Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Solilóquio - Uma Reflexão Sobre Formação Têxtil

Eu penso que sei que há carência de mão de obra técnica especializada. Observo a ausência de técnicos e engenheiros para as nossas indústrias, em suas diversas nuances. As manchetes de jornais sinalizam para a necessidade de se importar engenheiros. Uma espécie de volta ao passado, época em que o Brasil importava trabalhadores alemães, italianos e japoneses, entre outros para labutarem em nossas lavouras. A indústria têxtil trouxe em seus primórdios ingleses e americanos para transferirem seus conhecimentos (know-how) aos nossos iniciantes trabalhadores; portanto nada de novo nesta prática. Mas isso aconteceu há anos atrás, meados do século XIX. Não existiam escolas, consequentemente, não havia professores. O país, como incipiente nação, estava sendo formado, éramos uma imensa floresta com restritos buracos de exploração de ouro e diamantes e poucas fazendas produtivas. O que prevalecia era a monocultura da cana de açúcar e o extrativismo de alguma espécie nativa e a exploração de minérios.

Muito tempo se passou, e é por isso a estranheza que causa reviver as mesmas experiências. Pensava ter ultrapassado essa fase. Com tanto Centros Tecnológicos espalhados por aí, tantas faculdades, por que será necessário importar engenheiros?

A resposta é que a demanda é maior do que a oferta. Hum...entendi.

Mas o que me prende a expressar uma posição é que não se pensa na mão de obra do chamado piso de fábrica.

Alguém já parou para pensar como anda o operador, o mecânico ou o ajustador, estes que verdadeiramente estão em contacto direto com o painel eletrônico, o monitor digital ou o controle remoto?

Há dias iniciei um trabalho de qualidade total na “minha” empresa. Fui repassando os conceitos de qualidade, controle de processo, itens de controle, fatores de qualidade, PDCA, etc.

Formei pequenos grupos de pessoas de cada setor. Preparei o material a ser estudado e distribuído. Instalei uma sala com razoável conforto. Estipulei horário de modo que estivesse dentro da jornada normal de trabalho.

Todos os colaboradores têm o ensino médio, portanto, deduzi que a tarefa estaria facilitada, ledo engano.

Percebi que havia dificuldade de assimilação conceitual.

Introduzi uma nova dinâmica para os mecânicos da oficina de serralheria. Decidi interromper o estudo de qualidade e migrar para metrologia. Ainda não consegui completar a etapa. Sistema inglês, polegada, fração... grandes dificuldades.

Não sabem somar ou reduzir frações, e para maior espanto, a tal tabuada é quase inteiramente desconhecida. Casa decimal e movimentação da vírgula na equivalência métrica não são compreendidas.

Aí me remeteu à época em fui conselheiro do SENAI.

O respeitado professor-diretor Adailton da Silva gabava-se de seus resultados com os alunos do ensino médio de sua escola no vestibular da UFSJ.

O SENAI mudou o foco, deixou de ensinar metrologia, TWI, liderança, etc. para preparar alunos para as universidades.

No SENAI-CETIQ não se formam mais os “contramestres”. Foi reduzindo, reduzindo o curso até eliminá-lo por completo. Os nossos contramestres eram formados em curso de dois semestres, depois um semestre e depois desapareceu...

Os técnicos eram “ecléticos”, depois especialistas, depois menos especialistas, depois pouco especializados, agora...sei lá. Focou-se na engenharia. Mas cadê os engenheiros?

A quantidade de fábrica reduziu-se de maneira drástica, então não é só questão de demanda. O quê será então?

Cabem muitas outras reflexões. Solilóquio de aposentado que se mete a voltar a trabalhar.

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Comentário de Tadeu Bastos Gonçalves em 5 maio 2013 às 19:08

É,  José Carlos, mudam os cenários, permanece o roteiro, porém, sem atores. E nós, aposentados, querendo ajudar a mudar o final.

Em 1.994, ainda no auge da atividade profissional, referindo-me as dificuldades para treinar operadores, que nos faziam colar etiquetas coloridas e fazer cartazes indicando o que valiam as cores, cunhei uma expressão que ficou na moda naquela empresa e perdeu-se com o tempo: Síndrome de Golbery, referindo-me a eminência parda dos governos militares, que fizeram o nível de educação chegar ao ponto que comentaste.

A Revista Exame, edição de 01/05, pg. 45, no parágrafo final da reportagem sobre as empresas "X" resume tudo isso: É HORA DE FALAR MENOS E ENTREGAR MAIS.

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