Este vídeo dos robôs da Boston Dynamics requebrando ao som da música “Do You Love Me?” ilustra muito bem o conceito central deste artigo. São cerca de 3 minutos de muita diversão, encanto e questionamentos sobre o que a engenharia humana e a ciência são capazes de produzir.
Se você ainda não conhece a Boston Dynamics ou apenas ouviu falar, sem saber exatamente do que se trata, deixe-me explicar. A Boston Dynamics nasceu ainda na década de 1990 com recursos do DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), agência do Departamento de Defesa do Governo Federal dos EUA, que financia o desenvolvimento de tecnologias para usos militares. A mesma agência responsável pela criação do que conhecemos hoje como Internet, que também nasceu dessa forma há algumas décadas. Em 2013, a companhia foi comprada pelo Google. Mais tarde, em 2017, foi adquirida pela SoftBank que passou a ser dona do negócio. E mais recentemente, em dezembro de 2020, a Hyundai arrematou a companhia. E conhecendo as diversas áreas de atuação da Hyundai e de seu conglomerado de corporativo, assim como suas conterrâneas LG e Samsung, talvez esta seja a melhor casa para as aplicabilidades possíveis e importantes para os robôs da Boston.
Vale lembrar que quando os primeiros vídeos de suas criações começaram a circular, o medo dos robôs de guerra tomou conta da internet. Mas certamente, seja em aplicações internas em suas fábricas e montadoras ou comercializando em larga escala para o mercado, o que deve ocorrer é mais uma nova onda de aceleração de inovações competitivas em ramificações muito além das militares, tais como manufatura, supply chain, serviços, varejo, construção, química, dentre outras. Além, é claro de poderem atuar em áreas de grande periculosidade e insalubridade. E por que não, se tornarem heróis em operações de resgate como incêndios e desabamentos, por exemplo.
Porém, para que isso e muito mais possa se tornar realidade e estar presente em um futuro próximo, temos algumas questões para responder e solucionar. Afinal, como costume dizer;
As melhores e mais elegantes soluções são simples, lógicas e muito práticas. Porém, para se alcançar este mais alto estágio de resolução, se faz preciso resolver equações difíceis, sanar necessidades latentes, solucionar problemas técnicos, viabilizar interesses econômicos e financeiros, além de responder satisfatoriamente questões filosóficas, éticas e morais. Em resumo. Para obter elegantes soluções simples será preciso construir resoluções complexas com grande excelência.”
Pensando nisso, destaquei alguns pontos chaves para ficarmos de olho e refletirmos sobre este conceito. Pois são alguns indícios de como estamos caminhando para o admirável mundo novo do futuro, repleto de suas automações e seus simpáticos e prestativos robôs. São eles:
Particularmente, eu espero que seja, sim. Não tenho dúvida que nossas experiências tendem a ser cada vez mais convenientes, personalizadas e “incríveis”. Mas para que isso possa acontecer de forma prática precisamos resolver antigos problemas e responder muitas perguntas novas. Entre uma ideia genial e uma produção em larga escala que seja adotada pelas empresas e as pessoas, existe um grande GAP. Então, precisamos ter cuidado com as manchetes sensacionalistas que nos vendem um futuro extremamente maravilho ou catastrófico. Sim, depende da fonte e de seus interesses, o futuro pode assumir estas duas facetas extremas. A questão em si, não é o que teremos no futuro, mas sim o que faremos para conseguirmos chegar até ele.
Costumo utilizar as imagens abaixo em minhas aulas e palestras para ilustrar esta visão. Na imagem da esquerda, vemos com entusiasmo um objeto futurista flutuando sobre um lago diante de alguns curiosos e o que nos parece ser uma equipe técnica opera o dispositivo voador. Seria um novo modelo de drone? Uma capsula de entrega autônoma? Um novo veículo de transporte aéreo? Uma versão hi-tech de um balão meteorológico equipado com sensores de última geração, talvez? Ou quem sabe alguma espécie de dispositivo controlador de nuvens para fazer chover sobre plantações? A resposta está bem ao lado, na mesma imagem rotacionada. O lúdico e criativo jogo de adivinhação sobre um fantástico futuro faz com que nossa mente se desprenda da realidade e facilmente nos traga visões baseadas em nossos anseios.
