Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Reciclagem de tecidos serve para produzir cobertores, colchões, estofados e até produtos plásticos, mas faltam incentivos e regulação para impulsionar.

Você sabe o que fazer com roupas em más condições, inadequadas para doação? Diferentemente de materiais como papel e plástico, que você pode colocar no lixo reciclável onde há coleta seletiva, o caminho da reciclagem de tecidos é outro. De todas as roupas do mundo, hoje só 1% é reciclado, de acordo com o estudo Fios da moda: perspectiva sistêmica para circularidade, elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com a Modefica.

No Brasil, as razões para isso são diversas: barreiras tecnológicas, conscientização dos consumidores, incentivos para empresas na economia circular e a falta de melhor regulação que inclua todas etapas do processo, desde a coleta seletiva.

Para começar, não é toda roupa que é reciclável. Algodão, jeans, poliéster e viscose podem passar pelo processo, mas couro e paetê, por exemplo, não. A mistura de materiais na mesma peça ou no mesmo fio também é um complicador.

Para o consumidor, o primeiro passo é levar as roupas para pontos de coleta especializados para que cheguem até organizações especializadas em reciclagem ou upcycling. Upcycling é o processo de dar novos usos a produtos antes condenados ao descarte. Um exemplo na moda é aproveitar tecidos de coleções passadas para criar novas peças.

Conheça algumas opções locais que recolhem roupas:

  • Ecoestilo: as lojas Renner contam com 330 pontos de coleta de roupas limpas. O material vai para um centro de distribuição e depois é encaminhado para parceiros do Programa de Logística Reversa, responsáveis pela triagem entre o que pode ser doado e o que vai para reciclagem. Desde 2017, foram 43 toneladas de roupas para reciclagem, reutilização por upcycling ou doação.
  • Movimento ReCiclo: disponível em 206 lojas da C&A, o projeto aceita roupas, bonés, sunga, maiô e biquíni, lençol, fronha, edredom, cobertores, colchas e toalha de mesa, além de retalhos. Não são aceitos materiais de couro, ainda que sintético, uniformes com marcas estampadas, toalhas e roupa íntima. As peças rasgadas e os retalhos vão para a Retalhar, projeto que transforma esse material em matéria-prima para a indústria.
  • Reserva Circular: a loja Reserva também coleta roupas que podem se transformar em cobertores para pessoas em situação de rua, por exemplo. Não são aceitos acessórios, roupas íntimas nem roupas de cama ou banho e o consumidor ganha 15% de desconto. 
  • Cotton Move: o aplicativo tem duas frentes de atuação. Uma delas é criar uma rede de economia circular, integrando pontos de coleta, como os citados [saiba mais sobre o projeto abaixo]. Foram 325 toneladas de resíduos têxteis coletados desde 2014, 750 mil peças de roupas desenvolvidas usando fibras recicladas e 32 mil produtos feitos a partir do upcycling. 
  • O Recicla Sampa, na cidade de São Paulo, reúne pontos de coleta, que incluem algumas das iniciativas anteriores. A capital paulista também conta com o Recicla Jeans, parceira da ONG Florescer com a prefeitura e a Unesco para produção de peças e acessórios a partir da reciclagem de jeans e resíduos têxteis.
  • Meias do bem: a Puket recolhe meias para transformar em cobertores doados para pessoas . Em mais de dez anos, foram 1,8 milhões de meias recebidas, 32 toneladas recicladas e 55.742 cobertores doados. 

O tamanho do setor têxtil no Brasil e no mundo

No mundo, do total de fibras usadas para produzir roupas, 87% vão para aterros ou são incineradas, o que representa uma perda de US$ 100 bilhões anualmente, de acordo com o relatório A New Textiles Economy: Redesigning fashion’s future, da Fundação MacArthur. Só na cidade de Nova York, isso representa um custo de US$ 20 milhões por ano.

Além de mitigar o impacto com o descarte, o uso de roupas recicladas evita o uso de mais insumos para produção têxtil, desde materiais químicos (pesticidas, solventes, e pigmentos), além do consumo de água. De acordo com o relatório da MacArthur, são cerca de 93 bilhões de metros cúbicos por ano no mundo para produção de roupas.
 

