Na última semana, a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, a qual tenho o orgulho de presidir, anunciou a criação do primeiro teste do mundo de diagnóstico do novo coronavírus baseado em Sequenciamento de Nova Geração (Next Generation Sequencing – NGS).
O exame tem 100% de especificidade – não apresenta casos de falso-positivo -, equivalente à apresentada pelo método RT-PCR, o padrão ouro para identificação do vírus usado até agora.
A grande diferença é que a tecnologia desenvolvida no Einstein permite a realização simultânea de até 1536 amostras, volume 16 vezes maior do que as 96 processadas por vez com o RT-PCR.
Somente no Einstein poderemos fazer até 24 mil exames por semana. Pelo RT-PCR, processamos no máximo duas mil amostras por dia. O novo recurso estará disponível dentro de uma semana e representa um grande avanço contra a pandemia de Covid-19.
Pela primeira vez, o mundo contará com um meio diagnóstico preciso, de custos semelhantes aos dos testes atuais e que se utiliza de um parque tecnológico já estabelecido e pouco usado nos últimos meses, dedicado a fazer sequenciamento genético para a identificação de doenças e de alterações genéticas.
Esse conjunto de qualidades torna o teste do Einstein um recurso viável para a adoção de testagem diagnóstica em larga escala. Note-se – e isto é muito importante – que estamos falando de detecção da presença do vírus e não de anticorpos produzidos dias após a infecção.
Hoje, o que há mais disponível para testagem em massa são os exames sorológicos, os chamados testes rápidos, que registram somente os anticorpos. Além de apresentarem taxas aproximadas de 30% de falsos-negativos e de alguns apresentarem baixa qualidade, sua aplicabilidade tardia o torna menos estratégico.
Ao contrário, identificar uma pessoa assim que ela é contaminada faz toda a diferença. É a informação necessária para projetar o ponto de inflexão da pandemia. Em primeiro lugar, fica possível colocar o indivíduo sob monitoramento e iniciar o tratamento assim que necessário.
Outros pontos fundamentais possibilitados pela testagem em massa são a previsão assertiva da demanda que recairá sobre o sistema de saúde e o melhor controle da expansão dos casos a medida em que permite a aplicação de uma estratégia de isolamento social com base em dados concretos.
O que estamos vendo é que o vírus afeta a todos, tirando a vida de milhares de pessoas sem problemas anteriores de saúde
Embora saibamos que existam grupos de risco mais vulneráveis, o que estamos vendo é que o vírus afeta a todos, tirando a vida de milhares de pessoas sem problemas anteriores de saúde. Por esta razão, não é possível estabelecer um esquema de isolamento tomando apenas como premissa história de saúde ou idade.
Ao mesmo tempo, a identificação rápida do indivíduo infectado é a senha para que ele e seus contactantes permaneçam isolados até o fim do período de risco de transmissão.
Um sistema de assistência e de isolamento social estruturado nas informações obtidas na testagem diagnóstica em massa é o que garantirá também o planejamento de um processo fundamentado de retomada das atividades.
É urgente criarmos formas de a economia do mundo todo voltar a operar plenamente, mas este caminho precisa estar construído sobre dados sólidos que assegurem o controle da expansão de casos, algo possível somente com a precisa identificação de quem ainda manifesta o risco de transmitir o vírus.
Nosso exame para testagem em massa foi desenvolvido em dois meses e uniu esforços de múltiplas áreas do conhecimento. Estamos orgulhosos em contribuir para mudar o curso da pandemia no mundo.
Sidney Klajner é Cirurgião do Aparelho Digestivo. Possui graduação em Medicina e Mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, residência médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, fellow of American College of Surgeons. Atualmente, é Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
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