que sejam desenvolvidos conteúdos com intuito de pesquisa. Essa é a visão de Lunardon, da SoWhat, que relembra que, há alguns anos, foi feito o trabalho de indexação de páginas no Google, otimizando palavras e subindo conteúdos.
“Hoje, o mesmo trabalho já deve começar a ser feito no TikTok. Dentro desse aspecto, por enquanto, no Brasil, ainda vivemos uma possibilidade de crescimento ‘orgânico’ destas frentes”, diz o executivo. Ele acredita, ainda, que no futuro possam existir formatos pagos para conquistar esse protagonismo.
É preciso lembrar que o desafio dos buscadores é encurtar o caminho entre a audiência que já tem um hábito de consumo das redes sociais e, por isso, acaba vendo um facilitador usar aquele mesmo canal também para se informar. “As marcas, entendendo esse tempo de consumo, passam a direcionar seus conteúdos para responder às dúvidas e dores desses usuários”, destaca o CEO da MField, Flávio Santos.
A respeito do futuro desses novo hábitos de busca no ambiente digital, Maceno, da Jotacom, é enfático ao dizer que não há mais como escapar e que, em pouco tempo, teremos uma geração que busca muito mais vídeos com informações do que blogs ou sites.
“Lembra da onda de toda marca ter um blog? É o mesmo agora, com TikTok – seja com creators, seja com um canal próprio. Se a marca necessita passar informações precisas para um usuário, talvez o TikTok seja a próxima parada”, define.
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