“Meu nome é Camila Carvalho, eu moro no 208 e preciso de um desentupidor de pia.”
Foi com esse apelo, escrito numa cartolina desbotada, que a estudante de comunicação social Camila Carvalho procurava resolver um problema para o qual a hoje empreendedora Camila Carvalho deu solução.
Carvalho, que mora no Rio, lançou há um mês o site Tem Açúcar?, uma rede social que permite a vizinhos emprestar e doar qualquer coisa uns aos outros.
O Tem Açúcar? já tem 18 mil usuários em 580 cidades, do Rio a Manaus, de Recife a Porto Alegre.
Antes de permitir que os empréstimos comecem, o site tenta criar uma rede de pelo menos 13 pessoas em cada bairro.
Se este número ainda não tiver sido atingido, ao fazer o seu cadastro no site o usuário recebe a mensagem de que “seu bairro ainda está bloqueado.” Isso faz com que a pessoa chame os vizinhos e amigos a entrar na rede, para que a coisa comece a fluir.
Depois de se cadastrar, o usuário recebe emails do site com os pedidos de empréstimo (ou doação) feitos por outros usuários.
Numa era dominada por redes sociais de todos os tipos, o Tem Açúcar? tenta viabilizar duas coisas: a economia doméstica e a redução do que pode ser um consumo desnecessário.
“Às vezes você precisa de uma furadeira,” Carvalho exemplifica. “Sabia que calcula-se que uma furadeira seja usada no máximo por 15 minutos na sua vida útil inteira? Imagina a quantidade de matéria prima, a energia gasta com produção e o transporte de uma furadeira para ser usada apenas por 15 minutos!”
Sites como o Tem Açúcar? são parte de um movimento crescente conhecido como ‘sharing economy’, ou ‘economia do compartilhamento.’ O papa do assunto é a australiana Rachel Botsman, autora de um livro influente chamado “What’s Mine is Yours: The Rise of Collaborative Consumption” (no Brasil: “O que é meu é seu: Como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo”; Bookman Editora).
Os sites mais ilustres que nasceram inspirados pela filosofia da economia de compartilhamento são o Airbnb, de compartilhamento de imóveis, e o Uber, que coloca o seu carro a serviço de terceiros.
No Brasil, outros sites desta escola incluem o Quintal de Trocas, para troca de brinquedos, o Tripda, para caronas, e o Borajunto (compartilhamento de taxis).
Um outro site, o Bliive, se define assim: “O mundo tem 1 trilhão de horas ociosas por ano e elas poderiam ser usadas para fazer coisas incríveis. Bem-vindo ao Bliive, a rede de troca de tempo.” Um painel completo dos sites que viabilizam trocas está aqui.
“O consumo colaborativo sempre existiu, mas agora estamos vivendo uma grande expansão deste fenômeno devido a novas tecnologias que conectam diretamente milhões de pessoas,” diz o especialista em economia colaborativa Tomás de Lara. “Diversos negócios estão nascendo desta nova maneira de se relacionar com a posse, e diversos negócios tradicionais irão acabar em decorrência disto.”
Não está claro ainda como o Tem Açúcar? vai ganhar dinheiro.
Como é de se esperar, o modelo de negócios ainda está engatinhando, e quase todas as formas de monetização ainda são experimentais.
Existe, por exemplo, o financiamento coletivo, no qual os usuários contribuem mensalmente o valor com o qual se sentem confortáveis. O site também poderá ter uma ferramenta que calcula quanto, aproximadamente, o usuário economizou usando o Tem Açúcar? e, se o usuário quiser, pode doar uma parte dessa economia para o site. Finalmente, há o modelo ‘freemium’, já usado nos sites de alguns jornais, por exemplo. Neste modelo, o site é de graça, mas a utilização otimizada de algumas ferramentas só pode ser feita mediante um valor.
Muita gente acha que por detrás daquele açúcar emprestado na hora do aperto, vão surgir paqueras e romance entre vizinhos, transformando o Tem Açúcar? numa espécie de Tinder (o app de pegação) da vizinhança.
Hoje sem namorado, Carvalho ri da ideia: “Tomara.”
Por Geraldo Samor
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