Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Sete fatos sobre o vatnik, clássico do vestuários russo

Para os russos do século 20, o vatnik –jaqueta acolchoada (com algodão dentro), rústica, bem quente e tradicional do inverno russo desde o pós-revolução– foi mais do que uma peça de vestuário. Foi um símbolo da união da nação e de sua força.

Sete fatos sobre o vatnik, clássico do vestuários russo

O moderno casaco acolchoado surgiu, ao que tudo indica, durante a guerra russo-japonesa Foto: Aleksêi Kudenko/RIA Nóvosti

A Gazeta Russa separou fatos que cercam um mito do armário russo, o vatnik.

1. Vestígio bizantino

As acolchoadas jaquetas curtas de linho, reforçadas com algodão para melhor aquecerem e embebidas em vinagre, fizeram parte do uniforme da infantaria bizantina a partir do século 10. O antigo vatnik, ou telogreika [junção das palavras telo e greika; numa tradução livre, “aquecedor do corpo”], como também ficou conhecido, pertencia à categoria de vestes de leve blindagem.

É evidente que o vatnik bizantino dificilmente protegia alguém das flechas do inimigo, mas podia salvar a vida em caso de forte golpe com a lâmina de uma faca ou machado. Os historiadores acreditam que entre os séculos 11 e 12 ela tenha vindo do Império Bizantino e penetrado nos principados russos, mas que a invasão mongol fez seus ajustes posteriores e a "jaqueta bizantina" desapareceu do guarda-roupa militar russo.

2. Fabricando na China

O moderno casaco acolchoado surgiu, ao que tudo indica, durante a guerra russo-japonesa. As unidades do exército russo estacionadas na Manchúria repararam naquelas confortáveis e quentes jaquetas de algodão que os habitantes da região usavam e decidiram comprar um grande lote dos comerciantes locais. Depois da desmobilização, as jaquetas chinesas se dispersaram por todo o Império Russo, lançando assim as bases para o surgimento desta verdadeira peça de "culto". Posteriormente, os vatniks seriam usados tanto na Primeira Guerra Mundial, como na Guerra Civil.

3. Padronização

Em 1932, a Comissão de Padronização do Comissariado do Povo para a indústria leve da URSS introduziu o padrão oficial do vatnik:

"A telogreika é uma jaqueta de algodão, de corte reto, com uma única fileira de 4 botões que abotoam nas quatro casas costuradas na outra aba que vai por cima deles. As abas são direitas, sem dobras, com bolsos laterais, acolchoadas no seu todo, com a parte externa, algodão e forro em tiras paralelas feitas na máquina. A distância entre as costuras do acolchoamento é de 6 centímetros. As costas são retas, de peça única ou com costura no meio, a cintura é apertada por uma fivela com fecho de metal. O acolchoado das costas é igual ao das abas. O colarinho, mole, fica de pé e é fechado por um único botão, que vai prender numa casa de botão costurada à sua extremidade esquerda. Altura do colarinho: 3 cm. As mangas de costura única terminam na extremidade inferior com uma pequena abertura e punhos que se apertam com uma único botão que entra na casa de botão cosida à extremidade da metade superior do punho".

As autoridades viram nesta jaqueta acolchoada a peça de roupa ideal tanto para o trabalho, como para a guerra. E ela se tornou o uniforme dos construtores do canal Mar Branco-Báltico.

4. Roupa de vagabundos

A telogreika "padrão" era um híbrido da "sibirka" (caftan curto), bem popular entre os comerciantes, e o assim chamado volan, o casaco dos cocheiros. Foi assim que o escritor Guiliarovski descreveu esta peça de vestuário:

"Gordos, em seus ridículos volans de tecido caro, com cintos cosidos de seda, intrépidos olham com orgulho para o público que passa. Os volans surgiram naqueles tempos há muito esquecidos, quando o irritado senhor socava e dava pontapés nas costas do seu servo cocheiro. Nessa altura, o volan, estupidamente forrado de algodão, salvava o cocheiro dos ferimentos."

Curiosamente, os volans se tornaram "uniforme" de vários tipos de vagabundos e valentões. A jaqueta acolchoada suavizava bem os golpes nas brigas, podia salvar de uma facada e, além disso, não prendia os movimentos, o que era importante para os trapaceiros de rua.

5. A roupa do vencedor 

Em 1930, esta peça de roupa começa a ser ativamente promovida no cinema. Por exemplo, no filme de culto “Tchapaev”, os protagonistas Anka e Petia se exibem o tempo todo em seus vatniks. Mas os vatniks aparecerem em outros "blockbusters" da época. No entanto, só a Segunda Guerra é que veio transformar definitivamente a jaqueta acolchoada em verdadeira peça de culto, fazendo dela a roupa dos vencedores. Foi precisamente com a telogreika que a terra soviética se ergueu da destruição do pós-guerra –enquanto nasciam novas cidades e se criava o império soviético. O vatnik podia ser encontrado tanto no guarda-roupa do professor universitário, como de um pastor de vilarejo.

6. Roupa de prisioneiros

Depois da guerra, os vatniks se mantiveram na moda durante muito tempo, mas onde eles mais se difundiram foi nos campos de prisioneiros. Os bolsos internos e externos permitiam aos presos manter junto a si as coisas mais valiosas e, ao mesmo tempo, a jaqueta servia de almofada e de cobertor. A roupa de prisioneiro "com o número" se tornou um marcador distintivo de presos ou exilados. Nas fotos daquela época podemos encontrar Soljenitsin, Chalamov e Brodski com telogreikas.

7. Segundo fôlego

Hoje, praticamente ninguém usa vatniks. Talvez isso se deva ao contexto negativo do final dos anos de 1980. Naquela altura, as pessoas da região do Volga e de Kazan chegavam a Moscou vestindo vatniks. Eram pessoas temidas e todos tentavam evitá-las. Nas costas tinham escrito os nomes das gangues a que pertenciam. Os rapazes das gangues de Kazan iam para Moscou para "ganhar dinheiro". O vatnik era a roupa ideal para os "briguentos", já que não prendia os movimentos e amortecia os golpes.

Mas na abertura dos Jogos Olímpicos de Sôtchi a delegação russa entrou no estádio com uma versão estilizada das telogreikas. No inconsciente coletivo, o vatnik sempre desempenhou um papel unificador, tornando-se talismã e arquétipo do poder.

 

Publicado originalmente pelo Rússkaia Semiórka

http://gazetarussa.com.br/arte/2014/04/12/sete_fatos_sobre_o_vatnik...

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