Digitalização, foco no cliente e personalização redefinem o setor de energia.
Um dos pilares da economia global, o setor de energia enfrenta desafios históricos que vão muito além da simples geração e distribuição. As empresas do segmento precisam adotar tecnologias avançadas para melhorar eficiência operacional, mitigar impactos ambientais e oferecer melhores experiências ao cliente. Tudo isso em um cenário de pressão por sustentabilidade e margens de lucro que nem sempre permitem grandes experimentos.
Da modernização das redes de distribuição à integração de fontes renováveis, passando pela digitalização dos processos internos, as organizações buscam equilibrar crescimento, acessibilidade e eficiência. Mas, como inovar em um setor tão tradicional, no qual a falta de investimento ou erros podem significar apagões, crises hídricas ou impactos na economia?
A resposta está na convergência de tecnologia, dados e uma visão centrada no cliente. Se no passado a prioridade era a infraestrutura física, hoje o foco é em inteligência, integração, automação e personalização.
Segundo o estudo “Antes da TI, a Estratégia” 2024, do IT Forum, o setor de energia, siderurgia, metalurgia e mineração aponta como principais áreas de investimento em tecnologia cibersegurança (85%), automação de processos/RPA (78%), ERP (78%), Internet das coisas (IoT) (78%) e PCs (78%). No panorama geral do mercado, os três temas que lideram a agenda de investimentos das empresas são ERP (43%), automação de processos/RPA (36%) e cibersegurança (36%).
De acordo com Paulo Cunha, diretor-geral para setor público da AWS Brasil, empresas e grupos nacionais estão adquirindo assets no setor e realizando fusões para consolidar operações e abrir novos caminhos neste mercado. “Esse movimento obriga as companhias a repensarem seus modelos de negócios. Apesar de estarem em uma jornada de dados mais lenta em comparação com outros setores, vemos a abertura de mercado como uma grande força motriz para essa transformação”, explica.
Outro ponto crítico no setor é a adaptação regulatória. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) tem exercido um rigor crescente em relação à interface com o consumidor, e, nesse cenário, soluções de IA generativa estão ganhando relevância. “A IA está sendo usada em dois pilares: operações, para maior eficiência, e agências virtuais, que ajudam a atender normativas de forma ágil. Esse mapeamento do setor está no centro de nossa estratégia”, afirma o executivo.
A experiência do cliente, por muito tempo deixada na prateleira no setor de energia, está ganhando protagonismo. Os consumidores esperam confiabilidade no fornecimento e soluções altamente personalizadas, maior transparência e um atendimento mais ágil. Esse movimento, impulsionado pela digitalização, está transformando a forma como as empresas interagem com seus usuários.
Um exemplo é o avanço dos medidores inteligentes (smart meters), que permitem aos consumidores monitorarem seu consumo em tempo real e tomar decisões mais informadas sobre o uso de energia. A Enel São Paulo, que sofreu com apagões em São Paulo em 2024, informou recentemente que instalou mais de 1,2 milhão desses dispositivos em sua área de concessão.
“A medição inteligente abre um novo capítulo na relação entre consumidor e fornecedor de energia. Ela oferece maior controle e autonomia aos clientes, ao mesmo tempo em que melhora a eficiência operacional da empresa”, destacou em comunicado Guilherme Dutil, responsável pela área de medição da Enel Brasil.
Apesar dos benefícios, a adoção dessa tecnologia enfrenta desafios. A implementação é cara, e a segurança cibernética se torna uma preocupação crescente. Infraestruturas digitais robustas são fundamentais para proteger os dados dos consumidores e garantir a resiliência do sistema contra ciberataques.
A Sabesp, recentemente privatizada e centro de discussões por conta de um ataque cibernético, revelou neste ano durante o SAP Now, da SAP, em São Paulo, que está apostando em tecnologia e sustentabilidade para transformar suas operações. A adoção do SAP S/4 HANA, um sistema integrado de gestão, é parte central dessa estratégia.
No setor de gás, a Copa Energia também desafia os paradigmas de uma indústria historicamente conservadora. Após a fusão entre Copa Gás e Liquigás, a empresa priorizou a sinergia operacional e agora direciona esforços para a transformação digital.
Claudia Marquesani, CIO da Copa Energia, explica que nos últimos dois anos, a Copa Energia consolidou-se como líder na distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP) no Brasil. O foco inicial foi criar sinergias operacionais entre as empresas. “Como toda escolha implica em uma renúncia, algumas iniciativas tecnológicas ficaram para trás.
Estamos focados agora na jornada para a nuvem, investimento em dados, análises preditivas e inteligência artificial. Tudo isso sendo trabalhado desde a minha chegada”, explica Claudia, que se juntou à Copa Energia há alguns meses.
A executiva ressalta os desafios de equilibrar investimentos com resultados rápidos, especialmente em um setor com margens apertadas. “É preciso priorizar iniciativas que tragam retorno estratégico, sem perder de vista o alinhamento com as expectativas do cliente e do board.”