Caixa com símbolo de reciclagem e braços de mulher colocando roupas dentro

A reciclagem têxtil ainda tem muito espaço para crescer. Um exemplo é a reciclagem do poliéster, a fibra mais usada no mundo. No Brasil, de acordo com o último Censo da Reciclagem do PET, foram recicladas 311 mil toneladas de PET em 2016 (55% da produção total). Desse total, 22% foram destinado à indústria têxtil. Um dos usos mais comuns é em revestimentos automotivos. 

O Brasil está entre os cinco maiores produtores e consumidores de denim do mundo e entre os quatro maiores produtores de malhas. No Ocidente, é o único país com a cadeia têxtil completa, desde a produção das fibras, como plantação de algodão, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e forte varejo, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Segundo a associação, foram 8,07 bilhões de peças e 2,1 milhões de toneladas produzidas em 2022.


A valorização dos resíduos é uma das formas de promover um modelo de produção mais sustentável, baseado na economia circular. Além da confecção de roupas com matéria-prima já existente, outra medida possível é a criação de produtos atemporais, sem se guiar por tendências específicas. Também faz parte a reciclabilidade, que é fabricar com poucos materiais ou com materiais separáveis, facilitando a reciclagem.


Depois da coleta: o caminho da reciclagem têxtil

Para cada tipo de fibra, existe um processo diferente de reciclagem. As técnicas se dividem entre a mecânica e a química. A primeira também é conhecida como desfibragem usada, por exemplo, com o algodão. Ela consiste basicamente em desfazer o tecido, que pode virar novos fios, colchão ou revestimentos de carro, por exemplo.  

Já as fibras sintéticas, como o poliéster, produzido a partir do petróleo, passam pela reciclagem química. "É possível pegar uma camiseta de time de futebol, que é 100% poliéster ou poliamida, se for de boa qualidade, e fazer óculos, calota de automóvel, um pedaço do painel do carro. É um material que poderá retornar ao seu ciclo produtivo ou fornecerem matéria prima para componentes automotivos e acessórios pessoais", explica José Guilherme Teixeira, fundador e diretor do Cotton Move.

Envolvido com iniciativas sustentáveis desde 1998, o administrador e design de moda quis criar uma rede que integrasse todos envolvidos em uma economia circular do setor. “De 2018 a 2020 a gente conseguiu conectar alguns parceiros da indústria têxtil e criar um modelo de negócios no qual a gente consegue coletar o resíduo têxtil e devolver para o mercado em forma de produto no mesmo setor e segmento”, conta.

O projeto também recicla algodão e transforma em novos produtos, todos rastreados com tecnologia blockchain, a partir dos dados próprios e das informações fornecidas pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A ideia é conscientizar o consumidor da importância de saber como as roupas são produzidas.

Além de criar uma rede de economia circular, o projeto também recicla algodão e transforma em novos produtos, todos rastreados com tecnologia blockchain pela plataforma  Quipotech, a partir dos dados próprios e das informações fornecidas pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A ideia é conscientizar o consumidor da importância de saber como as roupas são produzidas.

Mão de mulher com anel costurando tecido em máquina de costura

Reciclagem pré-consumo: o que fazer com sobras de tecidos?

O estudo Reciclagem industrial e reuso têxtil no Brasil: estudo de caso e considerações referentes à economia circular, publicado em 2017, identificou 21 empresas de reciclagem têxtil no Brasil. Muitas são especializadas na etapa pré-consumo, ou seja, na reciclagem de resíduos gerados na fabricação de roupas, tecidos e fios, antes dos produtos chegarem nas prateleiras.  É o caso, por exemplo, do que sobra quando um tecido é cortado na fábrica para se encaixar no molde na hora de produzir uma camiseta.

Artesãos, alfaiates, estilistas e mesmo empresas precisam dar um destino às sobras de tecidos. Uma das opções é o Banco de Tecidos. Funciona assim: quem tem sobras de tecidos pode vender para o banco e ficar com um crédito, que pode ser usado para comprar outros tecidos na plataforma.

