Em poucas áreas a marcha a ré ininterrupta do Brasil compromete tanto o futuro da sociedade quanto na indústria, base do avanço de todos os atuais países desenvolvidos e de alguns emergentes bem-sucedidos. Depois de desacelerar em 2018, o setor recuou 2,7% em 2019, mostra o resultado acumulado até abril. Há quatro meses as expectativas para o PIB de 2019 só pioram e agora se espera um crescimento de apenas 0,93% até dezembro, segundo o boletim Focus do Banco Central divulgado na segunda-feira 17.
“Pode ser que estejamos vendo, em 2019, o mesmo comportamento do último ciclo recessivo. Primeiro, a indústria registra taxas negativas, que se espalham para o conjunto da economia, devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com as outras atividades produtivas. Em seguida, o comércio e depois os serviços entram no vermelho”, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O retrocesso da indústria, prossegue a entidade empresarial, mostra-se bastante difundido nos diversos setores e regiões e isso dificulta sua atribuição a causas pontuais e excepcionais.
Faltam condições favoráveis para a produtividade e o custo do produto industrial e ainda “bases sólidas de dinamização da demanda que possam gerar um processo consistente de recuperação”. Em outras palavras, cabe acrescentar, falta reduzir o desemprego e aumentar o poder aquisitivo para assegurar uma retomada do consumo.
A multiplicidade e o entrelaçamento de causas da crise da indústria são conhecidos, mas “o que não se sabia era o perfil por intensidade tecnológica desta nova fase recessiva”, diz o instituto. A faixa de alta intensidade tecnológica liderou o declínio neste início de ano.
Depois de retroceder 1,5% no quarto trimestre do ano passado, despencou 12,5% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2018. A regressão chegou a 3,2% em 12 meses, o pior desempenho dentre os quatro segmentos por intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia na classificação da OCDE. “Na origem da involução está o complexo eletrônico, com queda de 13%, seguido de perto pela indústria farmacêutica, com -10,6%”, destaca o Iedi.
A indústria de média-alta complexidade, estagnada no quarto trimestre de 2018, passou para o negativo no primeiro trimestre deste ano, com variação de -1,6% diante do mesmo período do ano anterior. O segmento inclui máquinas e equipamentos mecânicos, que recuou 4,6% na comparação entre os primeiros três meses deste ano e igual período do ano passado, máquinas e equipamentos elétricos e produtos químicos (exceto farmacêuticos) “que caem há dois trimestres”.
O setor automobilístico, que já foi líder da recuperação desse grupo e da indústria como um todo, arrefeceu e declinou 0,8% no período de janeiro a março. Cabe acrescentar que a ameaça em janeiro de fechamento da fábrica da General Motors e a desativação anunciada no mês seguinte da montadora da Ford em São Bernardo do Campo espelham as dificuldades da área, no Brasil e no mundo.
Na comparação global, o Brasil vai muito mal, mostra o relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Enquanto o valor de transformação industrial mundial cresceu, no ano passado, 3,6% em valores constantes de 2010, no País o mesmo indicador recuou 0,4%. Com esse encolhimento, a participação no total caiu de 1,91% para 1,83% em 2017 e 2018.
Apesar da queda, continua a ser a nona maior economia industrial do mundo, mas a Indonésia, décima colocada, alcançou quase a mesma posição e tem possibilidade de subir um degrau ainda neste ano e desbancar o Brasil. Em trajetória ascendente, o país oriental aumentou sua parcela de 1,52% em 2005 para 1,58% em 2010, enquanto a fatia do Brasil encolheu de 2,81% para 2,68% no mesmo intervalo, de acordo com a Unido. “O Brasil está ficando para trás”, alerta o Iedi.
https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/09/carros-1-300x205.jpg 300w, https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/09/carros-1... 128w, https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/09/carros-1... 24w, https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/09/carros-1... 36w, https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/09/carros-1... 48w" sizes="(max-width: 400px) 100vw, 400px" data-was-processed="true" />
O avanço da indústria mundial em 2018 foi puxado pelos segmentos de maior intensidade tecnológica, precisamente aqueles mais atingidos pela crise no Brasil. Um problema com sérias repercussões, pois os ramos de alta e média-alta tecnologia são cruciais para a economia por empregarem mão de obra mais qualificada, pagarem salários maiores e formarem o polo mais dinâmico nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Nas primeiras colocações do ranking estão os países mais comprometidos com suas indústrias, muitos deles líderes da atual revolução tecnológica que está na origem da chamada indústria 4.0, sublinha o Iedi. A China, em primeiro lugar com um quarto da manufatura global, é seguida por EUA, Japão, Alemanha, Índia, Coreia do Sul, Itália e França.