A principal missão de Claudia, portanto, é reduzir o gap tecnológico da Copa Energia para entregar um trabalho centrado no cliente. Com um foco definido para 2025, a empresa pretende melhorar seu posicionamento junto aos consumidores, segmentando-os melhor e garantindo que o produto chegue de forma mais eficaz às suas casas.
“Esses são projetos estruturantes de transformação digital, que incluem também o redesenho da equipe. Estamos começando a trabalhar com times ambidestros para entregar de forma mais contínua, especialmente com foco em pilares como IA, eficácia das operações, jornada do cliente e do colaborador”, detalha a executiva.
A implementação de Provas de Conceito (POCs) de IA generativa para colaboradores é uma das iniciativas em andamento. “Estamos trabalhando na fundamentação, priorizando o que é digital e primordial com foco no cliente, ao mesmo tempo em que pensamos em modelos de escala para 2026 e 2027”, acrescenta.
Mesmo com o apoio do board e um aumento orçamentário não revelado, Claudia revela que é necessário priorizar iniciativas que tragam retorno significativo. “Quando cheguei, identifiquei quase 200 gaps de execução. Filtramos e priorizamos o que era essencial e onde poderíamos focar, sempre tomando cuidado com o retorno do investimento”, afirma.
Nesse cenário, a priorização de atividades estruturantes é crucial. “Mais do que isso, estamos investindo forte em comunicação. Não existe área de negócios insatisfeita com tecnologia; existe área de negócios não comunicada”, enfatiza.
Para garantir o alinhamento entre tecnologia e negócios, Claudia destaca a importância de um plano diretor bem consolidado e patrocinado pelo comitê executivo da empresa. “Procuro criar bons pontos de contato com a área de negócios para que possamos fazer uma construção conjunta. Autonomia é diferente de anarquia; precisamos de controle para escalar”, alerta.
Claudia enfatiza que as pessoas são o centro da estratégia da Copa Energia. “Se não há uma camada tática que consiga aproximar o negócio e fazer desdobramentos, é como se faltassem soldados no exército. O desenho estratégico da equipe e a forma operacional a partir de uma perspectiva tática são superimportantes”, ressalta.
A executiva busca profissionais não apenas com habilidades técnicas, mas também com competências comportamentais. “Procuramos resiliência e capacidade transformacional. É preciso elevar o ‘querer’ em todos os níveis”, observa.
Ela também destaca a importância de gerenciar expectativas realistas. “Ter uma camada tática e expectativas alinhadas é fundamental. Além disso, ao entrar em uma indústria que precisa eliminar o déficit de transformação e alcançar outro patamar tecnológico, é necessário saber quais batalhas escolher primeiro e alinhar isso com os stakeholders”, aconselha ela.
A Copa Energia está investindo em projetos de IA preditiva que prometem levar a empresa a outro nível, especialmente na previsão de demanda e na otimização da distribuição de produtos. “Esses projetos, que nasceram na área de inovação, visam melhorar a eficiência das operações e reduzir riscos, tudo pautado em tecnologia e na criação de um modelo digital”, explica Claudia.
A definição de personas e a disponibilização eficaz de produtos são outras frentes de atuação. “Ninguém quer cozinhar e acabar o gás. Ser preditivo é essencial. Queremos aproximar os clientes da empresa, mas também precisamos ser cuidadosos, pois as revendas são importantes para nós. Faz parte da estratégia trazer o consumidor final sem prejudicar nossos parceiros. Isso seria o estado da arte”, afirma.
Com uma trajetória pautada pela valorização das pessoas, Claudia traz na bagagem a experiência de ter liderado processos de transformação na Petz. “Sempre acreditei que a tecnologia é feita de pessoas, para pessoas e por pessoas. A humanização está no centro de tudo. Gosto mais de gente do que de computador”, confessa.
Na Copa Energia, ela pretende aplicar essa filosofia para criar uma esteira de produtos digitais que realmente façam a diferença. “Humanização e experiência anterior são os principais fatores que ajudam nessa jornada. Queremos que a tecnologia seja um facilitador, não um obstáculo”, destaca.
Agora, a Copa Energia está trilhando um caminho que busca equilibrar tradição e inovação. Com um olhar atento para as necessidades dos clientes e dos colaboradores, e um foco estratégico em projetos que agregam valor real ao negócio, a empresa pretende redefinir os padrões no setor de GLP.
“Estamos construindo uma base sólida para escalar nossos produtos digitais de maneira rápida e profissionalizada. É um processo que exige paciência, comunicação e, principalmente, pessoas comprometidas com a transformação”, pondera Claudia.
No campo da sustentabilidade, a Copa Energia conta com uma área de inovação dedicada a explorar diversos temas, como a transição energética. Essa área realiza testes e estreita laços com universidades, permitindo à empresa acessar pesquisas de ponta e tendências emergentes. Após essa fase exploratória, a Copa Energia avalia como escalar essas iniciativas de forma governada e sustentável. Essa proximidade com o ambiente acadêmico cria uma “ambidestria” organizacional, na qual a empresa consegue inovar olhando para fora, incorporando novas ideias, e ao mesmo tempo manter suas operações estáveis e eficientes.
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