Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Qual é o trabalho de um cool hunter e por que ele é importante para as confecções?

Surgido nos anos 1990, o termo cool hunting é a observação das pessoas e do mundo, ou seja, o cool hunter pesquisa, observa e analisa o que vai virar tendência nos próximos anos. Esse profissional está ganhando espaço na área de moda, mas também trabalha nos campos de propaganda e marketing, psicologia e design.

Curioso, pesquisador, com sensibilidade para anteceder movimentos do futuro ou percepção para analisar movimentos do presente, o profissional observa em 360º graus tudo o que está acontecendo, em várias áreas, não só em moda. Formada em gestão em negócios da moda, especialista em semiótica e com diversos cursos no currículo, inclusive feitos em Nova York e Paris, Janaína Salgado trabalha como cool hunter desde 2006. “Meu trabalho é direcionado para a indústria de moda e confecção. Analiso muito o comportamento, as direções que as coisas estão tomando com relação ao consumo e ao mercado. Trabalho com semiótica para desvendar os signos. Analiso tudo o que está para acontecer e não posso errar”, comenta. Janaína, que atualmente trabalha para a Têxtil Leitão, de Americana (SP), costuma viajar e utilizar informações dos sites WGSN e Carlin, que oferecem serviços de pesquisa de tendências.

Um bom exemplo de que o trabalho do cool hunter é importante para as confecções foi o boom da atriz Angelina Jolie, que retirou os seios no ano passado. Com isso surgiu o movimento Think Pink, com o símbolo da campanha contra o câncer de mama em fita pink. “O pink não vendia nas coleções, pois nos últimos anos a mulher se equiparou ao homem na questão financeira, e acabou se revestindo de homem. A moda andrógina dos anos 1990 foi forte com a camisaria, mas nos anos 2000 ficou somente na passarela, quando a mulher ganhou confiança novamente. O pink voltou, todas voltaram a vestir a cor e a apoiar a luta contra o câncer de mama. O meu trabalho foi visualizar isso antes de virar moda”, explica Janaína. A profissional estudou e continua estudando sociologia, antropologia, semiótica e de tudo um pouco. Com esse entendimento, ela explica que a mulher quer ser cortejada, assumir sua feminilidade novamente, e isso se reflete na venda dos produtos. “Meu papel é ver a transformação da sociedade refletindo no produto. Vários tons de pink estão em alta. Revistas nacionais e internacionais estão confirmando isso”, completa.

 

Janaína Salgado, cool hunter desde 2006. FOTO: Silvia Boriello

 

No começo, o trabalho era tímido, mas agora as empresas estão vendo os benefícios que o profissional pode trazer para seus negócios. “Quando comecei a trabalhar, as empresas eram resistentes, porque se achavam autossuficientes. Com a tecnologia em alta, as pessoas começaram a se falar, ou seja, não ter um cool hunter dentro da empresa é perder mercado. É bom ter uma visão de fora. De um tempo para cá, nosso campo de trabalho cresceu, as empresas viram que iriam precisar do nosso trabalho, viram que para se adequar às necessidades de agora iriam precisar de um cool hunter. As empresas podem se planejar hoje em dia e apostar nas tendências graças ao trabalho do cool hunter. Não tem perda de investimento, tem lucro”, revela Janaína.

A profissional fez cursos de semiótica e descobriu o que era cool hunter em Nova York. Depois disso, fez um curso de cool hunting de cores, assistiu a palestras de consumo, passou a ler revistas sobre os assuntos mais variados possíveis. “O cool hunter nunca pode ter preconceito, tem que ser imparcial, eclético, e estar aberto a tudo. Você tem que pesquisar o passado, viver o presente e vislumbrar o futuro. Absorvo tanta informação que nem sei mais os meus gostos. Gosto de tudo”, brinca Janaína, que ainda estuda arte, principalmente após a moda ter virado arte nos anos 2000. “Até então a moda era consumo, hoje ela vem através da arte”.A rotina de trabalho de Janaína é repleta de visitas a sites de tendências, blogs de moda influentes, estudos, organização, desfiles. “Disseco o desfile, pego as principais informações do que foi mostrado e transformo em tendências e estampas”, conta Janaína.