Nos países desenvolvidos, destaca o Iedi, o ramo de computadores, eletrônicos e produtos ópticos, que é um veículo para a digitalização do conjunto da economia, ascendeu à posição de segunda maior indústria, com participação de 10,1% no valor de transformação industrial total desse grupo, segundo dados de 2017, e ficou pouco atrás do setor alimentício, este com 10,7%. Em terceiro lugar figurou o segmento de máquinas e equipamentos com 9,9% e, na quarta posição, veículos automotores com 9,3%.
Os casos de maior esgarçamento envolvem eletrônicos, informática e ópticos, outros equipamentos de transportes, química e farmacêutica
Nos países emergentes e em desenvolvimento, prossegue o instituto, computadores, eletrônicos e produtos ópticos ampliaram a participação, de 5,5% para 7,7% entre 2005 e 2017 e são a quarta indústria mais importante, atrás de alimentos, metais básicos e químicos, com fatias de 12,2%, 9,9% e 8,8%.
O Brasil é exceção no grupo, pois o seu valor de transformação industrial concentra-se cada vez mais em ramos distantes da fronteira tecnológica, principalmente no alimentício, que aumentou a sua parcela de 18,3% em 2005 para 22,6% em 2017, enquanto retrocede no ranking de setores tecnologicamente mais dinâmicos, como máquinas e equipamentos, veículos e equipamentos elétricos. “A indústria farmacêutica perdeu a décima quarta colocação de 2005 e deixou de pertencer ao grupo dos 15 maiores parques industriais do segmento”, chama atenção o Iedi.
No comércio internacional de produtos industriais, a participação brasileira, que era mínima, encolheu de 0,8% das exportações totais mundiais de manufaturas em 2006 para 0,6% em 2017.
“A perspectiva para o futuro não é das melhores”, chama atenção o Iedi
No mercado doméstico, a produção nacional foi comprimida pelos importados, mostra a reversão do saldo de balança comercial do setor de transformação de um superávit de 31,4 bilhões de dólares em 2005 para um déficit de 63,6 bilhões em 2014. Esse aumento da penetração de insumos e componentes importados esgarçou o sistema industrial, mostra um estudo feito a pedido do Iedi pelo economista Paulo Morceiro, da USP.
Em poucas áreas a marcha a ré ininterrupta do Brasil compromete tanto o futuro da sociedade quanto na indústria, base do avanço de todos os atuais países desenvolvidos e de alguns emergentes bem-sucedidos. Depois de desacelerar em 2018, o setor recuou 2,7% em 2019, mostra o resultado acumulado até abril. Há quatro meses as expectativas para o PIB de 2019 só pioram e agora se espera um crescimento de apenas 0,93% até dezembro, segundo o boletim Focus do Banco Central divulgado na segunda-feira 17.
“Pode ser que estejamos vendo, em 2019, o mesmo comportamento do último ciclo recessivo. Primeiro, a indústria registra taxas negativas, que se espalham para o conjunto da economia, devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com as outras atividades produtivas. Em seguida, o comércio e depois os serviços entram no vermelho”, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O retrocesso da indústria, prossegue a entidade empresarial, mostra-se bastante difundido nos diversos setores e regiões e isso dificulta sua atribuição a causas pontuais e excepcionais.
Faltam condições favoráveis para a produtividade e o custo do produto industrial e ainda “bases sólidas de dinamização da demanda que possam gerar um processo consistente de recuperação”. Em outras palavras, cabe acrescentar, falta reduzir o desemprego e aumentar o poder aquisitivo para assegurar uma retomada do consumo.
