A sua missão é amplificar o artesanato “Made in Nigeria”.
“Gostaria que essas marcas estrangeiras indicassem nos seus produtos: ‘originalmente da Nigéria’ e ‘feito na Itália’, ‘feito na França’ ou em outro lugar, porque a maioria não o faz”, afirmou Omiyi.
Segundo a agência de promoção das exportações do país, a Nigéria exporta 90% do seu couro, sobretudo para Itália e Espanha, que, em conjunto, representam cerca de três quartos do volume total.
As exportações de couro geram cerca de 600 milhões de dólares em receitas anuais, disse Oluwole Oyekunle, investigador do Instituto Nigeriano de Ciência e Tecnologia do Couro, em Samaru, no norte do estado de Kaduna.
Em Kano, um estado no norte da Nigéria, as grandes marcas internacionais de luxo se abastecem de couro através de intermediários que as colocam em contato com os coureiros.
O estado conta com 11 curtumes.
A Ztannery, em atividade desde 2010, recebe diariamente dezenas de peles frescas de cabra e de ovelha provenientes de toda a Nigéria e de países vizinhos. São selecionadas e tratadas ao longo de nove dias.
“Processamos desde o zero até à fase de semiacabado do couro, o que representa 80% de todo o processo”, disse o proprietário da empresa, Abbas Hassan Zein, de 47 anos.
“Os intermediários enviam as peles para a Europa, onde são submetidas a tratamento adicional antes de serem vendidas a marcas de luxo como Gucci, Ferragamo, Prada, Louis Vuitton — todos os grandes nomes”, acrescentou Zein.
“É aqui que o ‘Made in Nigeria’ se perde e os 10% restantes acabam por surgir como ‘Made in Italy’ ou ‘Made in China’”, acrescentou.
Os curtumes modernos, com maquinaria de ponta, como a Ztannery, só aceitam grandes encomendas pagas em dólares ou euros, o que corta o acesso a criadores locais que prefeririam pagar em moeda local.
Muitos recorrem ao tradicional curtume Majema, fundado em 1932 no coração da cidade de Kano.
Aqui, tudo é feito manualmente. Dezenas de coureiros limpam e tingem as peles diretamente no chão de terra batida, entre sacos de plástico e garrafas.
“Os nossos clientes vêm do norte e do sul, e também exportamos para países vizinhos como Níger, Camarões, Chade, Cotonou (Benim), e para a Europa”, disse Mustapha Umar, 52 anos, gestor do curtume, diante de peles de cabra penduradas em arames, à espera de serem tingidas no dia seguinte.
Em 2017, Femi Olayebi, fundadora da marca nigeriana FemiHandbags, criou a Feira do Couro de Lagos — um evento anual que reúne cerca de 100 profissionais do couro no principal polo comercial da Nigéria.
“Havia necessidade de uma plataforma dedicada a designers, produtos e fornecedores de couro, que demonstrasse que os nigerianos, com os seus próprios recursos, são capazes de criar artigos que valem a pena comprar”, disse Olayebi.
Os empreendimentos públicos e privados estão crescendo no setor, no país mais populoso de África.
Em Kano, produtores indianos, chineses e alguns europeus — não necessariamente das grandes marcas — “começaram a mostrar interesse em vir para aqui fabricar”, disse Tijjani Sule Garo, da GB Tannery, uma empresa familiar já na terceira geração.
Em agosto, o governo do estado de Lagos inaugurou uma fábrica de artigos de couro no bairro de Mushin, com o objetivo de criar 10.000 postos de trabalho. O local fica perto de um dos maiores mercados de couro do país.
Para competir com os gigantes mundiais da indústria do couro, Olayebi sublinha a necessidade de “melhores máquinas, melhor acesso a couro nigeriano de alta qualidade e, acima de tudo, melhor formação”.
Para David Lawal, de 26 anos, gestor de marca na Morin.O, tudo se resume a promover uma identidade nigeriana.
Muitos clientes procuram uma “expressão atemporal do patrimônio”, narrada através de produtos de couro criados na Nigéria e fabricados por nigerianos, afirmou Lawal.