Jornalista especializada em moda e comportamento, cool hunter e consultora criativa, Rozze Angel acredita que se enganam quando pensam que ser cool hunter é enxergar o que é bacana, quando, na verdade, o profissional tem que ir além. “Ele tem que não só entender e detectar as tendências, como mostrar suas implicações no consumo e traduzi-las em produtos e serviços. Criei uma metodologia de cool hunting que tem três fases: a da investigação, a da inspiração e a da interpretação. Ou seja, primeiro se investiga e detecta os comportamentos/tendências, depois se seleciona o que realmente interessa para o seu produto/serviço e se cria, a partir disso, um conceito, e, por último, com base nesse conceito, se parte para a criação”.

Rozze é cool hunter há mais de dez anos. “Quando comecei a pesquisar mais as tendências, principalmente de comportamento, nem existia direito a denominação cool hunter. Como jornalista de moda, fui me especializando em tendências porque eu sempre tive um olhar mais lapidado e analisava desde bureaux de estilo até as tendências das principais feiras internacionais. Cruzava as informações com o que eu via nas ruas, nas viagens. Sempre enxerguei esses sinais, essas direções de comportamento. Desde percepções mais simples, como sacar qual seria a it bag da temporada, até as mais complexas, como quando eu afirmava, anos atrás, que os jovens estavam mudando e que, por exemplo, deixariam de querer um carro quando fizessem 18 anos e optariam por viagens, cursos no exterior etc. Lembro que, quando eu disse isso, disseram que eu estava louca e, hoje, a indústria automobilística percebeu isso e está tentando de tudo para recuperar seus consumidores, até fazer carro com conexão wi-fi”, revela.

Segundo a profissional, o cool hunter permite que as empresas produzam o que será consumido, saibam qual é o público e o que os consumidores estão buscando. “Nas confecções, esse processo é ainda mais dinâmico, porque se cria algo que tem que ser consumido entre três e seis meses, ou seja, uma temporada”.

Quando falamos em rotina, Rozze fala que não tem uma e que seu trabalho se confunde com sua vida pessoal. “O tempo todo estou pesquisando. Vou a feiras, eventos, lançamentos, mas também vou ao cinema, exposições, vernissages. Fico atenta a todas as formas de manifestações possíveis. Tenho um bookmark organizado em meu computador e que vale ouro (risos). Hoje sou muito digital, mantenho bibliotecas virtuais, com livros e revistas do mundo todo. Tenho correspondentes em algumas partes do mundo que me mantêm atualizada sobre o que está acontecendo. Leio muito. Escrevo muito. Sou muito curiosa e extremamente seletiva. Ter filtros para separar o que realmente tem importância é essencial.” Para o segundo semestre de 2014, Rozze prevê o lançamento de seu livro Cool, que fala sobre cool hunting, processo criativo e pesquisa, baseado na metodologia utilizada pela profissional.

 

Rozze Angel, Jornalista especializada em moda e comportamento, cool hunter e consultora criativa. FOTO: Divulgação

 

A importância do profissional para o mercado de trabalho

 

O mercado já conseguiu ver a importância do trabalho de cool hunting para o crescimento e os acertos nas produções, evitando prejuízos. Para Jo Souza, coordenadora da pós-graduação em moda e coordenadora do curso de extensão Cool Hunting: Reconhecimento de padrões e estratégias, do Centro Universitário Senac, o cool hunter, também conhecido como retriever (cão de caça), é especialista em detectar as tendências ou previsões de comportamento que modificarão todas as configurações de consumo e mercado. Assim, partindo da pergunta “O que vai ser usado ou consumido?”, ele vai mapeando os diferentes territórios: moda, música, arte, televisão, cinema, internet e turismo até chegar a uma coleta de informações que vão direcionar a produção de mercadorias.

 

Jo Souza, coordenadora e professora do curso de pós-graduação em cool hunting do Centro Universitário Senac. FOTO: Eri Nascimento

 

Ângela Valiera, conselheira de carreiras em moda do Carreira Fashion e coordenadora do EnModa, conta que o profissional também é chamado de trend hunter, cool searcher, trend scouter e maven, mas também existem variações dessa profissão. “O trend forecaster é o profissional que tem como objetivo prever tendências a médio e longo prazo por meio do estudo e da análise das sociedades e mercados, verificando seu possível impacto e sugerindo novos produtos, negócios e nichos de mercado. Já o trend spotter identifica tendências por meio da observação, definição, compreensão e análise quantitativa e qualitativa de tendências. Ele trabalha diretamente no campo cruzando informações de nível social, cultural e econômico. E o fashion forecaster pesquisa as macrotendências e suas aplicações diretas no segmento de moda. Circula pelo o mercado, participa de feiras e eventos de moda e de negócios, pesquisa em sites e desenvolve fontes próprias de pesquisa. Há também o trend setter, influencer ou innovator, que é uma espécie de formador de opinião. Ele não é um pesquisador de tendências e sim uma pessoa que é analisada pelos pesquisadores, pois é alguém que de alguma forma influencia, lança tendências e se destaca pela diferença e inovação.”

