Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Depois dos millennials, é a vez da ‘Geração Z’ dominar a moda

Os pós-millennials podem, de fato, mudar a moda e o modo de usar a tecnologia e decretar o fim da era das selfies e das it-girls sem conteúdo.

Há anos, se fala na crise do sistema da moda. O luxo tenta se reinventar, enquanto gigantes do varejo anunciam queda nas vendas. É que o mundo mudou e a indústria parece confusa, tentando se segurar no que resta das referências anteriores. Os millennials (ou geração Y) aqueceram o mercado com sua fome de novidades e seus smartphones. Mas eles agora dão lugar a uma galera difícil de ser mapeada porque a verdade é que esses novos jovens também não sabem direito como lidar com tantas transformações. Batizada de geração Z, o grupo dos pós-millennials (ou a porção mais jovem deles, dependendo da classificação usada) nasceu entre meados dos anos 1990 e 2010 e vai se tornar a maior porção de consumidores do mundo em menos de dez anos. É uma turma que parece determinada a não seguir os passos de seus antecessores e a dar uma virada nas coisas. Por causa deles, o mercado da moda entrou em uma fase de experimentação, que vai sendo moldada por tentativas e erros.

TRANsição

Segundo a agência de pesquisa de tendências WGSN, os Gen Z são um tsunami populacional que não deve demorar a ultrapassar em tamanho a turma que tem Kendall Jenner e Justin Bieber entre seus ícones. A saída dos dois do Instagram (temporária, no caso de Kendall) já dá uma pista: as celebs jovens estão se comunicando com uma geração menos autocentrada e, ao que tudo indica, estão cansados da superexposição. A indústria está um pouco de orelha em pé com pesquisas que dizem que esse grupo será menos obcecado por consumo. E muitas labels mexeram seu marketing para tentar conquistá-los.

A Chanel investe nesse neogrupo, com Lily-Rose Depp (17 anos e filha de Vanessa Paradis e Johnny Depp) ao emplacar sua segunda campanha para a maison. Junto dela está Willow Smith, 16 anos, a garota-propaganda dos óculos do inverno 2017.

Seguindo a mesma lógica, a Dolce & Gabbana escalou um exército de embaixadores adolescentes composto em sua maioria de herdeiros do showbiz, como Sofia Richie (filha de Lionel Richie) e Dylan Jagger e Brandon Thomas Lee (filhos de Pamela Anderson e Tommy Lee), todos entre 17 e 20 anos. Outra aposta avassaladora é Kaia Gerber, filha de Cindy Crawford, que aos 15 anos já caiu nas graças de Alexander Wang e Marc Jacobs.

TRANSposição

Nativos digitais, os Z são multitasking e, para captar sua atenção, é preciso passar mensagens em até oito segundos. Para eles, as redes sociais funcionam de forma mais orgânica. É o público do Snapchat: menos manipulação, mais ação imediata, sempre com a tela na frente do rosto, no melhor estilo Black Mirror.

“Diferentemente dos millennials, eles não esperam nada dos outros e podem buscar soluções para seus problemas. O que significa que ou as marcas entendem o que eles querem ou ficarão para trás. O foco principal é torná-los parte das atividades”, diz Carol Althaller, analista de tendências. É o que estão tentando Burberry, Louis Vuitton e Gucci, que procuram um caminho entre vídeos menos artificiais e fotos que desaparecem em horas.

TRANSparência

Outro ícone da moda millenial que está ameaçado são as it- bags. Até as it-girls ganham um significado infinitamente mais personalizado, diretamente ligado a relações mais estreitas de afeto. “Não tenho ídolos, a não ser minha melhor amiga”, conta Catharina Doria, 18 anos, vlogger, que aos 16 teve a ideia do aplicativo Sai pra Lá, espaço de empoderamento feminino. A amiga, no caso, é Maíra Medeiros, do Nunca Te Pedi Nada, no YouTube, onde posta paródias divertidas com viés feminista. Catharina também cita Nátaly Neri, do Afros e Afins, um canal todo voltado para o empoderamento da mulher negra. Ou seja: as it-girls são pessoas com quem ela troca figurinhas – de preferência ligadas ao ativismo que rendeu ao grupo o apelido de clicktivists e que é propagado pelo YouTube, a nova TV. “Agora todo mundo é emissor e dialoga. Vamos nos tornar marcas melhores por causa da pressão dessa geração.” São palavras de Taciana Abreu, head de marketing da Farm, grife que está constantemente na mira dessa juventude.

