Disputados a tapa nas faculdades, os engenheiros são a elite da força de trabalho que vai preencher a imensidão de vagas abertas na indústria do petróleo. O Brasil só vai conseguir extrair a riqueza do fundo do mar se investir na capacitação deles.
Passar catorze dias seguidos isolado em alto-mar a 150 quilômetros de terra firme, dormindo em quarto coletivo e concentrado em tarefas complexas e de alto risco. Parece exaustivo, e é. Mesmo assim, enfurnar-se numa plataforma de petróleo, onde tudo isso acontece, virou o emprego dos sonhos para um crescente grupo de jovens que buscam aventura, novidade e acima de tudo, uma oportunidade rara de rápida ascensão profissional. Os engenheiros de petróleo são a elite dessa força de trabalho a quem cabe converter em riqueza o potencial do pré-sal. Disputados ainda na universidade pelas empresas petrolíferas, eles estão encarregados de tarefas cruciais, como interpretar dados geológicos, calcular o tamanho de reservas e operar e manter equipamentos de perfuração. "É uma pressão psicológica intensa, mas vale.
O petróleo me permitiu crescer em um piscar de olhos. Já consegui comprar uma boa casa e o carro que eu queria", comemora o engenheiro Vinicios Azevedo. 27 anos. funcionário de uma empresa americana que testa poços operados pela Petrobras. Formado em engenharia eletrônica, Azevedo viu uma amiga conseguir um bom emprego na indústria petrolífera e resolveu se especializar na área. "No mestrado, recebi cinco propostas de trabalho em um ano, todas de alto nível, mas as recusei apostando que encontraria, coisa ainda melhor depois de concluir o curso", lembra. Hoje, ele ganha cerca de 10 000 reais fixos mais um adicional a cada período que passa em alto-mar. "A plataforma é minha segunda casa. As mais antigas nem internet têm, mas as novas são muito confortáveis. Eu me sinto num cruzeiro", brinca.
Azevedo está na linha de frente de uma força de trabalho que, a se concretizarem as promessas do pré-sal, atingirá proporções monumentais. Segundo estimativa da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), quando a exploração dos reservatório estiver no auge - o que se traduziria em 30% de todo o óleo no Brasil —. terão sido criados, direta ou indiretamente, 2 milhões de novos empregos, ou 680 por dia pelos próximos oito anos. Num prazo mais imediato, de três anos, a indústria terá de treinar 212000 pessoas, ou 70000 por ano. Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) sobre a demanda de profissionais nas 400 maiores empresas do país mostra que os mais solicitados. de longe, serão justamente os que têm formação em engenharia de petróleo. O salário inicial médio dessa turma já é de 9000 reais (um clínico geral começa com 6000 reais e um advogado tributário, com 2800). Em cargos mais altos, a média sobe para 15000 reais. 35% mais do que se oferecia no ano passado. Segundo a empresa de recrutamento Catho, nenhuma outra carreira da engenharia experimentou tamanha evolução. "Dentro da engenharia de petróleo, há algumas funções específicas para as quais é mais difícil achar gente competente do que topar com uma mosca branca", diz Paulo Sérgio Alonso, secretário executivo do principal programa de formação de mão de obra para a indústria petrolífera, o Prominp.
Colocado dessa forma, o mercado de trabalho do pré-sal soa como a terra prometida da mão de obra nacional. Para isso, só falta as expectativas se confirmarem, e nessa ressalva mora o perigo de uma decepção de proporções igualmente monumentais. Por enquanto. a riqueza guardada nas profundezas do oceano é um projeto que engatinha. Empresas que se prepararam para investir e ganhar dinheiro a curto e médio prazo estão revendo suas projeções, por falta de resultados. Mesmo a guerra por bons profissionais é movida nem tanto por uma saudável competição entre vários escritórios e muito mais pela agressiva política de contratações da Petrobrás, que desde 2001 aprovou em concurso 37 000 funcionários, fazendo escassear a mão de obra. Os analistas mais cautelosos têm sempre à mão o exemplo da indústria naval, que na década de 70, a do "Brasil Grande", foi estimulada pelo governo a implantar grandes estaleiros, que contrataram aos milhares. As encomendas não se concretizaram, os investimentos minguaram, os empregados foram sendo demitidos e, quinze anos depois, quase todos os estaleiros fecharam. "A demanda interna foi suprida por estaleiros internacionais, e os nacionais entraram em processo irreversível de falência", diz Segen Estefen, professor de pós-graduação e pesquisa em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Supondo-se que a lição tenha sido aprendida e que a exploração do pré-sal corresponda a seu fabuloso potencial, as possibilidades de emprego são, de fato, de tirar o fôlego de qualquer jovem ambicioso. O capixaba Bruno Teixeira Paiva, de 27 anos, foi contratado por uma fornecedora da Petrobras em 2008, quando ainda cursava o último ano de engenharia de petróleo. Em quatro anos, mudou de emprego uma vez e seu salário passou de 5000 para 8000 reais. "Sou sondado por outras empresas o tempo todo. Não faltam oportunidades no mercado para alguém com a minha formação", entusiasma-se. Existem apenas 35 cursos de engenharia de petróleo no Brasil (os de engenharia civil são 290), e o caminho dos formandos é quase inevitavelmente a Petrobras. Seu ritmo agressivo de contratações dificulta a vida de empresas privadas como a multinacional inglesa BG, que passou o último ano inteiro procurando um engenheiro com experiência em perfuração e. no fim, rendeu-se à escassez e "importou" um profissional da Europa, a um custo muito mais alto. No total, só no primeiro semestre deste ano, 8200 estrangeiros foram trazidos para cá para trabalhar em embarcações ou plataformas petrolíferas.
Na ponta menos especializada do mercado de trabalho em petróleo, a escassez não é só de pessoal, mas principalmente de preparo básico. "Boa parte dos candidatos a vagas em nossos cursos não tinha sequer conhecimentos mínimos de matemática, português nem raciocínio lógico", diz Alonso. do Prominp. "Criamos um projeto de reforço escolar e agora já existe até fila de espera para algumas turmas." O carioca Aureliano João de Oliveira. 40 anos, segurança de um prédio na Zona Sul do Rio de Janeiro durante o dia. dorme apenas três horas por noite — o resto, ele passa nas aulas de solda do "corujão", curso do Senai que funciona das 22 às 2 horas (o seguinte, das 3 às 6 horas, é o "galo da madrugada"). "Com uma vaga no setor do petróleo, posso ganhar mais do que o dobro dos 900 reais que recebo hoje", diz. Se caminhar como previsto, a exploração do pré-sal vai demandar a instalação na costa brasileira de 33 sondas. vinte plataformas e 49 navios. 60% dos quais têm de ter sido produzidos aqui. A aposta é alta. e os riscos idem. "Entre todas as barreiras que podem atrasar o desenvolvimento do pré-sal, a da mão de obra é uma das mais perigosas, porque não há solução simples nem de curto prazo", observa Norman Gall. diretor executivo do Instituto Fernand Braudel. autor de um substancioso estudo sobre o fenômeno. "Se não houver um esforço maciço e contínuo de reforço da educação básica, a riqueza vai continuar no subsolo."
Fonte:Veja
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