Fonte:|mundovestibular.com.br|
Por: O Estado de S. Paulo
Após cinco anos de funcionamento e com as primeiras turmas formadas, o câmpus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP), chamado também de Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), vai revisar e ampliar seus cursos, aumentando a divulgação para estudantes e empregadores. A ideia do novo diretor da unidade, Jorge Boueri, é reavaliar a proposta inicial de cada um dos cursos, o que inclui conteúdo, infraestrutura, empregabilidade e até mesmo o nome.
Criada para democratizar o acesso à USP e ampliar as relações da universidade com seu entorno, a unidade vive um paradoxo desde sua instalação. Ela inovou com sucesso nas propostas pedagógicas, inspirando outras novas instituições públicas, e apresenta baixo índice de evasão. No entanto, ainda tem procura relativamente baixa de candidatos, seus cursos são desconhecidos por boa parte da população e há uma dificuldade em inserir os formados em algumas áreas no mercado.
"Estamos pensando não só na ampliação dos cursos, mas na reavaliação dos que já existem. Vamos entrar em um processo de autoavaliação", afirma Boueri. O exemplo para a mudança será, segundo o diretor, o processo pelo qual passou o curso de Tecnologia Têxtil e da Indumentária, que mudou seu nome para Têxtil e Moda. "Houve uma adequação da proposta ao momento da sociedade. O curso foi modificado e o horário adaptado por causa dos estágios. Com isso, a relação candidato/vaga passou de 6 para 12."
PROCURA
A relação de candidato por vaga desse curso é uma das mais altas dos dez oferecidos na unidade - todos eles são novos no mercado, já que o regulamento da USP não permite que haja o mesmo curso em mais de uma unidade na mesma cidade.
A graduação em Ciências da Natureza, por exemplo, estreou com 2 candidatos por vaga e, no ano passado, tinha 3. Em Gerontologia, em 2009, foram 4 candidatos por vaga; Lazer e Turismo tinha 6; Ciências da Atividade Física, 4,4 alunos/vaga; Marketing, 10; Gestão de Políticas Públicas, 5,9.
Professores da unidade acreditam que depois do lançamento faltou investimento da própria USP na consolidação do câmpus. Muitos avaliam internamente que a ex-reitora Suely Vilela deu pouca atenção à unidade da zona leste durante sua gestão. Com isso, a construção de prédios e os projetos atrasaram. E, com eles, a divulgação dos
cursos ficou a desejar.
"Acredito no potencial desta unidade, que está localizada em uma região muito carente e pobre. O que falta é criarem novos cursos e aumentarem a inserção na comunidade", avalia Padre Ticão, líder comunitário na região e responsável pela Paróquia São Francisco de Assis. Em reuniões com a direção do câmpus, ele defende a criação de um curso de Informática. Esse é também o curso mais pedido em pesquisa feita com estudantes do ensino médio antes da definição do que seria oferecido na USP da zona leste. "Os alunos querem cursos mais tradicionais, apesar de eu acreditar que os oferecidos atendem a nichos do mercado."
Outra briga do padre é a volta do cursinho comunitário, que foi oferecido em 2005 e depois suspenso. "No primeiro ano, teve mais alunos da região aprovados. Agora, o índice está em torno de 30%, mais baixo. Só com cursinhos eles podem ter mais chance", diz. "Com o cursinho, além de os estudantes da região aumentarem suas chances de serem aprovados, eles podem ter mais informação sobre as graduações." O diretor da unidade afirma que um dos projetos para este ano é justamente a volta do cursinho pré-vestibular.
BRIGA JUDICIAL
Outro desafio da USP da zona leste está no curso de Obstetrícia, voltado para formação de um profissional que atenda à mulher, em uma atuação semelhante à do enfermeiro obstetra. Atualmente, há uma disputa jurídica travada com o Conselho Regional de Enfermagem, que não aceita registrar o profissional formado no curso.
"Conseguimos liminar na Justiça que nos garante provisoriamente o reconhecimento, mas a briga continua. Há muito desconhecimento sobre nossa profissão", conta Marcel Robledo, formado na primeira turma. Apaixonado pela profissão e pela obstetrícia, seu desejo é atuar na área - desde que se formou, não conseguiu emprego.
"Adoro a profissão, mas, se soubesse que seria tão difícil arrumar emprego, teria feito Enfermagem e me especializado depois ou até mesmo tentado Medicina", diz. Ele conta que a maioria dos seus amigos de turma ainda não conseguiu trabalho na área.
Formada no ano seguinte, Bruna Cumpri também não está trabalhando, mas se sente mais otimista. "Ainda estou procurando emprego, mas é uma oportunidade de inserção. Acredito que com o tempo, com maior conhecimento do nosso diploma, ficará mais fácil."
O diretor da unidade reconhece a dificuldade em alguns cursos. "Temos tido alguns problemas, que serão resolvidos com o tempo. Empregabilidade é algo que não podemos deixar de avaliar."
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