No ano de 2021 comemora-se 100 anos do nascimento da estilista mineira Zuzu Angel, que nasceu em 5 de junho de 1921, no município de Curvelo, cidade com aproximadamente 80 mil habitantes e a 168 km de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais.
Seu nome de batismo era Zuleika de Souza Netto, (1921-1976), e passou a se chamar Zuleika Angel Jones em virtude de seu casamento com o norte-americano Norman Angel Jones, em 1943, de quem se separou em 1960. Os dois tiveram três filhos Stuart, o primogênito, que nasceu em 1947, Hildegard, nascida em 1949, e Ana Cristina, em 1952.
Zuzu Angel começou sua carreira costurando para suas primas e tornou-se referência para a moda nacional e, posteriormente, para a moda internacional, pois foi a primeira estilista brasileira a valorizar os costumes e os objetos nacionais para construir coleções que refletiam a cultura brasileira.
Até então vigorava em nosso país o uso pelos estilistas brasileiros da inspiração no trabalho dos estilistas das grandes maisons europeias, principalmente as parisienses, para construir às coleções.
Assim, Zuzu Angel foi responsável por inserir fitas de gorgorão, chita, fragmentos de bambu, pedras locais e conchas em peças de moda que inicialmente escandalizaram e depois encantaram a sociedade brasileira. Ela também foi responsável pela incorporação da renda nas peças do vestuário da moda brasileira que até a década de 1970 era usada apenas nos panos de cozinha.
Ao valorizar os elementos nacionais como cores, estampas e formas em suas coleções ela criou identidade própria para a moda brasileira. Ademais seu trabalho não priorizava apenas a elite brasileira, mas também as consumidoras comuns.
Tinha bom relacionamento com personalidades como a primeira-dama Sara Kubistchek e a atriz Joan Crawford fato que a ajudou a conquistar uma maior clientela e a aumentar o seu destaque na moda brasileira além de dar origem ao seu primeiro desfile internacional, que aconteceu na loja Bergdorf Goodman, em Nova York. Nesse desfile Zuzu Angel apresentou as linhas Mulher Rendeira, Maria Bonita e Carmen Miranda, todas explorando ícones representativos da cultura brasileira, e usou peças e acessórios inspirados no cangaço, renda e sensualidade. Essas coleções foram um sucesso e conquistaram fãs importantes para a grife, como as atrizes Liza Minnelli e Kim Novak. No Brasil, celebridades como Bibi Ferreira, Isabel Ribeiro, Marieta Severo e Beth Carvalho já reconheciam o seu talento ao usarem suas criações.
A estilista também foi a pioneira ao usar a moda como forma de protesto, fato que ocorreu após a prisão de seu filho Stuart, ativista que desapareceu em 1971, após ser preso por militares da ditadura. Suas criações a partir desse evento começaram a incorporar elementos que denunciavam a situação política brasileira e as estampas tropicais deram lugar a pássaros em gaiolas, tanques, balas de canhão, pombas e, claro, anjos, coleção que foi apresentada à época em um desfile-protesto no consulado brasileiro em Nova Iorque.
Zuzu Angel morreu em 14 de abril de 1976, em um acidente na saída do Túnel Dois Irmãos, na estrada da Gávea, no Rio de Janeiro, e sua história já foi contada inúmeras vezes. Só em livros, foram três: o póstumo Eu, Zuzu Angel, Procuro Meu Filho (1986), de Virginia Valli, irmã de Zuzu (no site Estante Virtual, alguns exemplares são vendidos por até R$ 200), a antologia ilustrada 50 Brasileiras Incríveis Para Conhecer Antes de Crescer (2017), da jornalista e escritora Débora Thomé; e o infantojuvenil Zuzu (2019), do jornalista e escritor David Massena.
Em outubro de 1993, Hildegard Angel filha de Zuzu Angel criou o Instituto Zuzu Angel de Moda (IZA), situado no Rio de Janeiro, uma entidade civil sem fins lucrativos com a finalidade de chamar a atenção para a indústria da moda, formar novos profissionais para o setor e valorizar as diversas manifestações da moda nacional.
O Instituto Zuzu Angel de Moda tem um dos maiores acervos de moda do país e já realizou eventos importantes como o I Congresso Brasileiro de Moda, com a participação dos estilistas Givenchy e Oscar de La Renta, e a assinatura de convênios com escolas internacionais da área para possibilitar a realização de intercâmbio estudantil.
FONTE JORNAL TRIBUNA
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