Jo Souza afirma que esse é um trabalho muito importante para a indústria de confecção, pois a pesquisa vai além de copiar ou reproduzir o que existe no mercado. “Apostar no ‘novo’ seria o grande diferencial mercadológico para as empresas, pois apostar na inovação pode modificar e fortalecer a identidade da marca. Ir além”. A coordenadora do Senac explica a diferença entre a pesquisa de mercado e o trabalho de cool hunting. “A pesquisa de mercado no formato tradicional é calcada em dados qualitativos e quantitativos, ou seja, entrevistas, abordagem direta ou indireta com os consumidores, por isso é um método mais pragmático e resistente a mudanças. Já o cool hunting não trabalha com o método fechado em si, mas na articulação da etnossemiótica, antropologia e intuição para perceber e analisar o macroambiente como um todo. O olhar cool hunting é uma antena parabólica que capta as recorrências e reiterações do cotidiano que vão se transformar em tendências de consumo”.

Quando perguntamos sobre o mercado de trabalho para esse profissional, Jo acredita que ele está em expansão, pois cada vez mais as empresas percebem a importância do profissional dentro do quadro de funcionários, já que ele vai oxigenar as informações entre a empresa, o mercado e o consumidor. Para Ângela, muitos profissionais querem atuar nessa área, que traz consigo uma imagem de poder e certo glamour, principalmente em função das constantes viagens internacionais que são necessárias. Contudo, a preparação para atuar nessa área é complexa. “O profissional precisa ter mais duas línguas fluentes além do português, um rico repertório cultural, uma sólida base de história da indumentária e da moda, bons conhecimentos em sociologia, boa capacidade de análise de perfil do consumidor, empatia, conhecimentos de marketing, forte capacidade analítica, raciocínio lógico, detalhismo, criatividade, visão do todo e capacidade de decisão para assumir apostas”.

 

 

Ângela Valiera, conselheira de carreiras em moda do Carreira Fashion e coordenadora do EnModa. FOTO: Divulgação

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/25/materia/mercado.html

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Quando perguntamos sobre o mercado de trabalho para esse profissional, Jo acredita que ele está em expansão, pois cada vez mais as empresas percebem a importância do profissional dentro do quadro de funcionários.

Ângela Valiera, conselheira de carreiras em moda do Carreira Fashion e coordenadora do EnModa, conta que o profissional também é chamado de trend hunter, cool searcher, trend scouter e maven, mas também existem variações dessa profissão.

Romildo, Boa tarde

 

Poderia passar o contato da Jô Souza?

 De acordo com o relatado "...“O profissional precisa ter mais duas línguas fluentes além do português, um rico repertório cultural, uma sólida base de história da indumentária e da moda, bons conhecimentos em sociologia, boa capacidade de análise de perfil do consumidor, empatia, conhecimentos de marketing, forte capacidade analítica, raciocínio lógico, detalhismo, criatividade, visão do todo e capacidade de decisão para assumir apostas”.

 

Aonde tem um curso que forma um profissional com tantas habilidades, é minha indagação?

 

Grata

 

Marilan 

Jo Souza, coordenadora e professora do curso de pós-graduação em cool hunting do Centro Universitário Senac.

Marilan Mota Jadão disse:

Romildo, Boa tarde

 

Poderia passar o contato da Jô Souza?

 De acordo com o relatado "...“O profissional precisa ter mais duas línguas fluentes além do português, um rico repertório cultural, uma sólida base de história da indumentária e da moda, bons conhecimentos em sociologia, boa capacidade de análise de perfil do consumidor, empatia, conhecimentos de marketing, forte capacidade analítica, raciocínio lógico, detalhismo, criatividade, visão do todo e capacidade de decisão para assumir apostas”.

 

Aonde tem um curso que forma um profissional com tantas habilidades, é minha indagação?

 

Grata

 

Marilan 

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