Essas questões foram abordadas, na semana passada, por analistas junto às empresas de capital aberto na divulgação de resultados do primeiro trimestre.
O desarranjo da economia gaúcha obriga as empresas não só a tomar medidas emergenciais iniciais – como a busca de novas rotas de entrega e fechamento de lojas destruídas -, como repensar produção e estoques de produtos.
“Esse é o tema que conselhos [de administração] e diretorias têm se debruçado, cada um dentro da sua alçada, porque haverá diversos efeitos ao longo dos próximos meses”, diz Eduardo Terra, sócio da consultoria BTR e conselheiro de varejistas.
A região Sul responde pela segunda maior fatia no consumo das famílias no país, com 18,3% do bolo – perde só para Sudeste (49%) e supera o Nordeste (17,8%), segundo a “IPC Maps”, com dados de 2023.
Consultores contatados por grupos dizem que isso envolve, por exemplo, a busca de soluções pelas empresas para falta de matérias-primas vindas do Estado, como calçados e móveis. E também projeção da demanda na região para diferentes setores, considerando a destruição.
“Como as grandes redes de moda e calçados vão comprar o couro das fazendas do Sul agora? Será preciso buscar soluções”, afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. “E o que deve ter demanda já imediata quando as águas baixarem? Há uma cauda longa dos impactos desse desastre que as empresas terão de ficar atentas.”
Nessa conta, já há consequências no resto do país. No sábado (11), durante visita da reportagem a lojas tradicionais de móveis, na rua Teodoro Sampaio, em São Paulo, funcionários alertavam sobre possíveis atrasos na entrega, e relatavam que fornecedores dependiam do estado das rodovias para manter os prazos.
Segundo o Climatempo, a expectativa é de chuvas mais fortes no Estado até quarta-feira (15).
Um dos movimentos esperados envolve ajustes em linhas de produção da indústria de outros Estados que atendem o Rio Grande do Sul, e também nos estoques de lojas. Deve ser ampliada oferta local de materiais de construção, móveis e eletrodomésticos de primeira necessidade (refrigerador e fogão), quando a situação crítica passar, dizem fontes.
Num primeiro momento, ainda se projeta forte demanda por alimentos e bebidas, inclusive com possíveis novos movimentos de estocagem das famílias, temerosas de novas enchentes. O GPA, dono do Pão de Açúcar, definiu limites na compra de arroz, feijão, óleo e leite para garantir a disponibilidade.
Posteriormente, a demanda por produtos para construção e reformas de imóveis deve acelerar. “Depois dos alimentos, esse setor deve ter o primeiro grande ‘boom’ de demanda”, diz Tozzi.
A Quero-Quero, varejista gaúcha de construção, diz que o consumo maior dependerá da ajuda econômica do governo às famílias. “É uma crise sem precedentes, e dependerá muito de ter renda disponível”, diz o CEO Peter Furukawa.
Como o Valor antecipou na sexta-feira (10), há formatos de apoio sendo pensados pelo governo, e a primeira opção seria nos moldes do auxílio dado na pandemia. Não há informações sobre valores.
Segundo Fabrício Garcia, da área comercial do Magazine Luiza, são 6 lojas da rede afetadas pelas chuvas, e será preciso atenção no atendimento da demanda quando a venda voltar, por conta de “alguma dificuldade de recebimento de produtos”. “As pessoas vão refazer suas casas. Com [a logística] se normalizando, há como atender os pedidos.”
Paralelo a essa discussão, as indústrias e o varejo ainda têm debatido os efeitos das temperaturas recordes nos negócios. O verão deste ano já “invadiu” dois terços do período do outono brasileiro.
Sobre isso, a Riachuelo afirma que as margens no outono e inverno são mais altas que no verão, e com isso, o calor que não dá trégua pode afetar a rentabilidade no segundo trimestre. O CEO da rede, André Farber, disse, na semana passada, que há medidas para tentar equilibrar esse efeito, como a venda do Dia das Mães, mas há um impacto negativo provável pelo verão persistente.
Na visão da direção da C&A, esforços de venda feitos há alguns anos, de produtos mais leves no outono e inverno, no lugar dos casacos pesados, ajudam a empresa a defender rentabilidade quando os termômetros sobem. Não dá para olhar esse cenário de forma isolada, diz Paulo Corrêa, presidente da rede. “É preciso ver toda a foto. Ainda há expectativa de um grande volume de venda em junho e julho, quando as frentes frias voltarem.”
A Renner diz que pode perder volume de venda no segundo trimestre por causa da crise que abalou o Estado (2% das lojas do grupo no país estão fechadas), mas entende que se preparou para um verão mais longo, e não deve perder margem.
Por Adriana Mattos
Fonte: Valor Econômico
https://sbvc.com.br/tragedia-no-rs-e-verao-longo-afetam-industria-e...
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI