As indústrias têxteis do Brasil e da China começaram ontem, em Pequim, a buscar alternativas em conjunto para conter a enxurrada de exportações chinesas para o mercado brasileiro e criar oportunidades de investimentos bilaterais no setor. O diálogo aberto entre o setor privado, com apoio dos governos, marca uma ruptura na posição até agora das indústrias: a do Brasil, sempre pedindo restrição à importação, e a da China, que cruzava os braços.
Em reunião de cinco horas na capital chinesa, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) apontou aumento de 75% no volume de exportações de têxteis e vestuário chinês para o Brasil entre janeiro e abril, e avisou que esse surto precisa ser contido, porque ameaça a produção no país. "Não podemos absorver o que os Estados Unidos, Europa e Japão deixaram de importar, em plena crise econômica global e quando a palavra-chave é o emprego" afirmou o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel.
A mensagem implícita dada em Pequim foi que, se o ritmo das exportações continuarem, e não houver "entendimento em benefício mútuo", o Brasil terá de usar instrumentos de defesa comercial, como medidas antidumping.
A associação que representa 80% do setor têxtil chinês se dispôs a conversar e criar grupos de trabalho, agora em bases frequentes, mas tem descartado refazer um acordo para restringir "voluntariamente" as exportações para o Brasil, como aconteceu até o ano passado. Alega que tem um problema seríssimo. Das 26 milhões de pessoas que estavam empregadas no setor, já foram demitidas 6 milhões, o que causa tensão mesmo num gigante como a China.
Pimentel disse aos chineses que o Brasil está pronto a receber seus investimentos, notando que até agora eles foram mínimos, comparados ao que o Brasil já investiu na China em têxteis e calçados.
Os chineses retrucaram. Disseram que enviaram uma missão ao Brasil, em 2003, disposta a fazer investimentos, mas não tiveram respaldo do governo brasileiro. Agora dizem que pretendem voltar para explorar possibilidades e checar o que Brasília pode fazer para atrair investimentos.
Por seu lado, os dois governos vão criar um grupo de trabalho para combater operações ilegais, como subfaturamento, triangulação e desvio no comércio bilateral têxtil. "Devemos ficar atento ao desenvolvimento do comércio bilateral, para privilegiar soluções boas para os dois lados", afirmou o diretor de operações de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Luiz Fernando Antonio.
Pimental considerou "muito positiva" a busca de "um entendimento em benefício mútuo", mas reconheceu que a questão agora é ver na prática o resultado do diálogo entre o setor privado. (AM)
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