A moda é maravilhosa, é um canal de expressão, de informação cultural, de personalidade… Mas como tudo na vida, nem tudo são flores. Sempre gostei de me vestir, de ter várias roupas, de comprar (claro) e tudo que envolve vestuário, mas nunca havia parado para pensar que tudo que eu visto sai de algum lugar. É tipo comida, pra estar no seu prato, tem que ter saído de alguma plantação, ou algum animal tem que ter morrido. Sem muitos mistérios, né? Mas a gente não pensa muito sobre isso. Até agora.
Desde que passei a me interessar por moda de outro jeito (além do ato de me vestir), comecei a ler sobre tudo que envolve o tema, desfiles maravilhosos, tendências desejo, fast-fashion baratinhas, condições de produção tem tão lindas assim…
Não sei se vocês sabem, mas a indústria da moda está no topo quando se fala em poluição e desperdício, e já se viu envolvida em inúmeros casos de exploração do trabalho infantil, além de não fornecer condições de trabalho adequadas nas fábricas onde as roupas são produzidas. Como o que aconteceu em Bangladesh em 2013, quando o prédio Rana Plaza, ocupado por uma fábrica têxtil, desabou, matando mais de 2.500 pessoas. Viram rachaduras no imóvel, mas apenas ignoraram e mandaram os trabalhadores de volta no dia seguinte. Quer saber quem tinha roupas fabricadas lá? Grupo Benetton, Primark e H&M, para citar algumas.
Ah é, não sei se você lê as etiquetas da maioria das suas roupas, ou das que você compra na Zara, mas elas não são produzidas aqui no Brasil, ou nos EUA, ou em Paris. Elas são produzidas em países onde a mão de obra é extremamente barata e as isenções fiscais rolam soltas.
Pois é. To jogando poeira no brilho luminoso da palavra glamour. E como se não bastasse, nós não somos consumidores exemplares. A gente não se preocupa com a origem da peça, com o impacto que a produção dela causou no ambiente, com o salário que a criança de 12 anos recebeu pra ficar 12 horas em um ambiente apertado, quente e insalubre. E não sou hipócrita, eu também nunca deixei de comprar alguma coisa por causa disso.
Mas minha função aqui é informar, esclarecer e achar uma saída para eventuais pedras no caminho quando o assunto é moda. E não vale só pra você que me lê, vale pra mim também. E, bom, sinceramente? É um assunto delicado, mas que de forma alguma pode ficar sem ser debatido. E o caminho par um dia sermos consumidores responsáveis, é o debate, o conhecimento sobre o assunto.
Consumo consciente não tem a ver só com moda, se encaixa em qualquer situação de consumo. Carros, alimentos, utensílios domésticos, brinquedos, e toda e qualquer coisa que seja produzida por alguém para que você possa comprar. E consumir conscientemente é se preocupar em reduzir o tanto de coisas que compramos, reutilizar o que compramos, reciclar o que compramos e repensar a forma que compramos. E exige muita maturidade.
Para nós, que aqui estamos pensando na indústria da moda, seria mais ou menos assim: entrar em uma loja, pegar uma peça de roupa e se perguntar: “Eu preciso disso?” “Eu posso comprar isso?” “De onde isso veio?” “Estou comprando porque preciso e tem a ver comigo ou porque todas as blogueiras estão usando?” Difícil, eu sei. E não acho que conseguiríamos desenvolver esse hábito de uma hora pra outra. Se tornar consciente quanto ao que consome é um processo gradual, que podemos ir tentando aos poucos.
Ainda não consegue comprar sem pensar de onde veio? Comece a doar mais roupas. Não consegue não ir à promoção? Compre só uma peça. Não consegue evitar uma compra? Opte por tecidos menos agressivos ao ambiente. Pequenas mudanças que terão grande impacto no futuro.
Em maio desse ano rolou em Copenhagen o Fashion Summit, um evento que reuniu gente importante do ramo para discutirem sobre consumo consciente, moda sustentável e novas formas de produção e valorização do trabalho nas fábricas. Por lá, gigantes da indústria como a H&M e Nike, apresentaram suas propostas para uma produção mais sustentável, a editora da Vogue Internacional, Suzy Menkes, também estava presente, para pensar em como as revistas de moda podem contribuir para as mudanças, além de outros nomes.
É importante que isso esteja acontecendo, que as mudanças estejam em curso. E penso que deve ser uma via de mão dupla, as empresas devem se empenhar em produzir de maneira mais sustentável e nós devemos tentar ser mais conscientes quanto às nossas compras.
Diminuir com os exageros. No momento em que escrevo esse texto, acabo de ver uma chamada da Zattini no meu Facebook: 3 sapatilhas por 99,90. A gente realmente precisa comprar 3 sapatilhas de uma vez? “Ah, mas são só cem reais”, tudo bem, mas são três sapatilhas, de uma vez, sem necessidade alguma.
E que tal tentar um armário-cápsula? Se virar por 3 meses com no máximo 30 peças de roupa. Impossível? Saiba que não. A americana Caroline Rector relata suas experiências no blog Unfancy e é muito interessante. É uma forma de aguçar a criatividade, a organização e também as contas. Sei que é uma iniciativa que exige dedicação, mas pode ser uma forma de se desafiar e a contribuir para uma moda mais consciente.
Se ainda é muito difícil pra você colocar isso em prática, como é pra mim, uma maneira de nos educarmos aos poucos quanto ao tema, é lendo e pesquisando sobre ele. Já viram o documentário The True Cost, no Netflix? E o vídeo incrível do John Oliver (“John Oliver: Fashion”, e pronto, tá no YouTube) falando sobre o assunto? Ah, tem também os livros “Over-dressed: The Schockingly High Cost of Cheap Clothes”, da Elizabeth L. Cline, e “A Mágica da Arrumação”, da Marie Kondo, que não fala diretamente sobre o assunto, mas nos ensina a amar nossas coisas, cuidar delas, fazê-las durarem mais e as descartamos apropriadamente quando for a hora.
Não vamos conseguir exterminar esses casos, como o do prédio Rana Plaza. Não vamos conseguir frear a produção em massa para as lojas de departamento. E poxa vida, comprar em fast-fashion é muito bom, eu sei! Mas podemos sim frear o exagero pessoal, aquele que está ao nosso alcance. Podemos começar a ler as etiquetas, a não virar a cara para as notícias sobre o assunto, a não julgar a coleguinha que está repetindo roupa (até hoje, gente, sério?), a buscar alternativas para a crise do “não tenho nada parar vestir”.
Quem fez a sua blusinha de 35 reais da Zara de fato não tem nada para vestir. Que tal pensarmos mais sobre isso? Desafio lançado.
http://www.correiodeuberlandia.com.br/blogs/pense-a-porter/precisam...
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