O currículo de André Carvalhal fala por si só. Graduado em comunicação social, pós-graduado em marketing digital e especialista em design sustentável, ele já passou pela FARM, foi consultor da Grendene, da Do Bem e da The School of Life. Hoje, divide com seus alunos o conhecimento que adquiriu com sua vivência no mercado como coordenador e professor do Istituto Europeo di Design do Rio de Janeiro e dos cursos que leciona na Fundação Getúlio Vargas e na ESPM (Escola Superior de Propaganda Marketing). Além disso, continua na ativa como diretor criativo da AHLMA e cofundador da Malha – maior espaço colaborativo de moda no Brasil.
Como se não bastasse, o multitalentoso se dá bem com as palavras e, em 2014, escreveu seu primeiro livro, o A moda imita a vida: Como construir uma marca de moda (Estação das Letras e Cores). Dois anos depois, Carvalhal está viajando por todo o Brasil para lançar a sua segunda aventura no mundo das letras. Moda com propósito chega em São Paulo no dia 8.12, com lançamento marcado na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.
No meio desse furacão que é o dia a dia do autor, conseguimos bater um papo divertido sobre seu novo livro que fala sobre uma possível reviravolta política, ecológica e social, que está para acontecer no mercado fashion.
Queria que você me contasse um pouco mais sobre a maneira como você estruturou o texto no livro. Ele começa no “fim” e termina em um novo “começo”.
O livro foi organizado dessa forma por dois motivos. Primeiro, porque acredito que o mais importante da experiência dessa leitura seja fazer com que as pessoas se conscientizem sobre o momento em que a gente está vivendo. Acho que este é o fim de um grande ciclo: o fim da moda como a gente conhece, o fim da gente como a gente conhece… Eu precisei começar por esse “fim”. E finalizei com um novo começo porque sempre fiquei muito triste ao terminar de ler um livro ou de assistir a um filme e imaginar que elas se limitavam só àquilo. Sempre que somos tocados por alguma coisa, a transformação só começa de fato quando elas acabam e a gente tem a possibilidade de praticar o que aprendemos na vida.
Seu último livro saiu em 2014, se pararmos para pensar, faz pouco tempo. O que mudou na moda de lá para cá? No fim das contas, dois anos – no mundo da moda – é muito ou pouco tempo?
Em dois anos, muita coisa muda. A gente, a moda… Tanto que, à princípio, este livro seria apenas uma reedição do primeiro. Em dado momento, percebi que ele estava se transformando em outra coisa. Ele acabou ficando cem páginas maior do que o anterior. Isso devido a essas transformações todas pelas quais estamos passando, ainda mais com a tecnologia da informação que afetou muito o mundo da moda. Acho que nessa história de tentar acelerar cada vez mais, a gente acabou andando um pouco para trás.
Como você se organiza entre todas as suas tarefas? Malha, AHLMA, aulas, cursos, escrever… Parece uma rotina intelectual agitada. Você está cansado?
Sim, de fato, é uma rotina bem exaustiva. Eu acordo muito cedo, antes do sol nascer, e durmo cedo também. E nesse momento que eu consigo escrever, preparar aula, essas coisas. Depois que o mundo acorda, aí é correria o dia todo. Claro que me sinto bem cansado, mas quando percebo que estou exagerando, começo a me policiar.
A moda cansa?
A moda que a gente tem feito atualmente cansa, sim. Acho que a gente aumentou o volume, a quantidade de tudo. Então, não é difícil ver não só profissionais que fazem a moda, mas também as pessoas que compram a moda um pouco saturados dela. Acho que esse é um dos pontos que precisa ser revisto com urgência.
Como foi o processo para escrever o livro? Você escreveu tudo de uma vez?
O processo foi muito louco! Demorei quatro anos para escrever o primeiro livro, mas para terminar este daqui foram só quatro meses. E ele é bem maior do que o outro, muito mais cheio de informações. Tenho a sensação de que ele saiu mais rápido por causa da urgência dos assuntos abordados. Além disso, eu viajei muito nesse período. Fui para a Amazônia, Índia, Dubai, Japão, Vale do Silício… Esses lugares serviram não só de inspiração para o livro como também acabei aproveitando os longos voos para escrever ou revisar o que já tinha produzido. Na real, eu queria fazer um livro sobre criação. E assim foi até o momento em que eu percebi que estava procurando descobrir o meu propósito no mundo e só então comecei a trilhar o caminho do Moda com propósito.
