Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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As Flores e a Moda .A eterna inspiração primaveril na moda

Por João Braga

 

As Flores e a Moda

A eterna inspiração primaveril na moda

 

 

Dos elementos da natureza, sem dúvida alguma as flores são as mais inspiradoras para o universo da moda. Ao longo do tempo, as flores sempre serviram de ornamento em diversas áreas criativas e até mesmo ajudaram a definir a gramática dos estilos com suas formas concretas (realistas), estilizadas (ou derivadas) e/ou abstratas como maneira de expressão estética. Esse diálogo é um tanto quanto intenso com o mundo da moda, ajudando, inclusive, a datar o tempo dentro dos períodos históricos no que diz respeito à maneira de se vestir e se ornamentar.

Seja pela riqueza de formas e cores ou pela proximidade com o universo feminino por representar um princípio ativo, as flores sempre serviram de inspiração para os ornatos de diversas épocas e áreas e, na moda, deixaram e ainda deixam uma grande contribuição de simbologias, especialmente pelo aspecto da transitoriedade, pois as flores também simbolizam a efêmera duração da vida e dos prazeres e suas alegorias associam-se aos atributos da primavera, da aurora, da juventude, das virtudes e da beleza e, portanto, aí talvez esteja a sua grande relação com a moda, que também é efêmera e normalmente associada à juventude e à beleza.

Por intermédio de estampas, bordados, acessórios e outros complementos de moda, as flores ilustram a identidade dos estilos e, consequentemente, da própria moda, em especial a feminina, apesar de também aparecer na moda masculina.

Partindo da Idade Moderna, os períodos do Renascimento, Barroco e Rococó tiveram os motivos florais como elementos decorativos para os tecidos especialmente pelo fato de os jardins terem adquirido novas interpretações e leituras e, consequentemente, as flores neles cultivadas tornaram-se grandes referências para a moda.

Já no século XIX, as flores estiveram presentes em todos os estilos de moda da centúria, especialmente no romantismo, que não só utilizava esses elementos no setor têxtil como também nos adornos que complementavam as roupas. Os xales, que estiveram muito em voga durante todo o século, também utilizaram as flores para ornamentá-los e dar-lhes toques femininos.

Entre o fim do século XIX e o princípio do XX, no período denominado de belle époque, houve o desenvolvimento da estética do art nouveau, que teve uma estreita ligação com as flores pela grande inspiração nas formas orgânicas da natureza, usando estilizações das flores em estampas para tecidos (de moda e/ou decoração), bordados e, especialmente, nas joias que tinham formas curvilíneas derivadas da inspiração orgânica. Até mesmo o corpo feminino era extremamente delicado, com a cintura muito afunilada, o que criou a “silhueta ampulheta” para aquela “mulher corola”, ou seja, frágil como uma flor.

Já no século XX, inúmeros foram os momentos de moda nos quais as flores serviram de inspiração. Os anos 1920 estilizaram-nas em formas geométricas de inspiração na estética do art déco. Os anos 1930 usaram flores miúdas na estamparia de moda. Contudo, foi na década de 1950, período de muita sofisticação na moda especialmente pelo viés da alta-costura, que os motivos florais alegres e coloridos estiveram muito presentes tanto em estamparia quanto em bordados e aplicações, possivelmente para celebrar a alegria de viver e esquecer as penúrias de guerra advindas da década anterior.

Já nos anos 1960, as flores na moda ganharam nova identidade ideológica e visual devido à Guerra do Vietnã, que fez surgir o movimento hippie. Os jovens, especialmente os norte-americanos, tornaram-se pacifistas universais, privilegiando elementos da natureza e, assim, as flores em grandes e coloridas proporções serviram de elementos decorativos para as roupas de então. Sem esquecer, obviamente, de um slogan muito emblemático do movimento que favorecia o poder da natureza via flores, ou seja, flower power. Essa moda dos hippies e suas associações com as flores perduraram nos anos 1970. Nessa mesma década, surgiram também o conceito e a ideologia de moda do novo romantismo (New Romantic), que privilegiavam flores miúdas em roupas de estilo campestre e ingênuo.

As décadas de 1890 e 1990 também tiveram seus diálogos com as flores, especialmente pelo viés da alta-costura. Lembremos do costureiro francês Christian Lacroix, que sempre teve a temática floral como identidade de suas propostas.

Vale também ressaltar os vestidos de noiva, que muito utilizam as flores como forma de ornamentação em rendas, bordados, aplicações e, lógico, no uso do buquê, que nos faz lembrar que a flor antecede o fruto na natureza e, portanto, simboliza a prole que nascerá da relação afetiva do casal.

Independentemente deste breve relato histórico, ainda hoje as flores aparecem nas coleções de moda, simbolizando o poder da natureza e a analogia com o eterno feminino. Coloridas, neutras ou pretas e brancas; em estampas, rendas ou bordados; chapadas, tridimensionais ou estilizadas de outras maneiras, as flores nos acalentam em formas, cores e também em perfumes. A moda nunca deixou de se inspirar nas diversas flores existentes e, nesta chegada da primavera 2014, vale essa breve lembrança.

 

João Braga é estilista, escritor e professor de história da moda das faculdades Faap e Santa Marcelina e da Casa do Saber.

Foto: Fernando Silveira/Faap/Divulgação

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/28/materia/voce-sabia.html

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Parabéns João, pelo texto, muito bom mesmo. quando vem ao Rio de Janeiro fazer uma palestra na Casa do Sader . Regina Ferreira

  A moda nunca deixou de se inspirar nas diversas flores existentes

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