Ele é filho de português, fala alta como um bom italiano e criou uma popular rede de comida árabe. Apesar de tudo isso, Alberto Saraiva, fundador e presidente do Habib’s é, sobretudo, brasileiro. “Nunca se criou neste País uma situação tão antagônica. Mas precisamos ficar acima de partidarismos. Precisamos ser patriotas, senão isso vira uma zona”, disse o presidente durante o Conarec 2016 – Congresso Nacional das Relações Empresa-Cliente. “Não podemos ser de esquerda ou direita, mas a favor da população. Não podemos nos sentir maiores ou menores do que as pessoas que convivem conosco”, avaliou.

“Alguns políticos, por incompetência e por tudo o que fizeram, apelaram para o populismo, nos dividiram. E aceitamos ser classificados por verdes, amarelos e vermelhos. O País se dividiu em mortadelas e coxinhas. Mas essa bagunça não nos interessa”, disse. “As coisas estão mudando. Os consumidores estão mudando as empresas. E nessa época, em que o País está de cabeça para baixo, precisamos nos posicionar ao lado do consumidor. Mas não só dele, do brasileiro – e isso faz toda a diferença. O brasileiro está com dificuldades e deixando de ser consumidor. Por isso, não podemos apenas falar com o consumidor, mas com o brasileiro”, disse. Para o executivo, a trajetória pela qual passa o Brasil tem muitas semelhanças com a trajetória que ele, Saraiva, desenhou até chegar onde está.

“Principalmente nesses momentos, as pessoas se perguntam o que devem fazer para conseguir vencer”, diz.
A partir daí, Saraiva definiu alguns verbos que, segundo ele, mudaram a vida do executivo e que, ele espera, que mude o rumo do País. Estes são alguns deles:

Acreditar
“Meus pais deixaram uma aldeia em Portugal e atravessaram os oceanos para chegar aqui. Para conquistarmos alguma coisa, temos de confiar em nós mesmos e atravessar oceanos. Adquiri confiança em mim mesmo. Será que você tem a confiança em si próprio ou será que exita?”

Persistir
“Não desisti de Medicina, mesmo sendo reprovado no vestibular por três anos seguidos”.

Superar
“Superei a dor mais profunda, que é a dor da perda de um ente querido, que nos arrasa, destrói e nos faz desistir. Eu não desisti”.

Crer
“Encontrei na fé a força para superar essa perda e por causa de algumas palavras que me disseram uma vez, acabei mudando o rumo da minha vida. Acreditei nessas palavras, e isso mudou tudo”.

Desejar 
“Vendo 600 milhões de unidade de esfihas por ano, porque eu desejei isso. Se você desejar todos os dias, todas as horas, e trabalhar por isso, vai conseguir”.

Multiplicar, e Democratizar
“Transformei produtos em campeões de venda, porque os tornei acessíveis. Democratizei as esfias para ajudar as pessoas. Se os negócios fossem acessíveis, não haveria tantos desempregos, tantas lojas fechadas”.

Comunicar e Motivar
“Transformei 20 guerreiros que começaram comigo no negócio em um efetivo de 20 mil pessoas , graças a um trabalho de comunicação clara e motivação”.

Conquistar

“Transformei uma loja em 500 lojas. Não economize aplausos para suas conquistas. Ao aplaudir mais, você conquista mais”.

O verbo do Brasil
Após sua apresentação, Saraiva foi entrevistado pelo jornalista Caio Blinder, que tratou sobre a visão de Saraiva sobre o Brasil, negócios, coxinhas e mortadela. Confira a entrevista

Caio Blinder – Eu fiquei impressionado com o serviço do Habib’s quando fui no restaurante da José Bonifácio. Mas por que não tem falafel no restaurante?
Alberto Saraiva– Quem conhece falafel? (poucos da plateia levantam a mão). É por isso que não tem.

Blinder – Por que você não cria um negócio de pão de queijo, que é um produto popular no Brasil?
Saraiva – Porque ele demora 25 minutos no forno para ficar pronto. E em fast-food isso é complicado tanto pela velocidade como pelo preço. Lançar um produto sem ter um preço democrático pra gente não é competitivo. O produto para ser democrático tem de ter algumas características, tem de ser feito na hora e atender aos anseios da população, e o pão de queijo não atende isso.

Blinder – O McDonald’s teve um problema na época que ele fugiu das suas raízes e começou a vender salada. Como crescer e diversificar sem perder a identidade?
Saraiva – Cada empresa tem seu DNA e sua característica. McDonald’s é velocidade e padronização. E foram essas características que fez com que ele seja a maior marca do mundo de fast-food. Não podemos perder o DNA. Erramos muitas vezes, mas precisamos corrigir a rota.

Blinder – Qual é o verbo mais importante para conjugar o Brasil agora?
Saraiva – Cada empresa tem um verbo importante. Mas que todos nos compartilhemos o mesmo ideal…

Blinder – Em entrevista, você chegou a dizer que o Brasil agoniza. Agonizar ainda é um verbo que cabe para o Brasil? Você não acredita mais nisso?
O verbo agonizar era o que estava acontecendo, estávamos perdendo o País e tínhamos uma roubalheira generalizada e precisávamos tomar uma decisão. Falei nesse sentido, porque o Brasil estava agonizando.

Blinder – Como você mistura coxinha com mortadela no Brasil sem dar zica?
Saraiva – Somos iguais e somos dependentes um dos outros. Quando não se planta esse populismo, a chance do Brasil é maior.

Blinder – Temos visto muitas histórias de empresários nas páginas policiais. O que aconteceu com parte da classe empresarial brasileira?
Saraiva – Foi como uma infecção que se alastrou. Esses empresários fizeram uso da máquina do Governo motivados por outras coisas. As empresas sem associação com o Governo não participaram do processo.

Blinder – O Brasil vai acabar em pizza?
Saraiva – Não vai acabar em pizza, porque a população está cada vez mais consciente e mais crentes. A Olimpíada foi a melhor coisa que aconteceu com o País, porque nos devolveu o orgulho de ser brasileiro.

Blinder – Em uma situação hipotética: se você tivesse de ficar em uma ilha por dez anos, qual produto do Habib’s você levaria?
Saraiva – Bib’sfiha de carne.

Blinder – Por que não tem “improvisar” entre os seus verbos?
Saraiva – Porque é algo realmente difícil de ser fazer, embora ele deva fazer parte do ser humano.

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