É possível, sim, fazer uma grande virada. Inclusive, ela já está acontecendo em vários lugares, mas ainda tem muito trabalho pela frente.
André CarvalhalEm termos de linguagem, ao mesmo tempo em que você cita grandes autores (filósofos, artistas, estilistas), excertos do Facebook, Instagram e demais redes sociais, bem como um tom coloquial, também aparecem pelo livro todo. Como é trabalhar com esse contraste?
Isso é uma coisa que me desperta muita alegria. Fico feliz em ter conseguido reunir essas coisas dessa forma, de misturar Lady Gaga com Jung, Beyoncé com Prem Baba e por aí vai. Esse jogo faz parte de um raciocínio maior, na verdade: o de que está tudo conectado, tudo é um grande “mesma coisa” que é o mundo. Essa é uma das grandes premissas do livro e ver as pessoas curtindo essa mistura sem preconceito e entendendo que existe uma mensagem ali me deixa muito realizado.
Você se considera um idealista?
Sinto que sou mais realista do que idealista. Tenho mais prazer em falar sobre a realidade, sobre o que está acontecendo e mostrar caminhos e possibilidades muito pautadas nisso, do que coisas que vão ficar só no campo das ideias. Admiro exatamente as pessoas que concretizam as coisas que imaginam, que vão atrás.
Quem são essas pessoas?
Poxa, bem difiícil de resumir, mas acho que são as pessoas que decidi entrevistar para o livro. Tem o Renan Serrano da TRENDT, as meninas do Oficina de Estilo, a blogueira Carla Lemos, o Oskar Metsavath da Osklen, o Ronaldo Fraga, todos os quais tiveram suas histórias, de alguma forma, contadas por mim.
Qual é o seu signo? (Vou chutar escorpião, signo da morte, mas também da transformação radical, acertei?). Você acredita nessas coisas?
(risos) Quase acertou o signo! Eu sou de Sagitário por pouquíssimos dias, tenho ascendente em Capricórnio e lua em Libra. Fazer meu mapa astral foi o início da minha busca pelo autoconhecimento que acabou gerando esse livro. Eu entendi muita coisa em mim pela astrologia… Entendi que sou desses que se joga, muito aventureiro, gosta de transformar. Ao mesmo tempo, por causa do Capricórnio, muito trabalhador, muito realizador. E ainda tem a lua em Libra que fala muito de estética, de beleza. Acho que é uma combinação que cabe na moda, né?
Leia mais: As previsões para os signos no ano que vem.
Várias das sugestões que você propõe no livro, já estão acontecendo na moda mundo afora. O genderless, a preocupação com a sustentabilidade, a liderança feminina, o cuidado com questões étnicas… A virada está próxima de acontecer?
O livro é cheio de exemplos ricos nesse sentido, mas eles ainda me parecem ser a minoria, ainda é só o começo de um movimento. Acho que são fagulhas que mostram que é possível, sim, fazer uma grande virada que, inclusive, já está acontecendo em vários lugares, mas ainda tem muito trabalho pela frente.
Se você tivesse que mandar só uma mensagem breve, rápida, para o mundo, mas que ele absorvesse de cara, qual seria?
Difícil… Mas, se eu pudesse concentrar tudo numa ideia só, acho que eu diria para a gente retomar a noção de que somos uma coisa só: natureza, ser humano, empresa, etc. Um ecossistema no qual um depende do outro. O sucesso das empresas depende do sucesso das pessoas que dependem do sucesso do planeta, cada um com o seu propósito. Fazer com que o dom das pessoas se encontre com uma necessidade do mundo. O grande problema de hoje é ter muita gente no lugar errado, na cadeira errada. Talvez por isso tanta crise, tanta dificuldade. Essa é a grande virada: a retomada do propósito.
Pensei em fazer um bate-bola jogo rápido à la Marília Gabriela, topa?
Topo!
O passado…
Já foi, acabou.
O futuro…
É hoje.
A virada…
Depende da gente.
Sucesso…
Depende de todos.
Internet…
Um meio, não é um fim.
O mercado de moda…
Precisa se ressignificar.
A turma da moda…
Precisa de união para chegar em algum lugar.
A moda, só ela…
Precisa de propósito.
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