Madeira no DNA
Os irmãos Ewerton e Ana Paula Romano cresceram no chão de fábrica da empresa de brinquedos dos pais, em Bragança Paulista (SP). Um mercado extremamente competitivo, no entanto, fez o patriarca, seu Valdir, fechar as portas do negócio, em 2015.
Foi quando a ABC Brinquedos deu lugar à Babebi, uma marca que trouxe uma nova proposta para o mercado nacional.
“A Babebi nasce da conclusão de que não existia um brinquedo educativo no Brasil que fosse mais para loja, para o varejo. Porque o educativo era muito artesanal, tudo feito a mão”, explica Ewerton.
Assim como a Newart, a Babebi trabalha com madeira e embalagens certificadas, usa energia solar na fábrica e destina os restos de insumos a cooperativas da região.
Ewerton Romano também lembra da pandemia de Covid-19 como principal fator para impulsionar as vendas do setor e acredita que aquele momento foi importante também para virar uma chavinha na cabeça dos pais, que passavam mais tempo com seus filhos em casa.
“Quando eu era mais novinho, meu pai falava pra eu aprender no computador, ir pra tela. E anos depois a gente aprendeu que as telas em excesso acabam atrapalhando o desenvolvimento infantil. Depois que os profissionais entenderam e começaram a divulgar isso, os pais começaram a ficar mais conscientes”, lembra. “A pandemia também nos ajudou, porque as crianças tiveram que ficar em casa, então tínhamos que entretê-las enquanto a gente trabalhava. E uma das maneiras de entreter era o brinquedo”, explica.
Hoje, além das crianças, os brinquedos da Babebi são usados por profissionais de desenvolvimento infantil, como pedagogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Nos consultórios, eles viram ferramenta para o profissional conseguir “acessar” a criança.
“Eu acredito que o sucesso da Babebi se deve a esses dois fatores: a gente entrou em um nicho em que as famílias e os profissionais nos compram e nós usamos a madeira como matéria prima, que é um material mais nobre e sustentável, em um design e uma embalagem atrativos”, resume Ewerton.
Brincar com brinquedos
Os estudiosos dizem que os bebês que estão nascendo a partir de 2025 – a chamada geração beta – vão ter uma relação diferente com as tecnologias. Será a primeira geração a não conhecer o mundo sem a Inteligência Artificial e isso muda profundamente a forma como essas crianças vão aprender, se relacionar, brincar e consumir.
Para a geração Beta, a diferença entre o físico e o digital praticamente não existirá: a interação com assistentes de IA, brinquedos conectados e conteúdos personalizados vai fazer parte do cotidiano desde o berço.
Para a psicopedagoga, mestre em educação e gerente do SESI Mato Grosso, Simone Figueiredo Cruz, essa nova geração vai exigir que a indústria trabalhe em duas frentes simultâneas: criar experiências híbridas, capazes de dialogar com um público que vai ver o digital como extensão natural do brincar, e ao mesmo tempo desenvolver produtos analógicos, que garantam estímulos inegociáveis, que não podem ser desenvolvidos no mundo digital:
"Brincar faz parte dos rituais do nosso desenvolvimento. É por meio do brincar que nós construímos as percepções sobre o mundo e os papeis sociais que nós vivenciamos na vida adulta. A gente brinca daquilo que a gente vivencia. Quando a criança brinca de casinha ela está reproduzindo papeis que ela vê. Quem não brinca, perde esta oportunidade", explica.
Mas, da mesma forma que a brincadeira "analógica" é indispensável, Simone esclarece que o mundo digital também traz inúmeras oportunidades de aprendizagem que as gerações passadas não tiveram acesso. O problema das telas, na visão da especialista, está nos excessos e na falta de supervisão dos adultos.
"Quando a criança fica estática em uma tela, ela passa a ocupar o papel de observadora. Se ela ficar muito tempo nessa condição, passa a ter atrasos de fala, de linguagem, de interação. Ela aprende um comportamento introspectivo em que ela não precisa do outro para ser feliz. Fora os problemas de visão, de sono e síndromes que podem ser desenvolvidas", resume.
Por outro lado, a psicopedagoga lembra que os aplicativos de celular e as redes sociais trazem muitos conteúdos educativos, que, quando usados de forma responsável, são grandes aliados no aprendizado. Músicas para ajudar na alfabetização, programas para ensinar inglês, jogos de matemática, lógica e conhecimentos gerais são alguns exemplos.
Atravessando gerações
A corrida da indústria brasileira de brinquedos não é apenas por vendas no Natal, mas por relevância em um futuro em que sustentabilidade e tecnologia caminham lado a lado. Para o presidente da Abrinq, Synesio Costa, o setor só tem a ganhar com esse novo momento.
“A inteligência artificial nos brinquedos tende a avançar especialmente em inovação, materiais e design. Isso vai permitir a criação de brinquedos mais atrativos, que estabeleçam uma conexão mais profunda com o cérebro infantil. Sempre desejamos que a criança, ao olhar para uma boneca, sentisse vontade de interagir com ela e se encantar a ponto de querer levá-la para casa. Acredito que a IA vai nos ajudar justamente a chegar a esse nível de engajamento.”
Se conseguir equilibrar inovação digital com propósito ambiental — sem perder o encanto do brincar — o setor pode não só conquistar a Geração Beta, mas também ocupar um espaço estratégico no mercado global. Seja feito de bioplástico, madeira certificada ou conectado a um aplicativo, o brinquedo que atravessa gerações continua sendo aquele capaz de despertar algo simples e essencial: a imaginação.
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