Problemas estruturais tiram competitividade do agronegócio
29.11.2010
Luiz Francisco | Especial para o CORREIO
Os números são auto-explicativos e traduzem a falta de infraestrutura e logística do Brasil para atender à demanda do setor de agronegócios: para transportar o algodão do oeste da Bahia até o porto de Santos, os empresários pagam US$ 0,08 por libra-peso (unidade-padrão utilizada pelo mercado) por tonelada. De Santos até Xangai, na China, Paquistão ou a Indonésia, o preço por tonelada cai para US$ 0,04.
“Ainda assim, somos muito competitivos, mas não sabemos até quando, porque os problemas estruturais são muito grandes”, disse Walter Horita, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba ).
A economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, disse que a falta de investimentos públicos em setores essenciais “emperra o desenvolvimento do país”.
Transportar o algodão do oeste é um dos maiores problemas hoje para os produtores
“Temos muitos projetos, mas as obras não saem do papel ou andam lentamente. Sem planejamento estratégico o Brasil perde receita e os empresários, rentabilidade e competitividade”, acrescentou a economista.
Executivo de Relações Institucionais e Competitivas da Suzano Papel e Celulose, Jorge Cajazeira também cobra obras do governo federal. “Nossas exportações são feitas pelo Espírito Santo porque o porto de Salvador está muito distante de nossa empresa (a Suzano está em Mucuri, a 985 quilômetros de Salvador) e o porto de Ilhéus está operando no limite de sua capacidade”, disse.
E acrescenta : “Para complicar ainda mais, o transporte da celulose até o Espírito Santo é feito por caminhões, o que encarece o frete. O ideal seria usar ferrovias”. Para Walter Horita, uma ferrovia ligando o oeste da Bahia a Salvador seria suficiente para reduzir o preço do frete do algodão de US$ 0,08 para US$ 0,025 de libra-peso por tonelada.
“Existem empresários estrangeiros interessados em investir muito no Brasil. Dinheiro não falta, mas, primeiro, o governo precisa oferecer segurança jurídica para atrair os investimentos”.
O presidente da Aiba criticou os órgãos responsáveis pela concessão de licenças para empreendimentos. “A licença ambiental é o fantasma dos empresários porque a medida sai do racional e entra no campo ideológico”.
Aeroportos Segundo a economista Amaryllis Romano, a falta de infraestrutura no Brasil ganhou repercussão internacional. Ela lembrou que, recentemente, a Associação Internacional de Transporte Aéreo classificou como “inadequada” a infraestrutura aeroportuária para atender a grandes eventos. “O problema é generalizado e o Brasil precisa de solução rápida para não perder o bonde da história”.
O governo da Bahia informou que tem investido em logística e infraestrutra, com obras que vão desde a ampliação, em 40 mil metros quadrados, da área contígua ao porto de Salvador, à pavimentação de rodovias e intervenções em aeroportos.
O presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba), José Rebouças, disse que, com a expansão, o movimento no porto terá um acréscimo de 25%.
Em relação aos aeroportos, o governo informou que dos 78 terminais administrados pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), ao menos 32 serão beneficiados por melhorias. As obras incluem a restauração total do terminal de passageiros e da pista de pouso e decolagem.
Novas rotas para escoar a produção
Outro projeto do governo baiano para melhorar o escoamento de produtos no estado é o Complexo Logístico Intermodal Porto Sul, um empreendimento que, quando estiver concluído, pretende integrar o sul da Bahia a uma nova rota de desenvolvimento sustentável, estimulando o turismo, gerando empregos, negócios e ativos ambientais para toda região.
O Complexo Porto Sul engloba um terminal portuário público, o novo Aeroporto Internacional de Ilhéus, e o terminal portuário da Ponta da Tulha, de uso privativo da Bahia Mineração. Por meio de sua assessoria, o governo da Bahia informou que outra obra que está sendo executada, a reestruturação do sistema de rodovias BA-093, vai provocar um forte impacto econômico na região metropolitana de Salvador, abrindo espaço para novos investimentos e empregos.
Pelos dados da Secretaria Estadual da Fazenda, o sistema, que compreende nove rodovias, é o caminho para o escoamento de uma produção que corresponde a 60% do PIB baiano. Ainda em relação às obras de infraestrutura, a administração estadual acrescentou que a hidrovia do São Francisco receberá investimentos do PAC 2, que inclui a construção de estaleiros e portos.
Estão previstos investimentos de R$ 399 milhões até 2014 na hidrovia, que sai de Pirapora e segue até Juazeiro, num total de 1.371 quilômetros. Os recursos serão utilizados principalmente para a implantação de três terminais de carga, dragagem, derrocamento e sinalização. O transporte hidroviário é mais econômico que o rodoviário. Um único comboio hidroviário de seis mil toneladas substitui 150 carretas de 40 toneladas, o que reduz o valor do frete e gera impacto positivo no meio ambiente.
Ferrovia Oeste Leste ainda é só um sonho
Anunciada como uma das principais soluções para resolver o gargalo do setor agropecuário, a Ferrovia Oeste-Leste ainda não passa de um sonho, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha afirmado que as obras começariam em julho deste ano.
No mês passado, o Diário Oficial da União publicou o resultado da licitação do trecho baiano da ferrovia: dividida em sete lotes, a obra será executada por 24 empresas, ao custo de R$ 4,198 bilhões. Pelo projeto, a ferrovia terá uma extensão de 1.527 quilômetros, que sairão de Ilhéus, passando por Caetité e Barreiras, na Bahia, até Figueirópolis, no sul de Tocantins.
“Somente com um eficiente sistema multimodal de transportes, utilizando rodovias, ferrovias, hidrovias e transportes aéreo, o Brasil conseguirá manter o seu ritmo de crescimento e os empresários não terão de conviver com gargalos em qualquer atividade econômica”, afirmou o empresário Walter Horita, presidente da Aiba.
Do total da extensão da ferrovia, 1.003 quilômetros ficam em território baiano, passando por 32 cidades. De acordo com o governo federal, a obra vai gerar 23 mil empregos diretos com investimentos estimados em R$ 6 bilhões até 2012 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Os principais produtos a serem transportados na ferrovia são a soja, milho, farelo de soja, fertilizantes, combustíveis e minérios. De acordo com o governo do estado, agora, o início das obras está condicionado à emissão da Licença de Implantação por parte do Ibama. “Vamos ver se realmente esta obra sai do papel porque, até agora, o que vi foi apenas muita propaganda”, afirmou a economista Amaryllis Romano.
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