Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Nos EUA, 97% das roupas vendidas é fabricada em outros países — até Ivanka Trump produz roupa na China.

ALBIN LOHR-JONES/POOL VIA BLOOMBERGBernard Arnault, CEO da LVMH (à direita), informou, após encontro com Donald Trump, que estuda expandir produção nos EUA

Quando o CEO da LVMH foi visto passando pelo saguão da Trump Tower, há uma semana, a indústria da moda prendeu a respiração. Bernard Arnault comanda a maior empresa mundial de artigos de luxo — um vasto império que inclui nomes como Louis Vuitton, Fendi e Dior — e ali estava ele, encontrando-se com um presidente eleito que ameaça chacoalhar o setor impondo restrições ao comércio exterior.

Depois do encontro entre Arnault e Trump, a LVMH divulgou que estuda expandir sua produção nos Estados Unidos. A reunião coloca em evidência o momento penoso enfrentado pelas fabricantes de roupas, que em sua maioria deixaram de ter os EUA como principal fonte de produção.

Uma proporção avassaladora de 97% das roupas vendidas nos EUA é fabricada em outros países. Trump ameaçou rasgar tratados comerciais e impor tarifas para tentar trazer mais empregos aos Estados Unidos.

As ameaças levaram muitas gigantes da indústria têxtil a congelar planos de expansão no exterior — e a exibir um discurso, pelo menos na retórica, favorável a produzir mais de suas peças nos EUA.

“Não vai haver uma grande expansão até que se saiba o que vai acontecer”, disse Julia Hughes, presidente de uma associação setorial que representa empresas como Ralph Lauren e Under Armour.

A LVMH já tem uma fábrica em San Dimas, no Estado da Califórnia, onde fabrica produtos da Louis Vuitton há 25 anos. A companhia estuda expandir a fábrica, além de abrir outra mais ao sul do país ou no Texas. A decisão, no entanto, tem mais a ver com os esforços do grupo para atender a demanda local, segundo Sonia Fellmann, uma portavoz da empresa que trabalha em Paris. “O sucesso da Louis Vuitton no mercado americano torna necessário aumentar a capacidade de produção “, disse. “O local não foi decidido.”

O CEO da PVH, Manny Chirico, cuja empresa fabrica as roupas da Tommy Hilfiger e da Calvin Klein, admitiu em entrevista recente que há nervosismo entre os executivos do setor. Entre os acionistas também.

Apesar da onda de alta das ações do mercado acionário como um todo, PVH e Ralph Lauren apresentam desvalorização em torno a 13% desde a vitória de Trump, embora as baixas vendas no varejo também tenham influenciado na queda.

“Isso causa uma volatilidade com a qual se precisa lidar”, disse Chirico. “Mas, no geral, você tenta fazer o mesmo de sempre, tenta ver no longo prazo.”

O temor é que aconteça uma escalada, na qual a retórica e os tuítes de Trump se transformem em guerras comerciais contra a China e outros países. Isso deixaria os fabricantes têxteis diante de um dilema: continuar a produzir nesses países — e passar a sofrer com possíveis novas tarifas ou outras penalidades que venham a lhes encolher as margens de lucro — ou tentar reconstruir sua infraestrutura de produção de roupas nos EUA.

Os primeiros sinais enviados pelo presidente eleito apontam para algum tipo de confronto com a China. Ele convocou Peter Navarro, crítico frequente das práticas comerciais chinesas, para comandar um novo órgão na Casa Branca, o Conselho Nacional de Comércio Exterior. Também escolheu Robert Lighthizer, outro crítico do comércio com o país asiá- tico, para ser o representante de Comércio Exterior dos EUA.

A própria história de Trump com a indústria de roupas mostra as dificuldades de se fabricar roupas domesticamente. Para produzir sua linha de roupas de negócios, que esteve à venda na Macy’s até uma ruptura entre os dois lados em 2015, o presidente eleito, de 70 anos, recorreu a fábricas no exterior. A linha de roupas de sua filha Ivanka, produzida pelo G-III Apparel Group, vem da China.

No total, os EUA importaram cerca de US$ 82 bilhões em roupas nos 12 meses encerrados em setembro, de acordo com números do Departamento de Comércio Exterior americano. Mais de 40% da roupa importada pelos EUA vem da China.

O Ascena Retail Group, grupo que vende roupas femininas e é dono das marcas Lane Bryant e Ann Taylor, vem reavaliando suas operações desde a vitória de Trump. Isso levou ao engaveta- mento de acordos para expandir sua produção no exterior, segundo a executiva-chefe da divisão de roupas de tamanhos grandes da empresa, Linda Heasley.

“Estamos nos posicionando para aproveitar seja o que for o que aconteça”, disse Heasley, em entrevista recente para a Bloomberg Television.

O consumidor americano, de fato, costuma dizer que gostaria de comprar mais roupas de produção doméstica, mas não mostra disposição a pagar preços mais altos.

Produtos feitos nos EUA poderiam dobrar o custo no varejo e potencialmente prejudicar a economia, de acordo com Hughes, presidente da Associação da Indústria de Moda dos EUA. Os defensores da produção doméstica, no entanto, são mais otimistas.

Ao investir em fábricas nos EUA, e recorrer a maior automação, a indústria têxtil poderia fabricar 30% de seus produtos nos EUA dentro de 15 anos, de acordo com Harry Moser, fundador da Reshoring Initiative, um projeto para trazer fábricas de volta aos EUA.

Moser destaca as despesas e inconvenientes ocultos na fabricação de roupas na Ásia, como o embarque, impostos, custos adicionais de estoque e a necessidade de viajar ao outro lado do mundo para verificar os fornecedores.

Naturalmente, o uso de robôs de fábrica não exigiria um batalhão de trabalhadores, mas o ressurgimento de uma indústria nacional de moda nos EUA, mesmo assim, poderia trazer montes de dólares e de empregos. “Estamos falando de centenas de bilhões de dólares”, disse Moser, que presta consultoria ao Walmart em seu programa Made-in-the-USA. “E talvez milhões de empregos.”

O que poderia acontecer é que as grandes marcas passem a evitar a Ásia e transfiram a produção para o México e a América Central, onde já existe uma indústria de roupas forte, disse Augustine Tantillo, presidente do Conselho Nacional de Organizações Têxteis.

Ainda assim, isso ajudaria a impulsionar o emprego nas empresas têxteis dos EUA, que produzem os fios, tecidos e fibras compradas por esses produtores de roupas.

A indústria têxtil americana emprega 580 mil pessoas, em comparação ao 1,8 milhão do fim da década de 90, quando a produção começou a ser transferida com mais força para a Ásia, segundo a associação comercial de Tantillo.

Dov Charney conhece bem a produção doméstica de roupas nos EUA. Ele fundou a American Apparel, que produzia suas peças em uma fábrica em Los Angeles e propagandeava o fato em sua rede de lojas pelo país.

Charney acabou sendo tirado da empresa, que entrou duas vezes em recuperação judicial. Agora, trabalha em uma nova empresa de roupas em Los Angeles. Produzir vestuário nos EUA vem ficando mais viável graças aos avanços em automação e outras tecnologias, disse Charney em entrevista.

Os EUA não oferecem os mesmos tipos de incentivos financeiros que a China, disse Charney. Mas ele acredita que as empresas podem produzir muito mais nos EUA se tiverem o conhecimento apropriado — e talvez um empurrãozinho. “É altamente eficiente produzir roupa aqui, mas muitas pessoas não sabem como fazê-lo”, disse Charney. “A produção americana é subestimada.

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