A multiplicidade e o entrelaçamento de causas da crise da indústria são conhecidos, mas “o que não se sabia era o perfil por intensidade tecnológica desta nova fase recessiva”, diz o instituto. A faixa de alta intensidade tecnológica liderou o declínio neste início de ano.
Depois de retroceder 1,5% no quarto trimestre do ano passado, despencou 12,5% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2018. A regressão chegou a 3,2% em 12 meses, o pior desempenho dentre os quatro segmentos por intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia na classificação da OCDE. “Na origem da involução está o complexo eletrônico, com queda de 13%, seguido de perto pela indústria farmacêutica, com -10,6%”, destaca o Iedi.
A indústria de média-alta complexidade, estagnada no quarto trimestre de 2018, passou para o negativo no primeiro trimestre deste ano, com variação de -1,6% diante do mesmo período do ano anterior. O segmento inclui máquinas e equipamentos mecânicos, que recuou 4,6% na comparação entre os primeiros três meses deste ano e igual período do ano passado, máquinas e equipamentos elétricos e produtos químicos (exceto farmacêuticos) “que caem há dois trimestres”.
O setor automobilístico, que já foi líder da recuperação desse grupo e da indústria como um todo, arrefeceu e declinou 0,8% no período de janeiro a março. Cabe acrescentar que a ameaça em janeiro de fechamento da fábrica da General Motors e a desativação anunciada no mês seguinte da montadora da Ford em São Bernardo do Campo espelham as dificuldades da área, no Brasil e no mundo.
Na comparação global, o Brasil vai muito mal, mostra o relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Enquanto o valor de transformação industrial mundial cresceu, no ano passado, 3,6% em valores constantes de 2010, no País o mesmo indicador recuou 0,4%. Com esse encolhimento, a participação no total caiu de 1,91% para 1,83% em 2017 e 2018.
Apesar da queda, continua a ser a nona maior economia industrial do mundo, mas a Indonésia, décima colocada, alcançou quase a mesma posição e tem possibilidade de subir um degrau ainda neste ano e desbancar o Brasil. Em trajetória ascendente, o país oriental aumentou sua parcela de 1,52% em 2005 para 1,58% em 2010, enquanto a fatia do Brasil encolheu de 2,81% para 2,68% no mesmo intervalo, de acordo com a Unido. “O Brasil está ficando para trás”, alerta o Iedi.
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O avanço da indústria mundial em 2018 foi puxado pelos segmentos de maior intensidade tecnológica, precisamente aqueles mais atingidos pela crise no Brasil. Um problema com sérias repercussões, pois os ramos de alta e média-alta tecnologia são cruciais para a economia por empregarem mão de obra mais qualificada, pagarem salários maiores e formarem o polo mais dinâmico nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Nas primeiras colocações do ranking estão os países mais comprometidos com suas indústrias, muitos deles líderes da atual revolução tecnológica que está na origem da chamada indústria 4.0, sublinha o Iedi. A China, em primeiro lugar com um quarto da manufatura global, é seguida por EUA, Japão, Alemanha, Índia, Coreia do Sul, Itália e França.
Nos países desenvolvidos, destaca o Iedi, o ramo de computadores, eletrônicos e produtos ópticos, que é um veículo para a digitalização do conjunto da economia, ascendeu à posição de segunda maior indústria, com participação de 10,1% no valor de transformação industrial total desse grupo, segundo dados de 2017, e ficou pouco atrás do setor alimentício, este com 10,7%. Em terceiro lugar figurou o segmento de máquinas e equipamentos com 9,9% e, na quarta posição, veículos automotores com 9,3%.
Os casos de maior esgarçamento envolvem eletrônicos, informática e ópticos, outros equipamentos de transportes, química e farmacêutica
Nos países emergentes e em desenvolvimento, prossegue o instituto, computadores, eletrônicos e produtos ópticos ampliaram a participação, de 5,5% para 7,7% entre 2005 e 2017 e são a quarta indústria mais importante, atrás de alimentos, metais básicos e químicos, com fatias de 12,2%, 9,9% e 8,8%.