Já a Renovar produz materiais que podem ser usados na produção de colchões, cobertores e enchimentos de almofadas ou de brinquedos, além de novos tecidos. Tudo é feito a partir de resíduos têxteis gerados na fabricação de roupas, tecidos e fios.

O projeto Retalhar, por exemplo, parceiro da Cotton Move, é focado principalmente na transformação de uniformes em produtos com outras finalidades, usados na construção civil e na indústria automobilística, por exemplo. As roupas passam pela trituração e desfibramento. A iniciativa contabiliza mais de 274 mil kg de uniformes reaproveitados na produção de mais de 861 mil peças, sendo mais de 90 mil cobertores distribuídos para pessoas em situação de rua. O volume de resíduos reaproveitados seria suficiente para encher 548 carros populares.

Galho de algodão com tecido branco embaixo

É mais fácil reciclar no pré-consumo do que no pós, quando a roupa está pronta, por questões diversas, como custos maiores de logística, transporte e higienização, por exemplo. Além do fato que as fibras de roupas não têm a mesma resistência à tração quando comparadas às fibras dos resíduos têxteis pré-consumo. 

“Hoje é muito mais interessante reciclar o retalho da confeção, anterior ao consumo, do que a roupa. A roupa dá mais trabalho porque tem que tirar o aviamento, tem que dar vários cortes. Para destruir a roupa demora mais do que para destruir o retalho”, conta Carlos Roberto Novelini Júnior, dono da JF Fibras. 

A empresa trabalha com a produção de materiais a partir de retalhos e de uniformes. O desfibrado do jeans azul, por exemplo, pode virar enchimento de bicho de pelúcia, revestimento acústico residencial ou de automóveis ou panos de limpeza. 

São 3 mil toneladas por mês de retalhos e os planos de expansão dependem da oferta de insumos. “Somos o maior fabricante de fibras recicladas da América do Sul, mas muito material é descartado de forma errada em aterros sanitários e terrenos baldios. Para a gente aumentar nosso volume de venda, a gente precisa aumentar o volume de compra”, explica Novelini.

O que precisa para reciclagem têxtil ser competitiva no Brasil?

Apesar do grande volume de resíduos produzidos no Brasil - só na região do Brás, no centro de São Paulo, são coletadas 45 toneladas de resíduo têxtil por dia, segundo o estudo da FGV - algumas empresas que reciclam retalhos precisam comprar de outros países porque não há no Brasil um sistema consolidados para que esse insumo vire novos produtos. 

Em 2015, foram quase 9 mil toneladas de retalhos importados, segundo o estudo Reciclagem industrial e reuso têxtil no Brasil: estudo de caso e considerações referentes à economia circular. Os desafios apontados pela publicação para o uso de insumos nacionais são lixo descartado com sujeira
e mistura de diferentes matérias-primas, alto custo de mão de obra para separar materiais, falta de fiscalização e de incentivos tributários para comercialização dos produtos, custos de transporte e de logística, dentre outros.

“A gente tem que bater o escanteio e fazer o gol de cabeça ao mesmo tempo”, resume Novelini, da Jf Fibras. A empresa faz parcerias com algumas prefeituras de cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais para instruir o manejo dos resíduos. “O que é tratado como lixo muitas vezes para gente é matéria-prima. Eles precisam aprender a trabalhar com o resíduo para que ele tenha valor e possa ser aproveitado pela cooperativa da cidade”, completa.

O conjunto de instrumentos para viabilizar a coleta e restituição dos resíduos sólidos para reaproveitamento ou destinação ambientalmente adequada chama logística reversa. No Brasil, ela é prevista pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei 12.305/10) e essas cadeias são estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por acordos setoriais e termos de compromisso, que são atos contratuais pactuados entre o poder público e privado.