A Farm abre diversas frentes para caminhar junto deles. “Nossa concorrência nesse momento passa pelos bazares, pela menina que vê a roupa no Instagram e manda foto para a costureira fazer igual. Estamos pensando em modelos de negócios como aluguel de peças e upcycling. A costureira quase antecipa o impacto das impressoras 3D no mercado. A geração obriga a gente a se reinventar.”

TRANSgênero

Uma das mudanças da marca carioca é pensar o agênero com naturalidade. Em novembro, ela lançou sua primeira coleção desse tipo e já tem outra agendada para 2017. Mais tímida, a Youcom veicula o lookbook Tanto Faz, mostrando homens e mulheres usando as mesmas roupas da coleção.

Mais do que qualquer outra geração, os Gen Z não querem se encaixar em rótulos. Eles já misturam esses conceitos sem nem precisar discutir, como faz Jaden Smith, usando com maestria saias que em outro tempo seriam do armário da irmã, Willow. O ator e rapper virou um ícone nesse quesito e é um dos modelos na campanha de verão 2016 da linha feminina da Louis Vuitton.

TRANScendência

É um caminho sem volta, que vai resultar na geração Alpha (nascida depois de 2010), com conceitos de feminino e masculino muito mais diluídos do que os Z, que por sua vez já pensam muito diferente dos Y. Com seus integrantes mais velhos começando a escrever, pode-se dizer que são o começo de um mundo totalmente novo, para o qual a moda deve se transformar profundamente.

Eles já nasceram com telas touch na frente do rosto antes de poder falar. E, mesmo que essa hiperconexão preocupe os pais, ela também amplia o universo dessas crianças. Elas crescerão na era da explosão da inteligência artificial a serviço das pessoas, inclusive no sentido de ajudá-las a tomar decisões mais eticamente acertadas. Carol Althaller, que além de pesquisadora é mãe de Mia, 2 anos, vive essa mudança em casa. “É difícil falar de crianças Alpha sem falar nos pais millennial. A gente quer criá-los de forma responsável: só dar orgânicos, comprar brinquedos educativos, pensar numa escola inclusiva. Nos preparamos para o impacto ético que teremos na vida deles, para colocarmos em prática nossos ideais e nossas preocupações sociais, como o igualitarismo e a divisão de responsabilidades dentro de casa”, conta.

TRANSmutação

A tecnologia entra na vida deles de forma mais incisiva, inclusive na educação. Crianças frequentarão aulas de robótica e programação e usarão itens como óculos de realidade aumentada como um estímulo para o aprendizado. “Uma coisa é você aprender física baseado em uma fórmula. Outra é construindo algo. Isso muda nossa relação com a natureza e com os bens de consumo. Por que comprar algo se você sabe construir?”, explica Carol.

E assim cresce uma geração de mão na massa, que pode fazer, inclusive, suas próprias roupas. É o caso de Mayhem, a menina que aos 4 anos lançou uma coleção com a J. Crew. Se eles frequentam a fila A dos desfiles (oi, North West!), as marcas vão tentar fidelizá-los desde já. Ou melhor: vão acompanhar seus passos e tentar tê-los como aliados.

É claro que tudo isso se refere a jovens incluídos nos benefícios das novas tecnologias. Por outro lado, o grande trabalho será encontrar formas de distribuir melhor a riqueza e estender esses avanços a todos. Vem por aí uma era de intensa criatividade e solidariedade, principalmente a favor do coletivo. O futuro nunca foi tão promissor e desafiador.

 

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