O Brasil é exceção no grupo, pois o seu valor de transformação industrial concentra-se cada vez mais em ramos distantes da fronteira tecnológica, principalmente no alimentício, que aumentou a sua parcela de 18,3% em 2005 para 22,6% em 2017, enquanto retrocede no ranking de setores tecnologicamente mais dinâmicos, como máquinas e equipamentos, veículos e equipamentos elétricos. “A indústria farmacêutica perdeu a décima quarta colocação de 2005 e deixou de pertencer ao grupo dos 15 maiores parques industriais do segmento”, chama atenção o Iedi.
No comércio internacional de produtos industriais, a participação brasileira, que era mínima, encolheu de 0,8% das exportações totais mundiais de manufaturas em 2006 para 0,6% em 2017.
“A perspectiva para o futuro não é das melhores”, chama atenção o Iedi
No mercado doméstico, a produção nacional foi comprimida pelos importados, mostra a reversão do saldo de balança comercial do setor de transformação de um superávit de 31,4 bilhões de dólares em 2005 para um déficit de 63,6 bilhões em 2014. Esse aumento da penetração de insumos e componentes importados esgarçou o sistema industrial, mostra um estudo feito a pedido do Iedi pelo economista Paulo Morceiro, da USP.
“A questão é da maior importância porque o avanço de insumos importados nas cadeias produtivas, embora possa contribuir para o crescimento da produtividade e competitividade da economia, também pode ter efeito negativo sobre os fornecedores domésticos, reduzir os encadeamentos intersetoriais e limitar o desenvolvimento tecnológico, que passa, cada vez mais, a ser conduzido pelos fornecedores estrangeiros dos componentes principais. Além disso, ao reduzir a transformação industrial, aumenta as etapas de montagem com uso de mão de obra pouco qualificada e de baixos salários, provocando, desse modo, menor geração de valor adicionado”, sublinha o Iedi.
A manufatura brasileira apresentou um aumento significativo no coeficiente de importação de insumos e componentes comercializáveis entre 2003 e 2014, de 16,5% para 24,4% na indústria de transformação. Na origem desse resultado está a elevação específica do coeficiente de importação da categoria de alta e média-alta intensidade tecnológica, de 26,3% para 38,7%.
“Ao detalhar o panorama, levando-se em conta 258 classes industriais, o estudo inédito de Morceiro mostra que mais da metade das fábricas de alta e média-alta intensidade tecnológica possui conteúdo importado de insumos intermediários de moderado a elevado. Os casos de maior esgarçamento envolvem eletrônicos, informática e ópticos, outros equipamentos de transportes, química e farmacêutica. Parte expressiva desses setores assemelha-se a uma maquiladora”, sintetiza o Iedi.
“Isso ocorre na indústria de maior tecnologia”, prossegue, “porque nas últimas décadas o Brasil perdeu competitividade em preço, devido aos períodos longos de apreciação cambial, do custo Brasil e do aumento da competitividade dos concorrentes estrangeiros. Certamente, a perda de competitividade tecnológica também contribui para explicar as áreas em que o conteúdo importado é maior”, analisa a entidade.
“Assim, sempre que a fronteira tecnológica se expande, como está ocorrendo novamente com a ascensão da indústria 4.0, as importações brasileiras aumentam para suprir a nova demanda das empresas e dos consumidores por insumos intermediários avançados e produtos novos.”
“A perspectiva para o futuro não é das melhores”, chama atenção o Iedi. “O País precisa urgentemente de uma política industrial moderna para não perder, de novo, as janelas de oportunidade que se abrem no início de uma nova revolução industrial e para não ficar permanentemente para trás na corrida do desenvolvimento.”