Simplificar a operação do sistema de logística reversa e instituir uma política nacional de economia circular efetiva são dois pontos cruciais para impulsionar a economia circular no Brasil apontados no Plano de Retomada da Indústria, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Alguns dos aspectos a serem aprimorados são:

  • Estabelecer uma base de dados governamental integrada;
  • Definir uma instância de governança da Política Nacional de Economia Circular, com participação do setor produtivo;
  • Estimular a implantação de empresas de reciclagem e a harmonização de regras adotadas para a logística reversa entre os estados e municípios, incluindo a implementação dos instrumentos econômicos previstos na PNRS;
  • Permitir que produtos e embalagens obtidos da logística reversa não tenham as mesmas restrições ambientais de resíduos até o seu processamento ou reciclagem.
Equipamento de fiação com fios brancos

Economia circular nas indústrias brasileiras

Um dos grandes desafios para as empresas brasileiras é ter um processo de reciclagem mais eficiente e de menor custo. Hoje, as etapas acarretam novas tributações e muitas vezes o produto reciclado é mais caro de produzir do que um produto novo.

Em 2019, 76,4% das indústrias brasileiras adotavam alguma prática circular, segundo pesquisa da CNI. Desse total:

  • 56,5% atuavam na otimização de processos, com medidas como redução do desperdício de materiais;
  • 37,1% com insumos circulares, vindos de reparos, reciclagem ou recursos renováveis, dentre outros; 
  • 24,1% com recuperação de recursos, como a troca de resíduos entre empresas;
  • 22,9% com extensão da vida do produto por meio de ecodesign ou manutenção;
  • 20% por meio do oferecimento de serviços com produtos já existentes;
  • 16,5% pela substituição de infraestrutura física por serviços digitais;
  • 15,9% compartilhamento de produtos fora de uso para terceiros.

Em um contraponto à produção linear, a economia circular associa o desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais, por meio de novos modelos de negócios e da otimização nos processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis. A economia circular não é só gestão de resíduos e reciclagem, mas o redesenho de processos, produtos e modelos de negócio.

Para saber se a sua empresa está inserida nesse modelo de produção sustentável, a Rota de Maturidade em Economia Circular pode te ajudar. E de graça! Desenvolvida pela CNI, a ferramenta permite que as empresas façam uma auto-avaliação e recebam um diagnóstico sobre o grau de adoção de práticas de economia circular. A partir desse relatório, a ferramenta apresenta recomendações, com sugestões de práticas que podem ser implementadas para alavancar a sustentabilidade da organização.

Você sabe o que fazer com roupas em más condições, inadequadas para doação? Diferentemente de materiais como papel e plástico, que você pode colocar no lixo reciclável onde há coleta seletiva, o caminho da reciclagem de tecidos é outro. De todas as roupas do mundo, hoje só 1% é reciclado, de acordo com o estudo Fios da moda: perspectiva sistêmica para circularidade, elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com a Modefica.

No Brasil, as razões para isso são diversas: barreiras tecnológicas, conscientização dos consumidores, incentivos para empresas na economia circular e a falta de melhor regulação que inclua todas etapas do processo, desde a coleta seletiva.

Para começar, não é toda roupa que é reciclável. Algodão, jeans, poliéster e viscose podem passar pelo processo, mas couro e paetê, por exemplo, não. A mistura de materiais na mesma peça ou no mesmo fio também é um complicador.

Para o consumidor, o primeiro passo é levar as roupas para pontos de coleta especializados para que cheguem até organizações especializadas em reciclagem ou upcycling. Upcycling é o processo de dar novos usos a produtos antes condenados ao descarte. Um exemplo na moda é aproveitar tecidos de coleções passadas para criar novas peças.

