Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A moda do futuro: Por que Stella McCartney está anos luz à frente das outras marcas de luxo

Você não precisa ser um especialista em Stella McCartney para saber que sustentabilidade e direitos animais são parte importante da mentalidade de sua marca, muito antes de virarem pauta na indústria da moda. A preocupação de Stella vem do berço – sua mãe, Linda McCartney, foi uma ativista em prol dos direitos animais – e ela foi criada em uma fazenda na Escócia, onde comiam vegetais que eles mesmos plantavam e meio ambiente era um assunto na mesa do jantar.

Assim, McCartney nunca usou couro, pele, pêlo ou penas naturais em nenhuma de suas coleções, um posicionamento difícil em uma indústria que lucra tanto da venda de acessórios de couro. Sua marca foi lançada em 2001, em uma parceria com a Kering (antigo Gucci Group), para quem ela vendeu 50% de sua grife justamente para ter controle igualitário e, assim, independência para fazer certas escolhas. Vale notar que todas as outras marcas adquiridas pelo conglomerado foram compradas por inteiro, ou seja, 100%.

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Já em sua segunda coleção, passou a usar algodão orgânico e logo evoluiu para sedas, lãs e polyester reciclados. O polyster é um dos vilões da indústria do vestuário: a grande maioria das camisetas, por exemplo, contém essa fábrica que leva 200 anos para se desintegrar. Segundo o documentário The True Cost, nós consumimos 80 bilhões de peças de roupa por ano – não precisamos ser matemáticos geniais ter ideia do tamanho do buraco que cavamos há décadas.

Hoje, ao menos metade das coleções de Stella McCartney é feita com materiais sustentáveis, o que a coloca anos luz à frente de qualquer outra marca do seu nicho.

A estilista que nunca deixou de buscar soluções, continua na ponta. Ela agora está colaborando com a startup Bolt Threads, criadora do Microsilk, material biológico que imita a seda real feita por aranhas, uma das mais fortes fibras naturais. O tecido foi lançado este ano no SXSW e deve entrar no mercado em quatro anos, mas Stella, claro, saiu na liderança. Juntos, eles criaram um vestido dourado que foi desenhado por ela, mas feito por eles. A peça foi vista na exposição Is Fashion Modern?, no MoMA.

O vestido criado por Stella e a Bold Threads / Reprodução
O VESTIDO CRIADO POR STELLA E A BOLT THREADS / REPRODUÇÃO

Além da Bolt Threads, outras startups têm estudado e criado alternativas a tecidos vindos dos animais, como a japonesa Sniber e a americana Modern Meadow. “A verdade é que se essas empresas conseguirem substituir seda, lã e algodão, nós temos um planeta”, diz em uma entrevista ao site Fast Company. “Considerando a magnitude do problema da evaporação de recursos, o número de pessoas trabalhando para mudar o material com o qual nos vestimos é absurdamente limitado”, diz Dan Widmaier, CEO da Bolt Threads. Os desafios desses novos materiais são sua produção em larga escala e durabilidade. Como ele deve ser cuidado? Pode ser lavado? De que maneira?

O trabalho que Stella faz com a Adidas há 12 anos também a ensinou muito sobre sustentabilidade na moda. Foi a Adidas que falou a ela sobre os males do PVC, por exemplo. “Não sabia que havia algo de errado com PVC (um dos plásticos mais tóxicos que existem), mas há muito de errado e ainda assim, diversas marcas trabalham com ele”. Com a gigante esportista, McCartney criou o Future Biofrabric Shoe, que teve seu protótipo lançado em 2016. O tênis, leve e durável, pode se dissolver e voltar para a terra.

Aliando-se à empresas que usam tecnologia e alta performance, ela criou um mercado. Sua expertise está em fazer roupas desejáveis, bonitas, contemporâneas e confortáveis, tudo o que os engenheiros, biólogos e citentistas por trás das inovações precisam. “Eu tenho muito respeito pela história e pelo ofício do que eu faço. Mas a maneira como as coisas são feitas, os materiais usados… Isso não muda há séculos. A seda tem sido usada da mesma forma por seis mil anos! Então há uma resistência a inovação”.