Em poucas áreas a marcha a ré ininterrupta do Brasil compromete tanto o futuro da sociedade quanto na indústria, base do avanço de todos os atuais países desenvolvidos e de alguns emergentes bem-sucedidos. Depois de desacelerar em 2018, o setor recuou 2,7% em 2019, mostra o resultado acumulado até abril. Há quatro meses as expectativas para o PIB de 2019 só pioram e agora se espera um crescimento de apenas 0,93% até dezembro, segundo o boletim Focus do Banco Central divulgado na segunda-feira 17. “Pode ser que estejamos vendo, em 2019, o mesmo comportamento do último ciclo recessivo. Primeiro, a indústria registra taxas negativas, que se espalham para o conjunto da economia, devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com as outras atividades produtivas. Em seguida, o comércio e depois os serviços entram no vermelho”, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O retrocesso da indústria, prossegue a entidade empresarial, mostra-se bastante difundido nos diversos setores e regiões e isso dificulta sua atribuição a causas pontuais e excepcionais. Faltam condições favoráveis para a produtividade e o custo do produto industrial e ainda “bases sólidas de dinamização da demanda que possam gerar um processo consistente de recuperação”. Em outras palavras, cabe acrescentar, falta reduzir o desemprego e aumentar o poder aquisitivo para assegurar uma retomada do consumo.
A multiplicidade e o entrelaçamento de causas da crise da indústria são conhecidos, mas “o que não se sabia era o perfil por intensidade tecnológica desta nova fase recessiva”, diz o instituto. A faixa de alta intensidade tecnológica liderou o declínio neste início de ano. Depois de retroceder 1,5% no quarto trimestre do ano passado, despencou 12,5% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2018. A regressão chegou a 3,2% em 12 meses, o pior desempenho dentre os quatro segmentos por intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia na classificação da OCDE. “Na origem da involução está o complexo eletrônico, com queda de 13%, seguido de perto pela indústria farmacêutica, com -10,6%”, destaca o Iedi.
A indústria de média-alta complexidade, estagnada no quarto trimestre de 2018, passou para o negativo no primeiro trimestre deste ano, com variação de -1,6% diante do mesmo período do ano anterior. O segmento inclui máquinas e equipamentos mecânicos, que recuou 4,6% na comparação entre os primeiros três meses deste ano e igual período do ano passado, máquinas e equipamentos elétricos e produtos químicos (exceto farmacêuticos) “que caem há dois trimestres”. O setor automobilístico, que já foi líder da recuperação desse grupo e da indústria como um todo, arrefeceu e declinou 0,8% no período de janeiro a março. Cabe acrescentar que a ameaça em janeiro de fechamento da fábrica da General Motors e a desativação anunciada no mês seguinte da montadora da Ford em São Bernardo do Campo espelham as dificuldades da área, no Brasil e no mundo.
Na comparação global, o Brasil vai muito mal, mostra o relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Enquanto o valor de transformação industrial mundial cresceu, no ano passado, 3,6% em valores constantes de 2010, no País o mesmo indicador recuou 0,4%. Com esse encolhimento, a participação no total caiu de 1,91% para 1,83% em 2017 e 2018. Apesar da queda, continua a ser a nona maior economia industrial do mundo, mas a Indonésia, décima colocada, alcançou quase a mesma posição e tem possibilidade de subir um degrau ainda neste ano e desbancar o Brasil. Em trajetória ascendente, o país oriental aumentou sua parcela de 1,52% em 2005 para 1,58% em 2010, enquanto a fatia do Brasil encolheu de 2,81% para 2,68% no mesmo intervalo, de acordo com a Unido. “O Brasil está ficando para trás”, alerta o Iedi.
O avanço da indústria mundial em 2018 foi puxado pelos segmentos de maior intensidade tecnológica, precisamente aqueles mais atingidos pela crise no Brasil. Um problema com sérias repercussões, pois os ramos de alta e média-alta tecnologia são cruciais para a economia por empregarem mão de obra mais qualificada, pagarem salários maiores e formarem o polo mais dinâmico nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Nas primeiras colocações do ranking estão os países mais comprometidos com suas indústrias, muitos deles líderes da atual revolução tecnológica que está na origem da chamada indústria 4.0, sublinha o Iedi. A China, em primeiro lugar com um quarto da manufatura global, é seguida por EUA, Japão, Alemanha, Índia, Coreia do Sul, Itália e França.
Nos países desenvolvidos, destaca o Iedi, o ramo de computadores, eletrônicos e produtos ópticos, que é um veículo para a digitalização do conjunto da economia, ascendeu à posição de segunda maior indústria, com participação de 10,1% no valor de transformação industrial total desse grupo, segundo dados de 2017, e ficou pouco atrás do setor alimentício, este com 10,7%. Em terceiro lugar figurou o segmento de máquinas e equipamentos com 9,9% e, na quarta posição, veículos automotores com 9,3%.
