Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Detox de compras: por que ficar sem consumir roupas virou solução para problemas psicológicos ou financeiros

Passar um ano sem fazer compras te parece desafiador? Entenda porque algumas pessoas optam por essa saída.

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Que atire o primeiro cartão de crédito quem nunca se mimou com um vestido novo depois de um dia difícil ou passou em uma loja para desestressar. O fato é que a sensação de comprar é prazerosa momentaneamente e, para alguns, pode ser difícil encontrar limites. Seja nas lojas de Instagram que se proliferam, seja em uma volta no shopping,fazer compras tornou-se um escape da realidade para muitos - com consequências financeiras e psicológicas reais.

O psicanalista Vinicius Romangnolli explica que “o desejo atualmente está atravessado pela sociedade de consumo, que cria produtos o tempo todo em uma lógica insana do obsoletismo programado.” Assim, passar ileso ao desejo criado pela ideia de que os produtos têm um valor efêmero é uma tarefa quase impossível. Soma-se a isso o fato de vivermos na era do crédito: “A sociedade enfatiza a fruição do momento presente, deixando para lá o que vem no futuro, inclusive a fatura do cartão de crédito”, explica Vinicius.

E se “a existência na sociedade do consumo depende do consumo como forma de afirmação”, conforme conta ele, o consumo gera uma ansiedade compulsiva de busca pelo prazer, diretamente ligado à experiência de compra. Sintomas de ansiedade e até mania, atrelada à bipolaridade, são cada vez mais frequentes em pacientes que enfrentam uma compulsão por compras. Além dos impactos psicológicos, vêm também os financeiros. Para driblar tais efeitos, muitos encontram no detox a solução de seus problemas. Trata-se da ideia de ficar um período sem compras: podem ser seis meses ou até um ano sem gastos com supérfluos como roupas, sapatos e acessórios.


Detox de compras (Foto: Getty)


Além das motivações com gastos e a angústia gerada pelo consumo, outro fator interessante que pode levar à decisão é a promoção de uma reflexão sobre os impactos da indústria da moda. O relatório Pulse of The Fashion Industry 2018 prevê que até 2030 a população global consumirá 102 milhões de toneladas de roupas por ano. De acordo com a ONG Remake, 75 milhões de pessoas trabalham na produção de roupas hoje, sendo que 80% delas são mulheres com idades entre 18 e 24 anos. O consumo de recursos naturais e descarte do montante produzida também é chocante: o desperdício é de um caminhão de lixo têxtil por segundo. Não à toa, interromper a relação com essa produção surge como solução tanto a nível pessoal - rever o consumo - como a nível global - questionar a quantidade de resíduo gerado e as condições de trabalho do meio.

Detox de consumo na prática

Sentindo falta de informações palpáveis sobre o detox de compras, a designer Antonella Vanoni iniciou neste ano o desafio “365 dias sem brusinha”, e optou por compartilhá-lo com seus 30 mil seguidores noInstagram. O motivador da decisão não foi particularmente um consumo exacerbado, explica ela, mas a forma como ela consumia roupas. “Percebi que estava com um acúmulo de roupas. Em 2018, me mudei para São Paulo. Como não havia feito uma limpa no armário antes da mudança, achei que estava com uma quantidade excessiva, e também ganhei muitas roupas nas festas de fim de ano”, conta ela. Somou-se a isso uma viagem planejada para o segundo semestre, o que a levou a experimentar o período detox e, de quebra, juntar dinheiro.

“Minha intenção, mais do que incentivar as pessoas a ficarem sem comprar, é levantar questionamentos sobre nossa relação com consumo”, desenvolve Antonella. Ela diz que sempre gostou de temas como moda sustentável e consciência ambiental, mas o desafio fez esse interesse crescer substancialmente. “Passei a ir ativamente atrás de informações sobre armário cápsula e impacto da indústria da moda, e não faria isso se não fosse pelo desafio.”


A designer Antonella Vanoni optou pelo detox de compras em 2019 (Foto: Reprodução/Instagram)


Em termos pessoais, ela avalia o impacto como positivo. “Depois da metade do projeto, eu sinto que vai se tornando mais fácil, porque a consciência se estende para outros âmbitos. Minhas compras de artigos para casa e até supermercado foram ressignificadas. Tem momentos específicos em que é frustrante ir contra a maré do consumismo e do capitalismo como um todo, mas isso passa”, divide.

Se o objetivo principal de Antonella era rever a maneira como se relacionava com moda, ela considera que obteve êxito. “Consegui entender melhor meu estilo, saber o que não tem mais a ver comigo e analisar quais são minhas roupas preferidas. Hoje sei que peças fazem falta e eu sei que consumirei de forma mais inteligente quando voltar a fazer compras.”

Psicologicamente, é um caminho válido?

Se o passaporte de existência na sociedade de consumo é a compra constante, abrir espaço para questionar esse modelo é saudável e importante, avalia o psicanalista Vinicius Romagnolli. Contudo, é necessário entender se o exercício de interromper o ciclo de compras não é um mera fuga da realidade. “Pode ser apenas uma defesa momentâneapara afastar eventuais angústias e, quando encerrado esse período, o problema volta à tona”. Enfrentar um consumo exacerbado de compras e a ansiedade por ele gerada deve ocorrer a partir de um tratamento contínuo, frisa o especialista.

JULIANA CUNHA

https://revistamarieclaire.globo.com/Moda/noticia/2019/07/detox-de-...

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Psicologicamente, é um caminho válido?

Se o passaporte de existência na sociedade de consumo é a compra constante, abrir espaço para questionar esse modelo é saudável e importante, avalia o psicanalista Vinicius Romagnolli. 

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