Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Impulsionados pela chegada da inteligência artificial e pelo cenário econômico atual, profissionais buscam segurança e estabilidade no regime CLT.
Conhecidos por sua vanguarda, os atores do setor de Tecnologia têm ido na contramão do mercado no quesito contratações. Se, por um lado, 59% dos brasileiros consideram melhor trabalhar por conta própria, ante 39% que preferem ser empregados de uma empresa – dados do levantamento DataFolha –, dentro da TI uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 67,7% dos profissionais autônomos desejam atuar no regime formal de trabalho, com carteira assinada.
Entre os autônomos formalizados (com CNPJ), 54,6% querem migrar para a CLT, enquanto entre os informais o índice chega a 72,1%. Entre os motivos mais recorrentes estão a busca por maior estabilidade e o desejo de segurança e previdência social.
Para o presidente do Sindpd/SP (Sindicato dos Trabalhadores em TI de SP), Antonio Neto, essa mudança de perspectiva representa uma maturidade do setor no período pós-pandemia, que sempre conviveu fortemente com a chamada pejotização – quando um funcionário é contratado em regime PJ, mas atua como CLT, para que a empresa não arque com encargos trabalhistas.
“Muita gente perdeu emprego na pandemia porque as empresas encolheram. E agora que elas começam a recontratar, esse profissional precisa de um pouco mais de segurança. Então, estamos num momento de transição do perfil do trabalhador de TI.”
A fala do sindicalista ecoa a opinião de Jhenyffer Coutinho, sócia e head da Experiência para Pessoas Candidatas na Gupy. Segundo a executiva, a busca por trabalhos CLT evidencia não só a mudança do profissional de tecnologia, mas também as transformações vividas no setor desde a chegada da inteligência artificial (IA). “É um momento em que esse profissional está vendo a IA entrando com força no mercado, em que algumas profissões estão sendo questionadas quanto à sua continuidade ou não.”
Por outro lado, um levantamento feito pela empresa a pedido do IT Forum mostrou um crescimento de 6% nas vagas anunciadas em modelo de contratação PJ, no segmento de tecnologia, e uma queda de cerca de 15% nas oportunidades CLT entre julho de 2024 e julho de 2025. Ainda assim, as posições em regime formal, no mesmo período, seguem majoritárias, com um total de 116.449 vagas, em comparação a 634 oportunidades PJ.
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De acordo com Jhenyffer, o aumento das vagas PJ também está relacionado ao período da análise. “Todo ano temos uma curva comum entre o primeiro semestre e o segundo. O primeiro semestre é sempre aquele momento de planejamento e organização. Já na segunda metade do ano, é a fase de execução. Existe uma sazonalidade natural, com mais contratações de PJs para dar celeridade aos processos”, explica a especialista.
Para ela, os números indicam ainda uma consolidação do modelo de contratação PJ dentro da categoria e a busca das empresas por reduzir custos. Na visão de Neto, muitas vezes essa é uma estratégia que pode sair cara às organizações no futuro, principalmente diante de uma possível venda da companhia. Entre diversas ações de conscientização, o Sindicato tem realizado tratativas com entidades representativas da indústria, como a Brasscom, por exemplo.
“O que as empresas entendem hoje também é que, além de a pejotização configurar fraude, ela gera concorrência desleal entre as organizações, que já enfrentam dificuldades para encontrar talentos”, enfatiza. Ainda segundo a pesquisa realizada pela FGV, diversas companhias também apontaram a escolha pelo regime CLT como forma de reter profissionais e reforçar a cultura organizacional.
Engenheira de software há quatro anos na Verde Asset Management, Isabella Oliveira é um dos casos de talentos retidos. Após se formar no Insper, iniciou a carreira com um contrato PJ, mas rapidamente quis trocar o modelo de contratação. “Na época, eu tinha um MEI, mas não gostei da experiência. Desde então, mesmo que apareçam outras oportunidades PJ, sempre recuso. Até porque, mesmo recebendo um valor mais alto, nunca vi uma proposta que compensasse ao calcular os benefícios”, conta.
Segundo o presidente do Sindpd/SP, esse tipo de experiência é mais comum entre quem está começando a carreira ou ainda não atingiu um nível de senioridade que permita salários mais elevados. “Geralmente, as empresas que vão pejotizar, e que nós acompanhamos junto ao Ministério Público do Trabalho, tentam fazer isso com profissionais que ganham entre 7 e 10 mil por mês e não têm força para revidar.”
Outra fonte, que preferiu não se identificar, afirmou que esse cenário é ainda mais frequente entre startups, o que dificulta a entrada de quem está no início da trajetória profissional. “Às vezes você quer começar, mas não consegue em uma empresa grande. Já as startups e companhias menores, além de contratarem como PJ, não ajudam a construir carreira, e você acaba entrando nesse limbo.”
Para Isabella, o modelo PJ faz mais sentido para aqueles que já possuem recursos financeiros e uma reserva maior para lidar com imprevistos. A CLT, por sua vez, seria uma forma de pensar no futuro diante do cenário atual. “Nós temos visto diversos lay-offs ultimamente, e me tranquiliza saber que 40% do meu FGTS estaria na minha conta se quisessem me demitir. E, principalmente em tecnologia, quando a empresa vai mal, nós somos os primeiros a ir embora.”
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