Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

- A verdadeira tecnologia vestível - A história da tecnologia é, sob muitos aspectos, uma história têxtil.

A vestimenta é uma das primeiras invenções do homem. É também uma das mais difundidas, criativas e variadas formas de materialização de ideias. Ao dar ordem ao caos de fibras na forma de tecidos delicados, resistentes, bonitos e coloridos, ela é um fator de distinção em diversas sociedades. Era natural que, ao longo da história, recebesse investimentos para descobrir e aprimorar suas técnicas.

A história da tecnologia é, sob muitos aspectos, uma história têxtil. Os processos de tecelagem e pigmentação inauguram os casos de propriedade, segredo e espionagem industrial. A Rota da Seda marca um dos primeiros esforços de diplomacia comercial. A própria Revolução Industrial, evento que iniciou a corrida tecnológica contemporânea, surgiu com a criação de máquinas para automatizar teares.

"Texto" e "tecido" são palavras que derivam da mesma origem. Quando associadas, elas remetem ao ato de construir o raciocínio a partir de filamentos de ideias. Expressões como "fio da meada" descrevem encadeamentos de argumentos. O conjunto de visões de mundo é compilado em linhas de pensamento essenciais para a definição do tecido social. O temo "fabric" é, até hoje, usado na língua inglesa para se referir tanto a indústrias quanto a tecidos.

Até os anos 1970 a indústria têxtil era reconhecida por suas inovações tecnológicas. Nomes como Lycra, Nylon, Rayon e Velcro não eram tão diferentes das marcas de acessórios eletrônicos contemporâneos. Mas com o tempo a inovação foi assimilada e deu lugar a novas ideias coloridas.

Na mesma época em que "sintético" se transformou em sinônimo de tóxico", a ideia de novas tecnologias foi transferida para cérebros eletrônicos e telas brilhantes. Fibras, vendidas por atacado e enfrentando pirataria por todos os flancos, tinham perdido sua "aura" de modernidade.

Isso não significa que a indústria têxtil tivesse parado no tempo. O melhor exemplo de sua capacidade está no traje portado pelos primeiros astronautas. Mistura de alfaiataria de precisão com tecnologia de ponta, ele era uma verdadeira nave portátil.

No mundo cotidiano, tecnologias invisíveis criam roupas que não cheiram, não sujam, repelem água e insetos, protegem contra raios UV, refrescam ou esquentam conforme a necessidade. Mas como elas não tem displays nem falam com o smartphone, ainda são consideradas meras roupas.

A consequência dessa confusão fica evidente no que hoje se chama de tecnologia "vestível". Em vez de analisar a qualidade técnica da vestimenta que cobre o corpo, revistas de moda e grifes internacionais dedicam páginas e passarelas a trambolhos amarrados no corpo, empanturrando bolsos, perturbando as relações sociais e chorando por suas baterias com uma frequência de fazer inveja a bebês desmamados.

Mas isso está para mudar. A destruição criativa e a reacomodação de boa parte das indústrias promete devolver aos artesãos da costura o glamour e a importância que um dia tiveram os alfaiates, costureiras e revistas de moldes. Da mesma forma que a revolução nas comunicações devolveu às pessoas o poder de mídia - com efeitos controversos, vale ressaltar - a tecnologia têxtil promete devolver aos comuns o poder da moda.

O Projeto Jacquard, do Google, é uma tentativa de criar tecidos conectados, que podem ser costurados a qualquer tipo de roupa. Quando o sensor está incorporado na fibra, fica mais difícil separar a roupa da tecnologia.






A confecção Under Armour deixou clara uma visão possível desse futuro em seu vídeo-conceito Future Girl, em que a atriz abre uma gaveta com uma pilha de roupas aparentemente idênticas e veste uma delas. A roupa rapidamente toma a forma do corpo e transmite sinais vitais para uma janela, que prepara um programa personalizado de ginástica.

A mesma roupa é adaptada para se transformar em um traje colorido de corrida, capaz de medir tempo, distância e resposta do corpo. Tudo de forma intuitiva, automática e personalizada.

Ainda em protótipo, essa nova tecnologia não deverá chegar às casas tão cedo. Mas quando finalmente vingar, deverá provocar uma grande revolução nos hábitos pessoais, dos cuidados com a saúde aos tamanhos dos armários nas casas.

Ela também poderá significar uma excelente notícia para o meio-ambiente, uma vez que as novas nanofibras deverão reduzir a enorme quantidade de algodão tingido que ainda hoje é usada em camisetas, bolsas, sofás e panos de chão.

Tecidos, mais do que tecnologias, são parte fundamental da identidade social. Reduzi-los a suas propriedades funcionais é ignorar sua importância cultural. Novas indústrias prometem, com suas descobertas, mudar a visão que hoje se tem das dinâmicas sociais para horizontes muito além do que pode supor a nossa vã tecnologia.

FONTE: Folha de S. Paulo

por Luli Radfahrer

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