Porém, a realidade é muito mais crua. O SUV no fundo de um lago sendo socorrido por uma equipe de resgate não tem o mesmo impacto emocionante do que a fantasia do desconhecido. E é justamente aí que está o nosso maior GAP, em conseguirmos resolver as questões mundanas de nosso tempo e de nossa realidade para que possam contribuir como blocos empilhados em um grande jogo de construção do futuro que tanto idealizamos.
Sonhamos com os comerciais de TV anunciando os novos modelos de carros voadores. Mas ainda não conseguimos resolver questões simples de segurança em veículos que se locomovem em 2 eixos (Frente-Trás e Esquerda-Direita). Então como podemos exigir que carros voadores sejam inseridos em nossas cidades? Esta não é uma questão de tecnologia. Projetos viáveis e inteligentes para produzir e comercializar carros voadores existem aos montes pelo mundo. O que não existe é um comportamento humano capaz de seguir simples regras de trânsito para evitar acidentes. Até hoje, ainda me surpreendo ao ouvir e ler notícias de pessoas que são atropeladas por trens em pleno século XXI. Simplesmente não consigo como alguém consegue ser atropelado por um veículo monodimensional (Que se move somente em sentidos de uma única direção – Para frente e para trás).
A resposta para este problema comportamental não está nas regras, não está no dispositivo, muito menos na tecnologia. E sim, na adoção de veículos autônomos que possam se deslocar em rotas, velocidades e códigos hierárquicos inteligentes e autônomos de resolução de conflitos para conduzir veículos sem a interação humano em vias imaginárias em 3 dimensões. Ou seja, só teremos carros voadores, quando aceitarmos que não seremos capazes de operá-los livremente em larga escala.
Hoje, o homem opera aeronaves sob rígidos controles e legislações que orientam, monitoram e auxiliam sua conduta. Isto dificilmente aconteceria com milhares ou milhões de veículos e condutores simultâneos em uma única cidade ou estrada. Agora, para aceitarmos que as máquinas nos guiem em segurança, teremos que encontrar respostas filosóficas para dilemas que orientarão os códigos de programação destes sistemas. Tal como o velho dilema em que um carro autônomo, não conseguindo evitar um acidente, teria que escolher quem atropelar para minimizar os danos. Um assassino procurado e reconhecido pela câmera do carro, uma idosa que já viveu uma longa vida ou uma criança que ainda tem uma vida de escolhas a ser vivida. Sendo que todos estavam atravessando a rua fora da faixa. Sem falar em quem responsabilizar, o dono do veículo? Os pedestres? O fabricante do carro ou dos sensores?
Não nos sentimos bem conosco mesmo para responder este dilema. Mas teremos que aprender a resolvê-lo para que possamos programar um sistema autônomo que decida por nós. Até lá, nada de carros voadores.
Confesso que sou um grande entusiasta quando o assunto é robô, automação e tecnologias autônomas. E sinceramente? Não vejo a hora de ter meu trabalho roubado por estas belezinhas. Isto porque, mesmo atuando em um cargo de gestão, ainda dedico muito tempo ao cumprimento de tarefas operacionais ou de baixo nível de análise que poderiam facilmente ser substituídas por sistemas e ferramentas inteligentes. Tenho dedicado uma grande atenção na busca por estas soluções por sinal. Pois, ao me desonerar deste tempo gasto com estas atividades, poderei aumentar o tempo investido na gestão e desenvolvimento das pessoas do meu time, assim como planejar e criar ações muito mais estratégicas. Eu sei que embora esta seja uma visão arrojada e inspiradora, muitas pessoas ainda temem ter suas posições substituídas por máquinas. E de fato, esta é uma grande ameaça social. Se você trabalha em uma função operacional e não tem ambição de assumir maiores responsabilidades nem de se desenvolver para atuar em novas funções mais abrangentes. Bem, digo que está encrencado. Mas o ponto não é este. Afinal, nós, como humanidade e sociedade, desenvolvemos tecnologias e ferramentas justamente para nos livrarmos destes fardos. Do contrário estaríamos até hoje andando em círculos ao redor de engenhos.
A questão superior aqui está em como organizar esta substituição da mão de obra humana em larga escala sem causar profundas depressões econômicas e sociais. Já fazem algumas décadas que a economia de serviços superou a indústria de manufatura. E não à toa, as maiores economias mundiais estão baseadas em serviços, enquanto as produções de manufatura estão espalhadas pelas nações de 3º mundo. O dilema ao meu ver está na busca por respostas para duas perguntas chaves:
1 – Como capacitar profissionalmente os indivíduos e sociedades no mesmo ritmo em que as tecnologias avançam?
