Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Wearables abrem a porta ao toque de produtos digitais

Embora necessitem de mais desenvolvimentos, os dispositivos hápticos multissensoriais deverão ser usados em áreas que vão da saúde aos jogos, passando pela capacidade de sentir objetos digitais à distância.

[©Unsplash-Marcos Ramírez]

Os dispositivos hápticos, que permitem a comunicação através do toque, evoluíram significativamente desde os anos 1960. Inicialmente, utilizavam mecanismos rígidos e fixos que geravam feedback baseado em força a partir de ambientes virtuais. Com os avanços nas tecnologias de deteção e atuação, estes dispositivos tornaram-se cada vez mais vestíveis, focando-se atualmente em estímulos cutâneos – que estimulam diretamente os recetores da pele – em vez de feedback cinestésico, que imita a força exercida no sistema musculoesquelético.

Uma equipa de investigadores, incluindo Marcia O’Malley e Daniel Preston, da Rice University, publicou uma revisão aprofundada na revista Nature Reviews Bioengineering sobre o estado atual da tecnologia wearable háptica multissensorial. O estudo destaca os avanços, os desafios persistentes e as aplicações práticas desta tecnologia emergente.

«Os dispositivos wearable hápticos estão agora integrados em produtos de consumo como smartwatches e acessórios para jogos e desempenham papéis cada vez mais complexos na saúde, robótica e media imersivos», afirma Marcia O’Malley, professora catedrática e diretora do Departamento de Engenharia Mecânica da Rice University. «Uma nova mudança em direção ao feedback háptico multissensorial – que significa fornecer mais do que um tipo de estímulo tátil simultaneamente – está a melhorar a experiência do utilizador, mas apresenta novos desafios de engenharia e perceção. À medida que esta tecnologia evolui, veremos uma experiência multissensorial mais rica – que aproxima a interação digital do toque humano», acrescenta.

Conceber dispositivos eficazes requer uma compreensão profunda da perceção do toque humano. A equipa de investigação identificou vários desafios principais, sendo um dos mais relevantes a variabilidade na mecânica de contacto com a pele. Diferenças na elasticidade, distribuição de recetores e fatores externos como a humidade afetam a perceção dos estímulos hápticos. «Cada pele reage de forma diferente aos estímulos devido a variações na elasticidade, humidade e até nos pelos corporais», explica Daniel Preston, professor assistente de engenharia mecânica. «Esta variabilidade torna extremamente complexa a conceção de dispositivos eficazes para todos», indica.

O conforto e a portabilidade continuam a ser prioridades cruciais. Os dispositivos hápticos devem adaptar-se a várias partes do corpo sem causar desconforto, restringir movimentos ou interferir com as atividades diárias. Elementos como o peso, tamanho e forma de fixação são determinantes para a sua utilização a longo prazo. «Uma verdadeira imersão na tecnologia háptica depende não apenas do que os utilizadores sentem, mas de quão naturalmente e confortavelmente o experienciam», reforça Daniel Preston.

Apesar dos desafios, os investigadores apontaram métodos de atuação emergentes que poderão revolucionar o setor. A atuação eletromecânica continua a ser a mais comum, graças à sua fiabilidade e baixo custo, embora com limitações na diversidade de estímulos. A atuação polimérica, com polímeros inteligentes que mudam de forma ou textura com estímulos, oferece uma alternativa leve e flexível. A atuação fluídica, que utiliza ar ou líquidos pressurizados, está a ganhar destaque na chamada soft robotics e wearables têxteis, enquanto a atuação térmica surge como uma forma promissora de simular sensações reais, aquecendo ou arrefecendo zonas da pele.

«Esperamos que estas tecnologias expandam significativamente o alcance do feedback háptico, especialmente em áreas como reabilitação médica, desenvolvimento de próteses e interação homem-máquina», realça Marcia O’Malley. «Embora promissoras, ainda precisam de ser aperfeiçoadas em termos de tempo de resposta, durabilidade e eficiência energética», enumera.

A revisão também explora o potencial da tecnologia wearable háptica na interação com ambientes digitais e físicos. Em realidade virtual e aumentada, a háptica multissensorial aumenta a imersão ao permitir sentir objetos digitais, enriquecendo experiências em jogos, simulações e ensino. Na saúde, estes dispositivos ajudam na reabilitação pós-AVC, treino de competências motoras e devolvem sensações a membros protéticos. Tecnologias de assistência transformam sons ou imagens em sinais táteis, apoiando pessoas com deficiências visuais ou auditivas. Sistemas de navegação também beneficiam, com sinais táteis intuitivos que auxiliam a orientação de forma discreta e prática, inclusivamente em contextos militares ou da aviação. Na robótica, o feedback háptico permite aos utilizadores “sentir” objetos à distância, aumentando a precisão em tarefas delicadas como a cirurgia robótica.

Apesar do progresso alcançado, os autores do estudo destacam a necessidade de investigar mais a fundo como o cérebro processa estímulos táteis simultâneos. Compreender esta perceção multissensorial será essencial para o futuro desenvolvimento da tecnologia, equilibrando sofisticação, conforto e aplicabilidade real. «O objetivo final é criar dispositivos hápticos que transmitam a sensação de toque tão naturalmente como acontece no mundo real», conclui Marcia O’Malley.

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