Porto Alegre, sábado, 17 de agosto de 2013. Atualizado às 18h07.
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Jair Stangler
A notícia de que a Vicunha – um dos mais tradicionais grupos têxteis do Brasil - decidiu fechar sua fábrica de viscose em Americana (SP) foi lamentada por representantes do setor têxtil gaúcho. Para eles, a decisão da Vicunha mostra o impacto que a avalanche dos importados asiáticos tem sobre toda a cadeia produtiva do vestuário e torna clara a necessidade de apoio do governo federal ao setor. A fábrica era a única que produzia fibras de viscose nas Américas.
O diretor do Sindicato das Indústrias Têxteis do Rio Grande do Sul, Daniel Vianna, lembra que a briga é antiga, “vem de décadas”. Apesar disso, avalia, a situação de hoje não é muito diferente da de 10 anos atrás. “Continuamos expostos”, afirma. Ele entende que é cedo para saber como as indústrias vão reagir à decisão da Vicunha. “Vai depender do que vai acontecer em São Paulo”, avalia. Se as tecelagens comprarem mais algodão ou poliéster em vez de importar viscose, essas outras fibras poderiam ter seu preço elevado. A própria viscose poderia ficar mais cara, já que os importadores poderiam aumentar sua margem de lucro.
O presidente da Sultêxtil, João Paulo Reginatto, não acredita nessa hipótese. “Comprava entre 10 e 20 toneladas mensais da Vicunha. Não vai faltar. É até mais barato (comprar dos asiáticos). A maior parte da viscose vem da Ásia. Tudo que vem da Ásia entra com preço muito baixo, e o empresário brasileiro não tem condições de competir”, diz. Segundo ele, quem mais perde é o Brasil. “É uma fábrica a menos, é emprego a menos, renda a menos, tecnologia a menos, uma matéria-prima a menos. Assim, a gente vai somando derrotas”, lamenta o empresário que há 25 anos era cliente da Vicunha. Para ele, o maior problema do setor é a roupa que chega pronta ao País. “Entra muita confecção pronta. Não é só o tecido.”
A presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado do Rio Grande do Sul (Sivergs), Doris Spohr, lembrou o alerta feito pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, para quem a cadeia produtiva do vestuário pode desaparecer se algo não for feito. “As confecções estão fechando. O consumidor quer um produto mais barato, então o lojista vai atrás de um produto mais barato, e o industrial tem de achar soluções para se manter”, afirma.
Para os industriais, a melhor forma de reação à avalanche de importados é a redução da carga tributária. “O custo da indústria no Brasil é muito alto. A carga tributária é o maior problema do empresário brasileiro. Na Ásia, não passa de 20%, enquanto no Brasil beira os 40%. Isso tirou a competitividade da Vicunha”, analisa Reginatto. Já Vianna destacou o trabalho realizado junto a Abit para conseguir diminuir a carga tributária federal sobre o setor. “Estamos pleiteando uma redução do PIS e Cofins, que formam 9,25% hoje”, relata.
A fábrica de Americana operava desde 1949 e havia sido adquirida pelo grupo Vicunha em 1982. Segundo a empresa, 300 funcionários foram demitidos. A importação de fios de viscose duplicou desde 2008. Com isso, a produção nacional caiu, levando a uma menor procura pela fibra. A gota d’água, segundo a Vicunha, foi o aviso dado pelo governo de que não renovaria o aumento da alíquota de importação para os fios da Indonésia e Turquia - maiores produtores do mundo. A empresa também argumentou que as medidas antidumping contra seis países, impostas em 2009, acabaram pouco eficazes, pois os importadores conseguiram contornar a barreira. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que as importações de vestuário subiram 214% entre 2008 e 2012, para US$ 2,2 bilhões.
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