Os países emergentes estão fazendo de tudo para escapar dos efeitos da desvalorização do dólar sobre suas operações comerciais e financeiras.
Volta e meia, nos fóruns internacionais, aparecem propostas para tentar reduzir a dependência da moeda americana. Foi o caso da III Cúpula dos Brics, na cidade litorânea de Sanya, na China.
Os países do bloco, formado pelo anfitrião, mais Brasil, Índia, Rússia e África do Sul, defenderam na declaração final do encontro em abril um “sistema de reservas internacionais abrangente”.
O grupo elogiou a revisão da composição da moeda usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), chamada de direitos especiais de saque. Mas não se chegou a mencionar diretamente a ideia de incluir o yuan chinês na cesta de moedas hoje composta por dólar, euro, iene e libra.
A medida concreta para tentar reduzir a dependência do dólar foi a decisão de que os bancos de desenvolvimento estatais passarão a conceder crédito em moedas locais.
Os cinco países, que representam 20% do crescimento global e 15% do comércio mundial, não mencionaram na declaração final a intenção de usar moedas locais na área comercial, uma ideia de quando o bloco foi criado, há três anos.
O fato é que as experiências brasileiras de tentar eliminar o dólar em exportações e importações até hoje deram pouco resultado. O acordo em vigor com a Argentina para uso de pesos e reais, por exemplo, não emplacou.
“Na corrente de comércio com a Argentina, as transações usando moeda local não chegam a representar 1% do total. Isso em países com grande proximidade e relação econômica”, afirma o vice-presidente da AEB, Fábio Silveira.
Como as cotações internacionais dos produtos, fretes e seguros são feitas em dólar, o uso de moedas alternativas torna-se pouco viável.
Na área financeira, a opção por outras moedas é mais comum, como mostram emissões de títulos de dívida no mercado internacional feitas por países e empresas lastreadas em real, peso mexicano e outras.
Instituições multilaterais como a International Finance Corpo-ration (IFC), do Banco Mundial, também têm experiências bem-sucedidas de emprestar em moeda local.
Embora esta seja uma via com mais chance de sucesso, não resolve o problema fundamental, que é a enxurrada de dólares em todo o mundo provocada pelas taxas de juros negativas e política fiscal expansionista dos Estados Unidos. Neste ponto, fugir do dólar em transações comerciais ou de crédito também não adianta muita coisa.
O Brasil vem tentando de tudo nos fóruns internacionais para cobrar dos Estados Unidos algum sinal de colaboração para reduzir os efeitos dos gigantescos fluxos financeiros sobre os países emergentes.
Até agora, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, conseguiu cunhar a expressão “guerra cambial”, mas nada muito além disso. Não por acaso, os Brics concordaram durante a reunião na China em pressionar os organismos multilaterais, com seus direitos de voto agora mais elevados, para que sejam escolhidos dirigentes de países emergentes para o FMI e o Banco Mundial.
Seria quebrada assim a tradição informal existente desde o pós-guerra de que um americano dirige o Banco Mundial e um europeu, o FMI. Um diretor-geral do FMI brasileiro, chinês ou indiano teria muito mais incentivo para, pelo menos, comprar uma boa briga com os EUA.
FONTE: REVISTA ISTO É
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