Agenda de missões e as prioridades da população
Francilene Garcia, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), concorda com Wongtschowski que o país vive um momento favorável de investimentos em políticas públicas industriais e de ciência, tecnologia e inovação, mas lembra que é preciso haver diagnóstico e monitoramento das metas a serem estabelecidas.
“Por exemplo, apesar de o Brasil ser reconhecido por estar em terceiro lugar em produção científica no mundo, a gente precisa de uma lógica de impacto dentro desse volume de produção. Ou seja, é fundamental termos publicações e patentes, mas é necessário que essas tragam evidências de que são resolutivas em relação a problemáticas que enfrentamos no Brasil e conectadas com demandas globais”.
Para Francilene, um dos principais desafios para a ciência brasileira no presente e no futuro está na educação básica. “Não tem como reverter fragilidades no nosso país sem mexermos na educação básica. Essa é uma grande missão, não só do Ministério da Educação, mas da sociedade brasileira de um modo geral. Uma missão extremamente complexa, mas necessária”.
O papel da abordagem de missões, segundo Mariano Laplane, professora da Unicamp, é ajudar no processo de reconstrução do diálogo entre Estado, empresários e sociedade e uma oportunidade de enfrentar obstáculos. “Para a sociedade respaldar as políticas de inovação, é preciso que ela veja de maneira clara que esses atores trabalham para resolver problemas e criar bem-estar. A abordagem de missões tem a ver com a capacidade de articular as ações de inovação em torno da resolução de problemas vividos pela população, como os relacionados à saúde, educação e segurança, que estão no topo das prioridades da população em todo o território e em todos os níveis de renda”.
Segundo Laplane, feita essa conexão, a sociedade será capaz de entender a importância da ciência, tecnologia e inovação, e a necessidade de se investir nesse campo. Para o secretário nacional de ciência e tecnologia para o desenvolvimento social do MCTI, Inácio Arruda, o momento de efervescência de debates sobre políticas de inovação no país fomenta também o debate sobre como o Brasil vai responder ao avanço das novas tecnologias. “E não podemos fazer isso sem o Estado e sem a unidade do país. É possível fazer isso agora com esse momento de fortalecimento da democracia”, diz.
Missões e a Nova Política Industrial
Criado em 2004, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, foi reativado em abril do ano passado, com o propósito de liderar as bases para a construção de uma nova política indústria, organizada em missões temáticas voltadas para proporcionar benefícios para os brasileiros.
Para a secretária-executiva do CNDI, Verena Hitner, organizar o desenvolvimento do país a partir de missões é um processo diferente da experiência de países desenvolvidos. “A política de desenvolvimento industrial para o Brasil é diferente porque o impacto que ela gera na sociedade é absolutamente diferente. Significa trazer todos os instrumentos do Estado para dentro, com a certeza de que a indústria melhora a qualidade de vida das pessoas”.
Ainda de acordo com Verena, na construção da Nova Indústria Brasil, uma política orientada por seis missões, colocou-se a indústria como um meio para se chegar a um fim, que é o bem-estar das pessoas. “Trata-se de uma política construída em um espaço democrático, já que, nesse governo, a participação das pessoas e o processo importam tanto quanto o resultado. O momento impõe a reflexão sobre a conexão entre universidades e sistema produtivo e como é possível organizar o conhecimento científico que sai das universidades para o desenvolvimento nacional.
- Conheça aqui as seis missões da Nova Indústria Brasil
O diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi, também destacou a importância de políticas públicas industriais e dos recursos para financiá-las. “Você só tem indústria moderna se você tem ciência e inovação. A gente nunca terá os recursos das economias líderes, mas estamos colocando R$ 60 bilhões em política industrial. Isso é suficiente para empurrar a agenda para frente?”, questiona.
A Embrapii e a agenda de missões
Com uma estrutura moderna e inédita no ecossistema de inovação brasileiro, que já mobilizou R$ 3 bilhões em projetos de inovação, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), incentiva a pesquisa aplicada e a tecnologia no país por meio do apoio a milhares de empresas em 10 anos de existência.
“Estamos identificando um canal para receber esses desafios que vêm da NIB para endereçar a esse exército de pesquisadores que foram treinados e capacitados para responder a esses desafios a partir do financiamento de vários ministérios”, explica Marcelo Prim, diretor de operações da Embrapii.
- Entenda aqui por que a Embrapii é tão importante para a inovação no Brasil
A Coordenadora na Gerência de Análise Econômica e de Dados da instituição, Marília Basseti, explica que a instituição foi criada a partir da necessidade de aproximar a academia do sistema produtivo para resolver gargalos que existiam no ecossistema de inovação. “O modelo tradicional da Embrapii é criado a partir de demandas da indústria. A embrapii não faz política pública, mas isso não quer dizer que a gente não tenha espaço criativo para modelar iniciativas que atuem na fronteira do conhecimento, já que partimos da ideia de que no Brasil existe um ecossistema inovativo muito robusto e que deve ser valorizado”.
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