Por incrível que pareça, Stella passou anos sendo ridicularizada por ser vegetariana, por fazer roupas que não envolvem animais ou por se alinhar ao Peta. Mas ela nunca recuou tampouco perdeu a força. Ao contrário, sempre seguiu seu caminho criando de materiais a posições em sua empresa que pudessem ajuda-la a ser o mais sustentável possível. Há anos ela tem uma pessoa que atua como Chefe de Sustentabilidade e Comércio Ético, cujo trabalho é assegurar que as roupas sejam responsáveis desde o impacto humano até o impacto ambiental, e monitorando e desenvolvendo a inovação em áreas como a biologia sintética.

Sua marca tem mais de 700 funcionários e seu crescimento sempre foi mais estável do que bombástico. Mas são reflexos de sua escolha. Uma de suas bolsas mais vendidas, a Falabella, é feito de couro vegetariano e nylon feito de garrafas recicladas. “Ela acaba vendendo menos por causa desses materiais, mas é a escolha que fez”, diz a consultora Karen Harvey. “Por outro lado, sua voz, visão e convicções fazem com que ela seja muito influente e popular”. Ela não é a estilista que mais vende, também não é a mais imaginativa, mas seus valores a colocam muito à frente na construção da moda do futuro (próximo). Ela está muito mais em sintonia com as necessidades desses tempos e não precisa fazer nenhuma adaptação de sustentabilidade como todas as outras têm feito, algumas a duras penas.

Outro fato que mostra com clareza suas convicções é que ela se negou a vender a Care, sua linha de beleza 100% orgânica, na China porque lá a lei determina que tudo seja testado em animais. “Ninguém fala sobre isso, mas todas as marcas de beleza que são vendidas na China são testadas em animais. Todas”. Com essa atitude, a designer renuncia a milhões de dólares em receita.

Essa determinação inabalável é inspiradora e serve de exemplo para outras empresas. Quando fez sua linha com a H&M, a rede de fast fashion começou a introduzir iniciativas sustentáveis, entre elas uma que reuniu a própria Stella e a organização Ginetex. Eles criaram um sistema de educação do consumidor mostrando como o impacto diminui quando uma peça é bem cuidada. Lavar menos, por exemplo, é uma atitude simples e efetiva. Quando assinou uma coleção com a C&A Brasil, ela participou ativamente na escolha de todos os materiais usados.

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Outra luta de McCartney é com as árvores. Cerca de 120 milhões de árvores por ano são cortadas para a produção de viscose e ela, claro, foi a primeira designer de moda de luxo a banir essa prática e também a primeira a cancelar um contrato com um produtor de viscose. Hoje, 105 marcas, incluindo H&M, Levi’s e Marks and Spencer, já assinaram um acordo de usar apenas fornecedores certificados e conscientes. Gisele usou um modelo Stella McCartney verde no Green Carpet Fashion Awards, em Milão, neste ano.

Nenhuma mudança é completa sem a compreensão por parte do consumidor. “Eles precisam trazer a mesma mentalidade holística para a moda que trouxeram para a alimentação e a saúde. Tem que pressionar os produtores para saber a origem dos materiais e pressionar as marcas por mudanças”. E ao mesmo tempo em que tem orgulho em dizer que é a única marca de moda trabalhando dessa maneira, também se sente frustrada pois é uma mentalidade que já deveria estar mais adiantada. “Minha intenção é criar transformação verdadeira nessa indústria, que desesperadamente precisa”.

Aliando-se à empresas que usam tecnologia e alta performance, ela criou um mercado. Sua expertise está em fazer roupas desejáveis, bonitas, contemporâneas e confortáveis, tudo o que os engenheiros, biólogos e citentistas por trás das inovações precisam. “Eu tenho muito respeito pela história e pelo ofício do que eu faço. Mas a maneira como as coisas são feitas, os materiais usados… Isso não muda há séculos. A seda tem sido usada da mesma forma por seis mil anos! Então há uma resistência a inovação”.

