Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Expectativa é que produção em massa do novo material seja iniciada em dois anos, com aplicações que vão da área de autopeças até coletes à prova de balas

Séculos antes do Homem-Aranha, as pessoas tentaram cultivar a seda dos aracnídeos, uma fibra tão unicamente poderosa que não só prende insetos, mas também pode servir como um tecido altamente durável.

Retirar o fio de uma aranha, no entanto, é extremamente vagaroso. E colocar aranhas demais juntas faz com que elas se tornem hostis e inclinadas a matar umas às outras.

Agora, uma empresa japonesa iniciante chamada Spiber Inc. afirma ter produzido um fio de teia de aranha artificial que, segundo el, tem uma resistência à tração igual à do aço, mas é ao mesmo tempo flexível como a borracha. A empresa espera poder atingir a produção em massa dentro de dois anos, possivelmente abrindo as portas para a criação de autopeças, materiais cirúrgicos e coletes à prova de balas mais leves, mas também mais fortes.

"O fio da aranha é um material incrível, tão leve e ao mesmo tempo tão forte e flexível. Ele pode absorver tanta energia", disse o presidente da Spiber, Kazuhide Sekiyama, que teve a ideia de reproduzir o fio de teia de aranha na faculdade durante uma conversa de noite inteira regada a drinques.

Um teste fundamental será a resistência que o fio terá quando a Spiber começar a produzi-lo em massa, um problema que já desafiou pesquisadores no passado. A Spiber afirma que precisa experimentar maneiras diferentes de proteger o fio, incluindo possivelmente revestir as fibras com uma resina. Como toda matéria orgânica, o fio da Spiber acaba se rompendo com o tempo.

A Spiber pretende atingir a produção de uma tonelada de seda de aranha em 2015. Ela planeja triplicar a sua produção mensal até novembro, para cerca de 100 quilos.

Apelidados de Qmonos, o que em japonês significa literalmente "teia de aranha", o fio da Spiber é o último exemplo de biomimetismo, um campo da ciência que procura replicar como as coisas funcionam na natureza para resolver problemas humanos. Exemplos bem-sucedidos incluem a invenção do Velcro pelo engenheiro suíço George de Mestral, em 1941, ao observar carrapichos grudados no seu cachorro, e mais recentemente o desenvolvimento de um adesivo resistente a altas temperaturas da empresa japonesa Nitto Denko, que analisou como os pés das lagartixas aderem a superfícies.

A seda de aranha há muito é o Santo Graal do biomimetismo. O fio de teia de aranha pode ser esticado 40% além do seu comprimento original sem se romper. Mais forte do que o aço ao mesmo peso e duas vezes mais elástico do que o nylon, uma teia de aranha feita de fios da espessura de um lápis seria forte o suficiente para parar um jato em pleno voo, dizem alguns especialistas. Durante séculos, a seda foi colhida e usada como linha de pesca, pela sua elasticidade, e para tratar de feridas, por suas propriedades antibacterianas.

Muitos tentaram resolver o enigma de recriar a seda de aranha. Um empreendimento promissor foi a Nexia Biotechnologies, sediada em Montreal, que modificou cabras geneticamente para produzir leite contendo seda de aranha. A empresa, que em 2000 arrecadou US$ 42,4 milhões em uma oferta pública inicial de ações, fechou em 2009, quando não conseguiu tornar sua pesquisa comercialmente viável.

"O sucesso da Spiber se baseia na semelhança entre seu fio e o natural", disse Shigeyoshi Osaki, um professor de medicina da Nara Medical University que coleta fios de teia de aranha e mostrou como um fio de quatro milímetros de espessura, produzido com cerca de 190 mil fios individuais de teia, poderia suportar todo o seu peso.

A estrutura molecular da proteína da seda de aranha é longa e complexa. Isso dá ao fio o equilíbrio ideal entre elasticidade e resistência, mas também torna sua reprodução mais difícil e cara. As empresas podem até conseguir replicar partes da proteína, mas é sua estrutura molecular que dá ao fio de teia de aranha a sua resistência, disse Osaki. A Spiber não divulga detalhes sobre a composição dos seus fios.

A Spiber disse que resolveu um problema que confundiu os cientistas por anos - como reproduzir a ação giratória das aranhas e desvendar o mistério de como elas tecem os fios - ao encontrar sua própria maneira de fazer os fios.

Sua técnica é usar a bioengenharia para criar bactérias com DNA apropriado para produzir a proteína da teia de aranha, e então isolar essa proteína transformando-a em um pó que pode ser passado por um orifício na ponta de uma agulha, formando um fio fino. Um grama da proteína produz cerca de 9 quilômetros de seda, quase a altura do monte Everest.

Desde que divulgou sua técnica de produção, em agosto do ano passado, a Spiber afirmou que recebeu mais de uma centena de pedidos de colaboração em projetos. Com 750 milhões de ienes (US$ 7,6 milhões) de investimentos da fabricante de autopeças Kojima Industry Co., a Spiber inaugurou este mês um centro de protótipos e uma planta piloto em Tsuruoka, no noroeste do Japão.

A Spiber, que tem um capital de 780 milhões de yens oriundo de financiamentos do Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, da Keio University e da prefeitura de Yamagata, onde sua fábrica está localizada, afirmou que tem a vantagem da velocidade contra as concorrentes, como a alemã AMSilk GmbH e o laboratório americano Kraig Biocraft Laboratories Inc.

Ela afirmou que pode criar um fio de teia de aranha com diferentes capacidades em menos de três dias e já tem um portfólio de 250 tipos diferentes de fios que pode produzir.

Aranhas reais têm cerca de sete tipos. Uma coleção de diferentes tipos de fios - resistente, elástico ou adesivo - atenderia a uma ampla gama de aplicações.

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