Em entrevista sobre os números do primeiro trimestre, o CEO do grupo no Brasil, Stéphane Maquaire, afirmou que, apesar da queda, a empresa viu evolução desse formato ao longo do trimestre e está firme nos testes de preços mais competitivos e próximos aos de atacarejo. “Estamos seguindo a tendência de um consumidor mais endividado”, diz Maquaire. Ele explicou que a gestão tem cuidado da redução de custos para um melhor equilíbrio desse modelo. Assim, mesmo que as margens caiam, como aconteceu neste trimestre, seria possível equilibrar as contas.
O modelo de atacarejo é, por essência, um formato com menos itens disponíveis, prateleiras maiores para evitar a necessidade constante de reposição e menos serviços nas lojas, barateando os custos fixos dos estabelecimentos e se reflete em preços mais baixos. Assim, baixar os preços dos hipermercados, mas manter seus custos, teria um impacto direto nas margens do negócio. Na última divulgação do Carrefour, aliás, a margem bruta do varejo caiu 0,8 ponto porcentual em um ano, para 23,7%.
O curioso é que na época em que o GPA aplicou uma precificação parecida com o modelo de atacarejo à extinta bandeira do Extra Hiper, o então CEO do Carrefour, Noël Prioux, disse que a decisão levaria o modelo de hipermercado “ao cemitério”: “Um hipermercado que queira fazer o mesmo que o Atacarejo é um hipermercado que vai diretamente ao cemitério”. Em outubro de 2021, o hipermercado Extra de fato acabou, com as lojas sendo vendidas ao Assaí.
Outras receitas além das vendas
Yamashita explica, no entanto, que há motivos para fazer as bandeiras conviverem dentro do negócio. No braço financeiro da companhia, o Cartão Carrefour, usado no varejo do grupo, teve R$ 9 bilhões de faturamento no último trimestre ante R$ 5,9 bilhões do cartão Atacadão. Ou seja, o hipermercado traz mais fontes de receita do que apenas a venda para o negócio do grupo como um todo e, portanto, ainda é relevante para a companhia.
O presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, lembra também que os formatos de hipermercado e atacarejo convivem em outras empresas no País com sucesso. “Temos diversos modelos no Nordeste praticando isso, inclusive com lojas divididas em metade da área dedicada ao atacarejo e metade para o hiper ou supermercado. Acredito que esse seja um modelo de adaptação para lojas mais antigas de super ou hipermercados que precisam de uma estratégia de preço para a jornada de abastecimento do cliente”, explica Terra.
No limite, o Grupo Carrefour poderia simplesmente converter mais pontos de hipermercados para sua bandeira de atacarejo, o Atacadão. No momento, porém, a empresa deve seguir testando os limites do formato. Maquaire disse a investidores, na última teleconferência de resultados, que a empresa acredita nas lojas de hipermercado mantidas na carteira da companhia.
Na estratégia divulgada pelo Grupo Carrefour até aqui, a lógica é que a empresa entende que, pelo seu tamanho, tem uma vantagem competitiva em comparação com os demais varejistas. Um dos pontos de vantagem seria justamente a possibilidade de sustentar uma diversidade de portfólio para atender diferentes perfis de clientes.
Nesse sentido, o Grupo não deixa de apostar no modelo hiper, principalmente em se tratando de regiões, localidades e unidades em que considera que o formato tem bom desempenho. Já em locais onde o desempenho não é satisfatório, as lojas do hipermercado entram na “revisão de portfólio”: conversões para outros formatos ou fechamento.
Por Talita Nascimento
Fonte: Estadão
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