2 – Como transferir ou criar um sistema econômico capaz de prover renda aos indivíduos em uma nova forma de trabalho que não seja baseada em turnos de horas realizando tarefas específicas?
Até resolvermos estas questões, veremos movimentos de progressão das máquinas e sistemas tornando algumas posições e profissões obsoletas, enquanto outras insistem em resistir. Permitindo sim um avanço tecnológico com impactos sociais, mas em um ritmo bem mais lento do que a velocidade frenética de desenvolvimento tecnológico. Temos que encontrar um ritmo de crescimento econômico compatível com o ritmo das máquinas. E certamente isto ficará mais fácil quando de forma geral, compreendermos que a batalha por QI (Quoeficiente de Inteligência) é uma batalha perdida. As máquinas já ganharam esta disputa. Precisamos focar em atividades e modelos que valorizem o QS e o QE, Quoeficientes Sociais e Emocionais, respectivamente.
Este talvez seja o ponto no qual menos acredito. Embora o conceito de geladeira inteligente date da década de 1980, e muitos protótipos mirabolantes continuem sendo apresentados em grandes feiras de tecnologia como as da NRF de Nova York ou a CES de Las Vegas. Particularmente acredito que seja um produto natimorto. O conceito por trás é genial. A simples ideia de ter um dispositivo que faça por conta própria a gestão de estoque e compre sozinho produtos para reposição pode ser maravilhosa. Porém, a geladeira não tem ideia de eu gostei ou não produto que deixei estragar no fundo da prateleira. Ela não sabe se irei viajar na semana seguinte ou se receberei visita para o jantar. Não queremos uma geladeira que se conecte à Internet para realizar compras indesejadas. E convenhamos, que acessar a caixa de e-mail em uma tela touch na porta da geladeira não é nenhum sonho de consumo.
Agora, ao abstrair da carcaça do dispositivo, focar na essência do conceito e se livrar da cozinha, podemos obter resultados realmente incríveis. E o Amazon Dash Button é um excelente exemplo para isso. Um simples botão conectado à Internet que coleta cliques a cada vez que o usuário consome uma dose do produto e dimensiona preditivamente quando o produto precisará ser reposto, mediante uma série de regras previamente configuradas pelo seu proprietário, não apenas gera uma grande conveniência, mas também impede que incidentes indesejados ocorram por falta de tratamento lógico.
A Amazon oferece um preço mais barato para os produtos adquiridos desta forma e é o cliente que configura quantas unidades quer receber após um número determinado de cliques definido por ele. Assim, o cliente não precisa mais se preocupar em ficar sem sabão em pó ou cerveja, muito menos ter que se dar ao trabalho de realizar novas compras manualmente. E também, não estará livre de receber novos sucos de que não gostou, apenas porque compra uma única vez. O cliente escolhe quais produtos de recompra ele quer obter um Dash Button e configura suas regras de reposição. Após uma configuração única e inicial, o sistema já está integrado com a conta prime do site, com o cartão de crédito cadastrado e principalmente, ao comportamento e preferência de consumo de cada cliente. Um outro exemplo de que estamos caminhando bem para este conceito é o PAAS (Product as a Service – ou Produto como Serviço em português), onde o cliente realiza um único procedimento de compra e passa a receber periodicamente o produto que assinou. Ou seja, hoje podemos assinar um serviço de entrega de cereal da mesma forma que há um século assinávamos jornal e leite na porta de casa.
Isso é uma verdade que a pandemia de 2020 nos ensinou e nos catequizou a acreditar e a praticar. Por necessidades sanitárias passamos meses trancados em casa sem sair de casa, ao menos dentro do possível. E aprendemos a trabalhar, estudar e até a comprar banana remotamente. Sem dúvidas, a tecnologia e o avanço digital já estava preparado para isso. Porém, nem todos os modelos de negócios estavam preparados para uma brusca quinada de digitalização forçada. Muitos conseguiram pegar a onda e embarcar nesta nova forma de atuação. Mas, muitos negócios quebraram por não estarem preparados, por não terem fôlego ou maturidade para migrar de rapidamente ou ainda devido às naturezas de suas atividades. A questão é que depois deste logo estudo comportamental, embora muitos tenham experimentado e gostado de muitos formatos novos de estudo trabalho e consumo remoto…
Depois de um ano e meio de pandemia as pessoas não aguentam mais ficar trancadas em casa. E a última coisa que querem é não precisarem sair para estudar, trabalhar e/ou consumir.”