Conheça algumas opções locais que recolhem roupas:

  • Ecoestilo: as lojas Renner contam com 330 pontos de coleta de roupas limpas. O material vai para um centro de distribuição e depois é encaminhado para parceiros do Programa de Logística Reversa, responsáveis pela triagem entre o que pode ser doado e o que vai para reciclagem. Desde 2017, foram 43 toneladas de roupas para reciclagem, reutilização por upcycling ou doação.
  • Movimento ReCiclo: disponível em 206 lojas da C&A, o projeto aceita roupas, bonés, sunga, maiô e biquíni, lençol, fronha, edredom, cobertores, colchas e toalha de mesa, além de retalhos. Não são aceitos materiais de couro, ainda que sintético, uniformes com marcas estampadas, toalhas e roupa íntima. As peças rasgadas e os retalhos vão para a Retalhar, projeto que transforma esse material em matéria-prima para a indústria.
  • Reserva Circular: a loja Reserva também coleta roupas que podem se transformar em cobertores para pessoas em situação de rua, por exemplo. Não são aceitos acessórios, roupas íntimas nem roupas de cama ou banho e o consumidor ganha 15% de desconto. 
  • Cotton Move: o aplicativo tem duas frentes de atuação. Uma delas é criar uma rede de economia circular, integrando pontos de coleta, como os citados [saiba mais sobre o projeto abaixo]. Foram 325 toneladas de resíduos têxteis coletados desde 2014, 750 mil peças de roupas desenvolvidas usando fibras recicladas e 32 mil produtos feitos a partir do upcycling. 
  • O Recicla Sampa, na cidade de São Paulo, reúne pontos de coleta, que incluem algumas das iniciativas anteriores. A capital paulista também conta com o Recicla Jeans, parceira da ONG Florescer com a prefeitura e a Unesco para produção de peças e acessórios a partir da reciclagem de jeans e resíduos têxteis.
  • Meias do bem: a Puket recolhe meias para transformar em cobertores doados para pessoas . Em mais de dez anos, foram 1,8 milhões de meias recebidas, 32 toneladas recicladas e 55.742 cobertores doados. 

A reciclagem têxtil ainda tem muito espaço para crescer. Um exemplo é a reciclagem do poliéster, a fibra mais usada no mundo. No Brasil, de acordo com o último Censo da Reciclagem do PET, foram recicladas 311 mil toneladas de PET em 2016 (55% da produção total). Desse total, 22% foram destinado à indústria têxtil. Um dos usos mais comuns é em revestimentos automotivos. 

O Brasil está entre os cinco maiores produtores e consumidores de denim do mundo e entre os quatro maiores produtores de malhas. No Ocidente, é o único país com a cadeia têxtil completa, desde a produção das fibras, como plantação de algodão, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e forte varejo, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Segundo a associação, foram 8,07 bilhões de peças e 2,1 milhões de toneladas produzidas em 2022.


A valorização dos resíduos é uma das formas de promover um modelo de produção mais sustentável, baseado na economia circular. Além da confecção de roupas com matéria-prima já existente, outra medida possível é a criação de produtos atemporais, sem se guiar por tendências específicas. Também faz parte a reciclabilidade, que é fabricar com poucos materiais ou com materiais separáveis, facilitando a reciclagem.


Reciclagem pré-consumo: o que fazer com sobras de tecidos?

O estudo Reciclagem industrial e reuso têxtil no Brasil: estudo de caso e considerações referentes à economia circular, publicado em 2017, identificou 21 empresas de reciclagem têxtil no Brasil. Muitas são especializadas na etapa pré-consumo, ou seja, na reciclagem de resíduos gerados na fabricação de roupas, tecidos e fios, antes dos produtos chegarem nas prateleiras.  É o caso, por exemplo, do que sobra quando um tecido é cortado na fábrica para se encaixar no molde na hora de produzir uma camiseta.

Artesãos, alfaiates, estilistas e mesmo empresas precisam dar um destino às sobras de tecidos. Uma das opções é o Banco de Tecidos. Funciona assim: quem tem sobras de tecidos pode vender para o banco e ficar com um crédito, que pode ser usado para comprar outros tecidos na plataforma.

Já a Renovar produz materiais que podem ser usados na produção de colchões, cobertores e enchimentos de almofadas ou de brinquedos, além de novos tecidos. Tudo é feito a partir de resíduos têxteis gerados na fabricação de roupas, tecidos e fios.

