Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Divulgação / DivulgaçãoTânia Mara Rezende, presidente da Associação Comercial e Industrial: "Nosso produto é reconhecido pela qualidade"

Nas margens dos 20 quilômetros da MG-446 que ligam Juruaia (MG) à BR-491, uma estrada típica da região sul mineira - estreita, cheia de subidas, descidas e curvas, há um sem número de outdoors com modelos de calcinhas e sutiãs margeando a estrada. Essas ilustrações vistosas dão a dimensão da atividade frenética das indústrias de confecções instaladas nas cidades. Nos veículos que transitam por essas rodovias, em vez de boias-frias em direção às lavouras cafeeiras para a colheita em tempos de safra, viajam costureiras e outras profissionais do segmento de confecções de municípios da região. As mulheres chegam todas as manhãs, vindas de cidades como Guaxupé, Muzambinho, Nova Resende, São Pedro da União e Monte Belo para trabalhar nas indústrias da cidade.

Essas profissionais são responsáveis pela produção de 20 milhões de calcinhas, sutiãs e camisolas por ano, o que representa algo em torno de 15% da produção nacional de lingerie, de acordo com informação da Associação Brasileira da Indústria Têxtil. A produção local só fica atrás de Fortaleza (CE) e Nova Hamburgo (RS), também importantes polos têxteis.

Em duas décadas, o município do sul de Minas Gerais, com 9,2 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), distante 340 quilômetros de São Paulo, 430 de Belo Horizonte e 540 do Rio de Janeiro, passou de uma economia eminentemente agrícola, baseada na produção de café, para um processo de industrialização vertiginoso.

Entre 1992 e 2011, ainda de acordo com o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Juruaia passou de R$ 2.044 para R$ 13.799. Uma expansão de 575%. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, no mesmo período, praticamente dobrou. Passou de 0,371 para 0,723. Cerca de 60% da renda do município é proporcionado pelas atividades na indústria local de confecções.

Juruaia abriga atualmente 200 indústrias de lingerie, 95% delas comandadas por mulheres. O total da receita dessas empresas em 2013 foi de R$ 162 milhões. A mão-de-obra é basicamente feminina. O mesmo ocorre com os cargos de direção. Mais de 4 mil pessoas (cerca de 80%) de um total de 5 mil profissionais que tocam as linhas de produção das confecções de Juruaia são mulheres. A remuneração das costureiras gira em torno de R$ 950 a R$ 1.200. Já as vendedoras têm salários que variam de R$ 1.000 a R$ 2.500, dependendo das metas de produção de cada empresa. Essas funcionárias têm carteira assinada, recebem 13º salário, plano de saúde e planos para aposentadoria. Das 200 empresas de confecção, somente cinco são de médio porte. As demais são pequenas empresas de formato familiar.

A produção de lingerie em Juruaia começou em 1992, quando duas empresas de confecções se instalaram no município. Elas fecharam em menos de dois anos e deixaram dezenas de costureiras e sacoleiras desempregadas na cidade, mas acabaram servindo de exemplo para que as ex-empregadas abrissem seus próprios negócios. Assim, a cidade, que antes vivia praticamente do café, com boa parte da população trabalhando como diarista nas lavouras, foi se desenvolvendo no segmento de lingerie. A cada ano mais indústrias foram sendo abertas.

"Fomos descobertas e hoje todos sabem que nossos produtos têm design diferenciado, qualidade e bom preço. O sucesso de Juruaia está totalmente ligado à garra e perseverança das mulheres que construíram isso tudo", diz a empresária Tânia Mara Rezende, presidente da Associação Comercial e Industrial de Juruaia, entidade que desde sua criação há duas décadas é comandada por mulheres. Segundo ela, proprietária da Intima Passion, a quase totalidade das indústrias de Juruaia têm características próprias de empresas familiares. "A irmã da costureira começa a trabalhar, chama a tia, que, por sua vez, puxa a prima, e, assim por diante", diz.

Tânia Rezende deixou há 10 anos a escola municipal de Juruaia, onde era professora, para abrir sua empresa. Desde então, frequentou diversos cursos técnicos de costura e estilismo, e hoje é responsável pela criação dos modelos de calcinhas e sutiãs. A Intima Passion produz 45 mil peças por mês, 5% delas exportadas para os Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Moçambique. Sua empresa, que começou só com ela e a mãe produzindo e vendendo as peças, tem atualmente 50 empregados diretos e 40 indiretos, que trabalham nas chamadas facções e que costuram as peças já cortadas em casa.

"Cada uma das empresárias de Juruaia vai ter um nome para dizer de ex-empregadas, costureiras e sacoleiras, que criaram suas próprias empresas. Da minha empresa já saiu uma costureira que hoje tem sua própria marca. Eu mesma comecei como costureira, trabalhando durante anos em outras empresas, fiz diversos cursos de costura e estilismo e abri minha própria marca", afirma a empresária. Há seis meses, Tânia Rezende investiu R$ 500 mil na primeira loja da marca, no shopping Iguatemi, em Ribeirão Preto (SP), município distante 180 quilômetros de Juruaia.

A história da empresária Lúcia Iorio é semelhante. "Não sei explicar direito como isso tudo começou. Tive uma questão pessoal (a morte de um filho com cinco anos) que me fez procurar alguma coisa para fazer. Encontrei em contato com as costureiras e sacoleiras. Mas as mulheres da cidade não faziam outra coisa à época. Parecia uma febre, só se falava de lingerie", diz Lúcia Iorio.

A empresária criou a Lindelucy Lingerie em 1994, após o marido acreditar na empreitada, deixar a lavoura de café para ajudar na criação da empresa. Com o 13º salário que recebeu naquele ano como professora substituta da escola pré-primária de Juruaia, Lúcia Iorio comprou uma máquina de costura e quatro quilos de tecidos em lojas de atacado de São Paulo. Começou então a fabricar e vender calcinhas, sutiãs e camisolas sozinha. O marido cuidava da contabilidade da empresa. Exatos 20 anos depois, 30 mil peças saem por mês das linhas de produção da Lindelucy, em Juruaia, 80% delas comercializadas no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.


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Por Carlos Eduardo Cherem | Para o Valor, de Juruaia, MG


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