Eike Batista troca o comando da OGX para responder aos desafios de uma "nova fase em que a produção adquire especial importância" (Antonio Scorza/AFP)
Para analistas, há exagero nas perdas impostas pelo mercado às ações da petrolífera de Eike. Isso não significa, contudo, que os prejuízos acabaram
As ações da OGX, petrolífera do bilionário brasileiro Eike Batista, fe... nesta quinta-feira, dois dias após o frustrante anúncio de que a empresa produzirá “apenas” 5 mil barris/dia em seus poços de Tubarão Azul, na bacia de Campos. O tombo na bolsa de valores teve consequências imediatas na gestão da empresa. No começo da noite, o conselho de administração divulgou comunicado anunciando a substituição de Paulo Mendonça por Luiz Eduardo Guimarães Carneiro na presidência da OGX. A decisão foi tomada, segundo a companhia, para responder aos desafios de uma "nova fase em que a produção adquire especial importância, sem qualquer prejuízo da continuidade da campanha exploratória". Mendonça ocupou a presidência da OGX por dois meses e agora terá um assento no conselho da administração da EBX. Carneiro antes presidia a OSX, empresa de Eike voltada ao setor naval.
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Paulo Mendonça será conselheiro da EBX
A troca de comando ainda não foi avaliada pelo mercado, pois o fato relevante foi divulgado após o encerramento dos negócios. Os dois dias de turbulência na Bovespa, contudo, foram intensamente analisados pelos economistas. Segundo o analista Erick Scott, da SLW Corretora, há certo exagero na punição imposta pelos investidores aos papeis da empresa. Isso não significa, contudo, que os prejuízos estão perto do fim. “Se utilizarmos a métrica do valor patrimonial, comparando-a com outras empresas do setor, a OGX ainda pode perder mais”, explica. Segundo Scott, a relação entre o valor de mercado da empresa e o valor patrimonial está em 2,7, enquanto esse quociente para a Petrobras, por exemplo, é de 0,7. “O papel vai ficar pressionado até que a empresa mostre algum tipo de reversão nessa situação”, diz o analista.
Uma reversão deste quadro, no entanto, implica que os investidores voltem a confiar nos prognósticos traçados por Eike Batista para suas empresas “X” – algo que está fora de questão para muitos deles devido a um histórico de informações superdimensionadas ou contraditórias nos últimos tempos. Há cerca de um mês, por exemplo, o presidente da própria OGX, Paulo Mendonça, deixou escapar que a capacidade de um poço da companhia em via de ser explorado não passava de 8 mil barris/dia. Como a última promessa da empresa era de uma produção de 13 mil barris diários, o mercado sentiu-se traído e as ações da petrolífera de Eike despencaram 8% em apenas um dia. Rapidamente, a assessoria de comunicação da empresa tratou de acalmar os ânimos de jornalistas e investidores, afirmando tratar-se de uma informação mal interpretada. “Como já havia um histórico, o anúncio de 5 mil barris/dia foi a gota d’água. Por isso a confiança foi minada”, diz Scott.
Entre quarta e quinta-feira, as ações das empresas de Eike caíram 39,67%, somando perdas de 10,74 bilhões de reais em valor de mercado – reduzindo ainda mais o patrimônio do bilionário brasileiro. Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a punição dos investidores aos papéis da petroleira foi exagerada. “Produzir 5 mil barris por dia não é pouco para uma empresa iniciante. É uma quantidade muito alta. O problema é que as promessas foram exageradas também O investidor está agora respondendo com igual exagero na punição”, afirma.
Mercado também é culpado – Na avaliação de Pires, o mercado é tão culpado quanto Eike pela atual situação das ações do grupo. O especialista acredita que o bilionário vendeu um projeto como se fosse pouco arriscado e com reduzida margem de erro na avaliação de capacidade. O mercado, por um misto de entusiasmo, 'efeito manada' e inocência, comprou. “O problema é que quem trabalha com óleo e gás sabe quem há mais incertezas que certezas. É um investimento muito arriscado. Mas os analistas e investidores aprovaram o discurso do Eike e elevaram o preço das ações a um patamar muito mais alto do que deveriam”, diz Pires.
Além da incerteza que faz parte da natureza do negócio, a OGX agrega outros elementos de indefinição. Primeiramente, os campos adquiridos por Eike foram descartados pela Petrobras, o que deixa antever o risco de não serem altamente produtivos – neste caso, muito provavelmente, a estatal ia querer continuar com eles. O segundo ponto que aumenta a percepção de risco da empresa é justamente o fato de hoje ser administrada por um empresário que não tem expertise no ramo petrolífero. “Estamos falando de uma empresa brasileira que atua num mercado muito complicado. Parece que Eike Batista empolgou-se com o negócio e acho que encontrar petróleo poderia ser algo mais simples. A realidade, no entanto, é dura. Os números evidenciam isso”, explica Pires. “A OGX não cumpriu o que prometeu, mas está produzindo. Para uma empresa brasileira de cinco anos, isso já é um feito”, acrescenta, destacando o mérito do empresário de ter coragem de erguer um negócio num setor de alto risco.
Aprendizagem – Os analistas ouvidos por VEJA afirmam que o mercado passa agora por um momento de aprendizagem. Apostar em uma empresa nacional 100% privada, posicionada para atuar no promissor mercado petrolífero brasileiro, é algo tentador. A capacidade de Eike Batista de erguer grandes negócios e fazer fortuna, aliada ao seu carisma, também ajuda a entender como tantos acreditaram ser possível multiplicar seus investimentos por meio dos “X’s” das empresas do bilionário. As últimas informações sobre as companhias, coroadas pela redução da projeção de produção inicial no campo de Tubarão Azul, e o fato de as ações estarem em queda desde o início do ano mostram um amadurecimento por parte do mercado. Os papéis da OGX, punidos nos últimos dias, até podem recuperar parte de seu brilho, mas não serão os mesmos de seus primeiros dias de pregão. A petroleira, que chegou à Bovespa quatro anos atrás, valia 44 bilhões de reais em dezembro de 2011. Hoje, é um terço disso.
Fonte:http://veja.abril.com.br
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