O projeto Retalhar, por exemplo, parceiro da Cotton Move, é focado principalmente na transformação de uniformes em produtos com outras finalidades, usados na construção civil e na indústria automobilística, por exemplo. As roupas passam pela trituração e desfibramento. A iniciativa contabiliza mais de 274 mil kg de uniformes reaproveitados na produção de mais de 861 mil peças, sendo mais de 90 mil cobertores distribuídos para pessoas em situação de rua. O volume de resíduos reaproveitados seria suficiente para encher 548 carros populares.

Galho de algodão com tecido branco embaixo

É mais fácil reciclar no pré-consumo do que no pós, quando a roupa está pronta, por questões diversas, como custos maiores de logística, transporte e higienização, por exemplo. Além do fato que as fibras de roupas não têm a mesma resistência à tração quando comparadas às fibras dos resíduos têxteis pré-consumo. 

“Hoje é muito mais interessante reciclar o retalho da confeção, anterior ao consumo, do que a roupa. A roupa dá mais trabalho porque tem que tirar o aviamento, tem que dar vários cortes. Para destruir a roupa demora mais do que para destruir o retalho”, conta Carlos Roberto Novelini Júnior, dono da JF Fibras. 

A empresa trabalha com a produção de materiais a partir de retalhos e de uniformes. O desfibrado do jeans azul, por exemplo, pode virar enchimento de bicho de pelúcia, revestimento acústico residencial ou de automóveis ou panos de limpeza. 

São 3 mil toneladas por mês de retalhos e os planos de expansão dependem da oferta de insumos. “Somos o maior fabricante de fibras recicladas da América do Sul, mas muito material é descartado de forma errada em aterros sanitários e terrenos baldios. Para a gente aumentar nosso volume de venda, a gente precisa aumentar o volume de compra”, explica Novelini.

Alguns dos aspectos a serem aprimorados são:

  • Estabelecer uma base de dados governamental integrada;
  • Definir uma instância de governança da Política Nacional de Economia Circular, com participação do setor produtivo;
  • Estimular a implantação de empresas de reciclagem e a harmonização de regras adotadas para a logística reversa entre os estados e municípios, incluindo a implementação dos instrumentos econômicos previstos na PNRS;
  • Permitir que produtos e embalagens obtidos da logística reversa não tenham as mesmas restrições ambientais de resíduos até o seu processamento ou reciclagem.
Equipamento de fiação com fios brancos

Economia circular nas indústrias brasileiras

Um dos grandes desafios para as empresas brasileiras é ter um processo de reciclagem mais eficiente e de menor custo. Hoje, as etapas acarretam novas tributações e muitas vezes o produto reciclado é mais caro de produzir do que um produto novo.

Em 2019, 76,4% das indústrias brasileiras adotavam alguma prática circular, segundo pesquisa da CNI. Desse total:

  • 56,5% atuavam na otimização de processos, com medidas como redução do desperdício de materiais;
  • 37,1% com insumos circulares, vindos de reparos, reciclagem ou recursos renováveis, dentre outros; 
  • 24,1% com recuperação de recursos, como a troca de resíduos entre empresas;
  • 22,9% com extensão da vida do produto por meio de ecodesign ou manutenção;
  • 20% por meio do oferecimento de serviços com produtos já existentes;
  • 16,5% pela substituição de infraestrutura física por serviços digitais;
  • 15,9% compartilhamento de produtos fora de uso para terceiros.

Em um contraponto à produção linear, a economia circular associa o desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais, por meio de novos modelos de negócios e da otimização nos processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis. A economia circular não é só gestão de resíduos e reciclagem, mas o redesenho de processos, produtos e modelos de negócio.

Para saber se a sua empresa está inserida nesse modelo de produção sustentável, a Rota de Maturidade em Economia Circular pode te ajudar. E de graça! Desenvolvida pela CNI, a ferramenta permite que as empresas façam uma auto-avaliação e recebam um diagnóstico sobre o grau de adoção de práticas de economia circular. A partir desse relatório, a ferramenta apresenta recomendações, com sugestões de práticas que podem ser implementadas para alavancar a sustentabilidade da organização.

Por: Marcella Fernandes

Fotos: Sergio Lima/CNI e Shutterstock

Da Agência de Notícias da Indústria

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