O cariri paraibano é o território fértil para a inspiração. A terra árida, a paisagem pedregosa, a vegetação exótica e resistente à estiagem. A região do céu azul de dia e da cor de breu nas noites carregadas de estrelas. De caminhos que levam à contemplação do pôr do sol em matizes de laranja, aos sorrisos generosos em faces desconhecidas e à arte secular das mulheres que tramam na Renda Renascença as flores e ramagens que brotam de seus desejos. Neste universo de força e beleza a estilista Fernanda Yamamoto ancora seu olhar vivaz para dele tecer a construção da sua próxima coleção.
A moda arquitetural, centrada nas técnicas artesanais é a marca da paulistana que aos 35 anos tem seu nome consolidado como referência no cenário brasileiro. O novo processo criativo está em curso desde a apresentação da última coleção no São Paulo Fashion Week. Em realidade, surge como elo do trabalho que tomou o avesso - a face oculta da costura que guarda segredos - como ponto de partida. As bordas de tecidos sem acabamento e em desalinho deram vida ao Outono/Inverno 2015 mergulhado em um roteiro de sensibilidade. Uma narrativa de autoconhecimento que culmina em manifesto de renovação na suposta "troca de peles" que mostra o lado direito como estética irretocável e vibrante.
A atmosfera de transformação é a mesma que nutre e revigora a proposta da nova coleção. A Fernanda outonal que pautou na costura uma trilha da renovação encontra rendeiras que experimentam o desafio cotidiano da reinvenção nas tramas de nós e pontos elaborados com fio, lacê e agulha. "A minha ideia é incorporar a essência do Cariri à roupa através da renda e de outras tipologias artesanais. É pontuar o contemporâneo com um desenho mais vazado e assimétrico da renascença. Não significa alterar o fazer ancestral; mas, dar suporte e apresentar novas possibilidades sobre o que dominam tão bem", assinala a estilista que em janeiro de 2015 chega com sua equipe à Paraíba para acompanhar a produção.
Os caminhos da Renda Renascença mapeados por Fernanda Yamamoto são rotas apresentadas pelo estilista paraibano Romero Sousa. Em novembro deste ano, durante consultoria ao grupo "Mulheres Produzindo Saberes e Gerando Renda", coordenado pelo Cunhã Coletivo Feminista, ele convidou-a a percorrer os municípios da Paraíba que são sinônimo da arte têxtil incorporada à cultura brasileira pelos colonizadores portugueses. Para Fernanda, a experiência fortaleceu ainda mais o conceito da nova coleção. "Vi sensibilidade e vontade nessas mulheres e enxerguei na parceria uma troca, um modo de dar visibilidade à elas e à renda", conta.
Sem rodeios, Romero declara que a Renda Renascença produzida em terras paraibanas consiste em um patrimônio cultural ímpar, carregado de identidade e simbologias. "O fazer da renda mexe com emoções e sentimentos. São códigos passados de geração em geração, são histórias arrematadas em nós, reproduzidas no desenho que não perde de vista o entorno", argumenta o designer. Com o grupo de rendeiras dos municípios de Monteiro, São João do Tigre, Congo, Camalau e Mulungu ele instiga uma urdidura tridimensional, criando volumes para produtos de design contemporâneo.
Na liberdade do criar, Romero propôs o inusitado. Da ousadia surgiram pedrarias em renda. Colhidas dos tabuleiros, das paisagens e dos caminhos tão conhecidos das mulheres, as pedras rústicas de tamanhos e formatos diversos foram envolvidas pela delicadeza da Renascença. Transformaram-se em joias raras, únicas na lapidação realizada pelo fio da intuição. Linhas e agulhas acostumadas às palas, às toalhas de mesa e vestidos, deram voltas em pedaços dos caminhos do Cariri. Caminhos recém descobertos por Fernanda e explorados com zelo por Romero.
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