Por incrível que pareça, Stella passou anos sendo ridicularizada por ser vegetariana, por fazer roupas que não envolvem animais ou por se alinhar ao Peta. Mas ela nunca recuou tampouco perdeu a força. Ao contrário, sempre seguiu seu caminho criando de materiais a posições em sua empresa que pudessem ajuda-la a ser o mais sustentável possível. Há anos ela tem uma pessoa que atua como Chefe de Sustentabilidade e Comércio Ético, cujo trabalho é assegurar que as roupas sejam responsáveis desde o impacto humano até o impacto ambiental, e monitorando e desenvolvendo a inovação em áreas como a biologia sintética.

Sua marca tem mais de 700 funcionários e seu crescimento sempre foi mais estável do que bombástico. Mas são reflexos de sua escolha. Uma de suas bolsas mais vendidas, a Falabella, é feito de couro vegetariano e nylon feito de garrafas recicladas. “Ela acaba vendendo menos por causa desses materiais, mas é a escolha que fez”, diz a consultora Karen Harvey. “Por outro lado, sua voz, visão e convicções fazem com que ela seja muito influente e popular”. Ela não é a estilista que mais vende, também não é a mais imaginativa, mas seus valores a colocam muito à frente na construção da moda do futuro (próximo). Ela está muito mais em sintonia com as necessidades desses tempos e não precisa fazer nenhuma adaptação de sustentabilidade como todas as outras têm feito, algumas a duras penas.

Outro fato que mostra com clareza suas convicções é que ela se negou a vender a Care, sua linha de beleza 100% orgânica, na China porque lá a lei determina que tudo seja testado em animais. “Ninguém fala sobre isso, mas todas as marcas de beleza que são vendidas na China são testadas em animais. Todas”. Com essa atitude, a designer renuncia a milhões de dólares em receita.

Essa determinação inabalável é inspiradora e serve de exemplo para outras empresas. Quando fez sua linha com a H&M, a rede de fast fashion começou a introduzir iniciativas sustentáveis, entre elas uma que reuniu a própria Stella e a organização Ginetex. Eles criaram um sistema de educação do consumidor mostrando como o impacto diminui quando uma peça é bem cuidada. Lavar menos, por exemplo, é uma atitude simples e efetiva. Quando assinou uma coleção com a C&A Brasil, ela participou ativamente na escolha de todos os materiais usados.

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Outra luta de McCartney é com as árvores. Cerca de 120 milhões de árvores por ano são cortadas para a produção de viscose e ela, claro, foi a primeira designer de moda de luxo a banir essa prática e também a primeira a cancelar um contrato com um produtor de viscose. Hoje, 105 marcas, incluindo H&M, Levi’s e Marks and Spencer, já assinaram um acordo de usar apenas fornecedores certificados e conscientes. Gisele usou um modelo Stella McCartney verde no Green Carpet Fashion Awards, em Milão, neste ano.

Nenhuma mudança é completa sem a compreensão por parte do consumidor. “Eles precisam trazer a mesma mentalidade holística para a moda que trouxeram para a alimentação e a saúde. Tem que pressionar os produtores para saber a origem dos materiais e pressionar as marcas por mudanças”. E ao mesmo tempo em que tem orgulho em dizer que é a única marca de moda trabalhando dessa maneira, também se sente frustrada pois é uma mentalidade que já deveria estar mais adiantada. “Minha intenção é criar transformação verdadeira nessa indústria, que desesperadamente precisa”.

POR CAMILA YAHN

http://ffw.uol.com.br/noticias/verde/a-moda-do-futuro-por-que-stell...

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  Nenhuma mudança é completa sem a compreensão por parte do consumidor. “Eles precisam trazer a mesma mentalidade holística para a moda que trouxeram para a alimentação e a saúde. 

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