CTOs brasileiros vivem contradição: inovação é prioridade, mas 65% trabalham com orçamento reduzido

CTOs brasileiros enfrentam demanda crescente por inovação, mas verba para novos projetos é entrave.

Imagem: Shutterstock

A tecnologia tornou-se sinônimo de sobrevivência empresarial no Brasil, mas quem lidera essa agenda enfrenta um paradoxo que desafia a lógica. A inovação precisa acelerar, enquanto os recursos encolhem. É o que revela a pesquisa inédita CTO Insights 2025, realizada pela Impulso com cem líderes de tecnologia de empresas brasileiras de diferentes portes e setores.

O levantamento mostra que equilibrar inovação com resultados de curto prazo é o segundo maior desafio para 59,8% dos CTOs. Ainda assim, 65,5% das empresas destinam no máximo 20% do orçamento para iniciativas de inovação e apenas 5,8% ultrapassam o patamar de 40% de investimento. Em paralelo, os custos para manter sistemas legados, a volatilidade econômica e a pressão por retorno imediato ampliam o aperto financeiro.

O cenário cria um ambiente de tensão permanente para a liderança tecnológica. “A distância entre ambição e realidade orçamentária obriga os CTOs a repensarem completamente suas estratégias”, afirma Sylvestre Mergulhão, CEO da Impulso. “Entre escolher inovar ou manter as operações, há a necessidade de fazer as duas coisas simultaneamente, porém tendo em mãos apenas uma fração do que seria ideal.”Para dar conta dessa pressão, os CTOs brasileiros assumiram um perfil

híbrido e cada vez mais estratégico. Segundo o estudo, 66,7% transitam entre o domínio técnico e o papel executivo, traduzindo complexidade tecnológica em impacto de negócio enquanto lidam com equipes reduzidas e orçamentos enxutos.

A pressão por talentos é outro vetor crítico. Recrutar profissionais qualificados é o principal obstáculo para 64,3% dos líderes. A equação é circular: sem recursos, é mais difícil atrair especialistas; sem eles, a inovação fica comprometida. Mergulhão reforça que o futuro passa por modelos de acesso mais flexíveis a expertise. “Estratégia e talento precisam caminhar juntos. Isso exige novas formas de acessar conhecimento, seja via parcerias, outsourcing qualificado ou desenvolvimento interno acelerado.”

Mesmo com restrições, tecnologia avança

Apesar do clima de contenção, as empresas brasileiras seguem modernizando sua infraestrutura. Mais de 70% já adotaram nuvem, 57,5% trabalham com microsserviços e DevOps/CI-CD, e 56,3% usam IA e Machine Learning, ainda que de forma gradual. A projeção para 2026 reflete pragmatismo: o foco está em tecnologias que geram valor direto dos dados, como processamento inteligente (58,6%), LLMs (48,3%) e ML/Deep Learning (44,8%).

O avanço da IA é particularmente revelador do paradoxo. Metade das empresas investe menos de R$ 100 mil anuais em projetos do tipo, enquanto só 3,5% superam R$ 10 milhões. Ainda assim, 69% já usam IA para automação interna e 57,5% em atendimento ao cliente. O gargalo central não é só dinheiro é gente. Para 54% dos CTOs, falta capacitação específica, seguida por barreiras culturais e expectativas irreais.

“A IA está acessível, mas o conhecimento para implementá-la de forma estratégica não está”, analisa Mergulhão. “Muitas empresas subutilizam o potencial porque faltam profissionais capazes de fazer as perguntas certas”, completa.

Pessoas no centro do orçamento

Se a inovação sofre com restrições, o investimento em pessoas recebe prioridade absoluta. Mais da metade das empresas destina entre 21% e 40% do orçamento de tecnologia ao capital humano, e o índice chega a 94,2% quando consideradas organizações que investem até 60%.

O motivo é evidente: 79,3% relatam dificuldades para contratar ou reter talentos, especialmente em posições sêniores. A escassez atravessa todos os níveis para metade das companhias, reforçando que fortalecer equipes deixou de ser escolha para se transformar em condição básica de avanço tecnológico.

Outsourcing deixa de ser só custo e vira estratégia

No meio desse impasse, o outsourcing aparece como válvula de escape estratégica. Segundo a pesquisa, 58,6% das empresas já utilizam o modelo, buscando principalmente qualidade técnica (63,2%), custo (42,5%) e fit cultural (32,2%). A terceirização passa a ser vista não apenas como mecanismo de redução de despesas, mas como caminho para acessar rapidamente especialistas, reduzindo ciclos de contratação de meses para semanas em modelos como Talent as a Service.

Para Mergulhão, trata-se de uma mudança estrutural na forma como os times de tecnologia se organizam. “Não há inovação sem pessoas preparadas. O desafio dos CTOs é conciliar velocidade, qualidade e escassez de talentos. O outsourcing bem-feito não substitui a equipe interna ele a potencializa”, finaliza ele.

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