Uma coisa é ter serviços, mecanismos e sistemas eficientes, baratos e acessíveis à disposição. Outra coisa é; as pessoas terem a disposição para realizarem todas as suas atividades isoladamente. Aristóteles já pregava na Grécia antiga sua visão sábia sobre os seres humanos.
O home é um ser social, pois é um animal que precisa de outros seres de sua espécie.”
Aristóteles.
Diante disso. Acredito que teremos, sim muitas e abundantes opções de serviços, produtos, conteúdos, atividades e interações que poderemos realizar de forma isolada, remota e conveniente no conforto do lar. Mas, também acredito que não mudaremos a nossa essência de interação humana, física e presencial. O cinema já representou muitos contos fantasiosos e de ficção sobre este dilema. Filmes como Westworld (1973), Matrix e 13º Andar (1999), Gamer (2009) e Substitutos (2016) são alguns dos melhores e mais famosos. Por mais lúdico, fantástico e interessante que o conceito do viver em uma realidade paralela por meio de um avatar físico ou digital nos representando em interações sociais em simulacros projetados, possa parecer. Temos ainda dois elementos que ao menos por enquanto, ainda não são passíveis de reprodução e simulação satisfatória a ponto de substituir. O virtual não oferece olho no olho e nem pega na mão.
Olha, tenho certeza de que sim.
E fico triste pela clareza e consciência de saber que não viverei este momento. Não apenas pelo longo tempo necessário para o desenvolvimento das tecnologias necessárias para isso. Até porque, temos vistos avanços importantes na exploração espacial e no desenvolvimento de novas tecnologias aeroespaciais. Depois de visitar a lua e enviar diversas sondas pelo espaço, inclusive para Marte, estamos vivendo hoje uma nova corrida espacial. Não mais a corrida armamentista e de demonstração de poder entre nações como na guerra fria, mas uma corrida privada. De empresas competindo para habilitar-se a novos e grandiosos projetos. Nos últimos meses, enviamos um carro para Marte e demos inicio a projetos de colonização de Marte e também iniciamos a era do turismo espacial. Mas para este último item a questão que levanto a ser resolvida é sobre a nossa consciência e responsabilidade ambiental. Ainda não aprendemos a cuidar e a preservar o nosso planeta onde nascemos.
Não vejo que obtenhamos, como humanidade, êxito na conquista e colonização de outros planetas e corpos celestes sem que desenvolvamos um nível superior de maturidade, sabedoria e responsabilidade social, para cuidarmos uns dos outros e também ambiental, para cuidarmos do nosso ecossistema. Isto, não apenas por seria cruel demais pensar na humanidade como uma raça parasita que sairá explorando e consumindo recursos desenfreadamente pelo universo como uma nuvem de gafanhotos. Mas também, por ser um comportamento não sustentável diante da escassez de recursos por metro quadrado no universo. Traduzindo; para cada nova distância percorrida e conquistada, uma quantidade absurda de recursos serão necessárias. E diante a imensidão do universo, o que iremos conseguir obter de recurso a cada salto tende a não ser suficiente para um próximo salto ainda maior, se não aprendermos a reestruturar os ecossistemas por onde venhamos a passar.
O pensamento de explorar e pilhar para continuar a explorar e pilhar, como fazíamos nas planícies e mares dos séculos passados, simplesmente não funciona em uma escala monumental como os oceanos do universo. Vamos precisar crescer e amadurecer para aprender a gerenciar nossos recursos, nossa espécie e nossos ecossistemas. Do contrário, estaremos fadados á extinção.
Portanto, como consideração final volto a destacar:
O Futuro de fato tem muito para ser um lugar fantástico. Mas, cuidado! Não se deixe levar pela euforia da sedução. Não podemos acreditar cegamente nas manchetes sensacionalistas. As coisas preciso de um grau de complexidade maior para se tornarem simples e elegantes. Temos a chance de construir um mundo maravilhoso e fantástico. Mas, vamos precisar fazer as perguntas certas e construir as respostas necessárias.
Escrito por Alexandre Conte
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