Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

bélgica5Walter Van Beirendonck, responsável pelo departamento de moda na Royal Academy of Fine Arts, na Antuérpia, e Tony Delcampe, o homólogo da La Cambre, em Bruxelas, têm formado alguns dos diretores criativos mais aclamados dos últimos anos. Num mundo onde muitos dos cursos de moda mais prestigiados são privados e caros, a Royal Academy e a La Cambre destacam-se não só como estufas de talento, mas também como instituições públicas. E, no entanto, estes dois homens influentes nunca se haviam cruzado, até este ano.

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No quadro de honra de Beirendonck constam formandos como Raf Simons, Kris Van Assche da Dior Homme e Demna Gvasalia da Vêtements e da Balenciaga. Na pauta de Delcampe surgem os ex-alunos Anthony Vaccarello da Saint Laurent, e Julien Dossena da Paco Rabanne.

Pela intervenção dos seus alunos, estes dois homens têm exercido uma influência significativa sobre a indústria da moda global.

Ao leme e nos estúdios criativos de algumas das marcas mais prestigiadas estão numerosos belgas que seguiram os passos dos “Antwerp Six” (Beirendonck é um dos seis) em meados dos anos 1980.

Nos últimos 30 anos, os designers saídos das duas escolas foram comparados e confrontados: a Antwerp Academy representa uma abordagem contemporânea do legado radical dos “Six”, combinada com um foco em cores e cortes fortes; enquanto o look La Cambre parte de campos minimalistas que resultam em coleções com cortes e volumes ultramodernos.

Depois dos ataques em Bruxelas e para mostrar união e solidariedade, Walter van Beirendonck e Tony Delcampe conheceram-se, oficialmente, na Antuérpia. E os dois gigantes da moda belga rapidamente perceberam que mesmo antes de se cruzarem, já estavam em sintonia.

Unidos contra o terror

Pouco tempo antes, os dois decidiram fotografar cartazes para os desfiles de moda das respetivas escolas, com modelos que vestiam a mesma roupa, resgatada da última coleção de Van Beirendonck, com o slogan “Stop Terrorising Our World”, apresentada depois dos atentados de Paris (ver Paris em tempo de cólera).

«Logo depois dos eventos em Bruxelas, fui contactado por Pierre Daras e Pierre Debusschere [diretor de arte e professor na La Cambre, e fotógrafo dos cartazes, respetivamente], que perguntaram se poderiam usar o meu vestido para o cartaz da La Cambre», contou Walter van Beirendonck ao portal The Business of Fashion (BoF). «Inicialmente considerei-o um pedido estranho porque o meu trabalho está muito ligado à Antwerp Academy. Mas, então, rapidamente percebi que seria uma mensagem muito forte, e um símbolo bonito, para reafirmar que é hora de parar com a diferenciação na moda belga. Trabalhámos então com a mesma roupa nos dois cartazes, para reafirmar um compromisso comum contra o terrorismo e para demonstrar solidariedade entre Bruxelas e a Antuérpia».

 

Identidade belga

Por ocasião das mostras das escolas (que terão lugar em junho), os dois criadores decidiram reafirmar que o país está unido nas suas alegrias e tristezas e que a moda belga é um sucesso internacional e indivisível. Quando questionados sobre o que os une, Delcampe e van Beirendonck responderam a uma só voz: «Energia, paixão e trabalho! E também a nossa forma de trabalhar com os nossos alunos. Nós seguimo-los de perto, em cada fase, procuramos soluções e experimentamos. Noutras escolas, a pesquisa é muitas vezes mais geral, acredito».

bélgica2Sobre o sucesso individual de alguns dos designers recém-saídos dos corredores das duas escolas, os mentores voltam a dar respostas semelhantes. «Não sei o que aconteceu com Demna Gvasalia em particular. A sua formação foi igual à dos outros estudantes, mas quando se formou, embarcou numa carreira magnífica», diz van Beirendonck.

Delcampe concorda. «Não tratamos Anthony Vaccarello de forma diferente. Ele fez um progresso impressionante, porque é particularmente teimoso, muito apaixonado e trabalha muito. Tudo o que fazemos foi abrir o espectro de possibilidades. Depois disso, cabe a cada aluno seguir o caminho».

O que diferencia o “toque criativo” belga, de acordo com van Beirendonck, «é uma identidade que se distingue pela criatividade. Na Antwerp Academy, esforçamo-nos por garantir que os nossos designers se transformam em contadores de histórias. Para nós, a criatividade é essencial, às vezes até mais importante do que a capacidade do vestuário funcionar no mundo da moda».

 

Delcampe acrescenta: «o desenvolvimento da narrativa é construído dentro do desenvolvimento das coleções. A essência belga gira, antes de tudo, em torno de roupas que não são meramente funcionais, mas construídas com um vocabulário específico, viradas de cabeça para baixo, misturadas e reinterpretadas. Não são uma teoria que possa ser explicada».

A força da nova-guarda

Contudo, estará a nova guarda de designers pronta para assumir os desafios futuros da indústria da moda? «A La Cambre e a Antwerp Academy são escolas de arte. Não procuramos formar empresários», destaca Delcampe. «Por enquanto, o mercado está saturado e tudo o que podemos esperar é que estes designers inexperientes possam encontrar o próprio espaço, sem serem engolidos imediatamente pelos grandes grupos».

Já sobre as altebélgica6rações ao calendário tradicional da moda, van Beirendonck considera ser um assunto exclusivo dos grandes grupos da indústria. «Sempre houve crises de evolução, é normal que as coisas mudem. Nós escolhemos uma profissão complicada. Na década de 1990, Martin Margiela já queria encurtar o ciclo de distribuição, nomeadamente através da organização de apresentações, pouco antes do lançamento comercial das peças. E não esperou pelos media para fazer isso. Em qualquer caso, as pessoas que gostam de roupas de marca estão sempre dispostas a esperar um pouco para obtê-las. E isto é o que garante que os jovens designers e casas independentes tenham futuro», explica.

«A moda, não se democratizou, mas tem feito um trabalho incrível em popularizar-se e reivindicar seu espaço. Há 20 anos não saiam 300 designers das escolas a cada ano. A moda está, agora, na moda», sustenta Delcampe.

Van Beirendonck concorda, alertando para uma possível «overdose», graças ao impacto das redes sociais na difusão das imagens de moda. «No entanto, ainda é possível criar uma marca e ser-se bem-sucedido. Não há nenhuma razão para deixar de acreditar no futuro», conclui.


Fonte: The Business of Fashion 
Etiquetas: BélgicaDesignersEscolas

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