Nos países emergentes e em desenvolvimento, prossegue o instituto, computadores, eletrônicos e produtos ópticos ampliaram a participação, de 5,5% para 7,7% entre 2005 e 2017 e são a quarta indústria mais importante, atrás de alimentos, metais básicos e químicos, com fatias de 12,2%, 9,9% e 8,8%. O Brasil é exceção no grupo, pois o seu valor de transformação industrial concentra-se cada vez mais em ramos distantes da fronteira tecnológica, principalmente no alimentício, que aumentou a sua parcela de 18,3% em 2005 para 22,6% em 2017, enquanto retrocede no ranking de setores tecnologicamente mais dinâmicos, como máquinas e equipamentos, veículos e equipamentos elétricos. “A indústria farmacêutica perdeu a décima quarta colocação de 2005 e deixou de pertencer ao grupo dos 15 maiores parques industriais do segmento”, chama atenção o Iedi.
No comércio internacional de produtos industriais, a participação brasileira, que era mínima, encolheu de 0,8% das exportações totais mundiais de manufaturas em 2006 para 0,6% em 2017. No mercado doméstico, a produção nacional foi comprimida pelos importados, mostra a reversão do saldo de balança comercial do setor de transformação de um superávit de 31,4 bilhões de dólares em 2005 para um déficit de 63,6 bilhões em 2014. Esse aumento da penetração de insumos e componentes importados esgarçou o sistema industrial, mostra um estudo feito a pedido do Iedi pelo economista Paulo Morceiro, da USP.
“A questão é da maior importância porque o avanço de insumos importados nas cadeias produtivas, embora possa contribuir para o crescimento da produtividade e competitividade da economia, também pode ter efeito negativo sobre os fornecedores domésticos, reduzir os encadeamentos intersetoriais e limitar o desenvolvimento tecnológico, que passa, cada vez mais, a ser conduzido pelos fornecedores estrangeiros dos componentes principais. Além disso, ao reduzir a transformação industrial, aumenta as etapas de montagem com uso de mão de obra pouco qualificada e de baixos salários, provocando, desse modo, menor geração de valor adicionado”, sublinha o Iedi.
A manufatura brasileira apresentou um aumento significativo no coeficiente de importação de insumos e componentes comercializáveis entre 2003 e 2014, de 16,5% para 24,4% na indústria de transformação. Na origem desse resultado está a elevação específica do coeficiente de importação da categoria de alta e média-alta intensidade tecnológica, de 26,3% para 38,7%.
“Ao detalhar o panorama, levando-se em conta 258 classes industriais, o estudo inédito de Morceiro mostra que mais da metade das fábricas de alta e média-alta intensidade tecnológica possui conteúdo importado de insumos intermediários de moderado a elevado. Os casos de maior esgarçamento envolvem eletrônicos, informática e ópticos, outros equipamentos de transportes, química e farmacêutica. Parte expressiva desses setores assemelha-se a uma maquiladora”, sintetiza o Iedi.
“Isso ocorre na indústria de maior tecnologia”, prossegue, “porque nas últimas décadas o Brasil perdeu competitividade em preço, devido aos períodos longos de apreciação cambial, do custo Brasil e do aumento da competitividade dos concorrentes estrangeiros. Certamente, a perda de competitividade tecnológica também contribui para explicar as áreas em que o conteúdo importado é maior”, analisa a entidade.
“Assim, sempre que a fronteira tecnológica se expande, como está ocorrendo novamente com a ascensão da indústria 4.0, as importações brasileiras aumentam para suprir a nova demanda das empresas e dos consumidores por insumos intermediários avançados e produtos novos.”
“A perspectiva para o futuro não é das melhores”, chama atenção o Iedi. “O País precisa urgentemente de uma política industrial moderna para não perder, de novo, as janelas de oportunidade que se abrem no início de uma nova revolução industrial e para não ficar permanentemente para trás na corrida do desenvolvimento.”
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