Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O impacto das recentes alterações das políticas do governo chinês em relação à produção e venda de algodão, nomeadamente em termos de incentivos, está a causar muitas dúvidas no mercado mundial desta matéria-prima, a que se soma a concorrência das fibras sintéticas e a seca nos EUA.
 

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O princípio da incerteza

Várias mudanças na política do algodão na China nos últimos meses viram não só o governo a pôr fim aos preços garantidos pagos aos agricultores de algodão, como também uma redução no preço pago em leilão por algodão vendido nas reservas, assim como a introdução de novos incentivos para tirar o algodão das reservas.

As ações são a mais recente tentativa de tomar algum controlo sobre os enormes stocks de algodão que o país guardou nos últimos dois anos, que representam agora uns estimados 58% da oferta mundial, com cerca de 12,8 milhões de toneladas.

E são vistas como um reconhecimento de que os esforços anteriores para reduzir as reservas estatais da fibra de baixa qualidade e preços elevados a terem tido pouco resultado.

O impacto das novas políticas mantém-se pouco claro, com vários cenários possíveis ainda em equação. Mas uma atualização mensal do grupo intergovernamental International Cotton Advisory Committee (ICAC) destaca que desde o início de abril, quando o governo chinês anunciou as novas medidas, as vendas subiram e os preços desceram.

O Type 328 China Cotton Index – um índice diário de preços para o algodão doméstico oferecido às fiações na China – caiu da média de nove meses desta época de 1,44 dólares por libra para cerca de 1,29 dólares no final de abril, revelou.

Numa intervenção em Hong Kong no início de abril, Zhang Xi’na, secretário-geral da Câmara de Comércio Chinesa para a Importação e Exportação de Têxteis e Vestuário, tinha já afirmado acreditar que o fim da política de reserva por parte do governo chinês significaria uma descida dos preços do algodão, acrescentando que «as vastas reservas de algodão é uma questão que ainda tem de ser discutida com a comunidade internacional».

Xi’na  disse ainda aos delegados do Prime Source Forum que «a indústria de algodão da China enfrentou enormes pressões, sobretudo em termos de controlo de qualidade».

O algodão cultivado internamente tem uma qualidade bastante inferior à do algodão importado, com fibras mais curtas que são mais difíceis de fiar, gerando mais desperdício na produção e levando a um tecido com toque menos macio.

O algodão que vai ser leiloado deverá ser proveniente de colheitas que estão armazenadas há mais de um ano e pode ter-se deteriorado ainda mais.

De igual forma, Jaswinder Bedi, presidente da Federação Africana das Indústrias Têxtil e de Algodão, sugere que é do interesse do governo chinês ter uma libertação lenta desse algodão «e é isso que estão a tentar fazer». E acrescenta que «se despejassem hoje, o preço do algodão iria cair em todo o mundo. E eles têm stocks suficientes para durarem mais um ano e meio a dois anos».

A associação da indústria Cotton Incorporated acredita que as recentes reformas parecem enfatizar um aumento da utilização da oferta doméstica ao facilitar um fluxo mais direto de algodão dos agricultores chineses para as fiações chinesas e ao incentivar as compras das reservas. «Com mais algodão doméstico disponível, a questão de quanto menos a China pode importar nos próximos anos de colheita é provavelmente a maior incerteza em termos de procura para o mercado mundial de algodão», sustenta.

Combinada com o impacto na colheita da atual seca no sudoeste dos EUA, «estas duas questões irão afetar a forma como os stocks fora da China são reconstruídos na próxima colheita e, como tal, quanto poderão descer os preços mundiais do algodão», afirma o grupo.

Contudo, o ICAC sugere que a quota do algodão no mercado está já em declínio nesta época devido a uma diferença «significativa» entre os preços do poliéster e os preços do algodão. Destaca que em 2013/2014, o Cotlook A Index rondou em média os 0,90 dólares por libra, enquanto o poliéster na China ficou, em média, em 0,73 dólares por libra. Em março de 2014, o preço do poliéster na China desceu para cerca de 0,66 dólares por libra, enquanto o Cotlook A Index subiu para cerca de 0,97 dólares em média, segundo o relatório mensal do ICAC.

A primeira das mudanças introduzidas pelo governo chinês prevê o apoio aos agricultores de algodão passar de um sistema de preços garantidos pagos por compra usados para construir as reservas, para um novo programa baseado nos preços-alvo.

Os agricultores vão ser subsidiados quando o preço do mercado para o algodão cair abaixo de um preço-alvo pré-estabelecido de 19.800 yuans por tonelada (cerca de 1,45 dólares por libra). Este valor é cerca de 3% abaixo dos 20.400 yuans por tonelada garantidos sob o sistema das reservas em 2012/2013 e 2013/2014.

Os detalhes da cobertura geográfica do novo sistema não foram ainda publicados, mas parece que os subsídios vão inicialmente ser oferecidos apenas na província de Xinjiang. Se não for oferecido apoio a outras regiões de cultivo, são esperados declínios acentuados na área cultivada nessas áreas, segundo a Cotton Inc.

Espera-se que a ação responda a problemas com a anterior política de reservas, que foi lançada em setembro de 2011 numa tentativa de atacar o aumento dos preços do algodão. O governo chinês esperava estabilizar o mercado ao encorajar os agricultores a cultivarem mais algodão e comprometeu-se a comprá-lo a 19.800 yuans por tonelada, tendo depois aumentado para 20.400 yuans por tonelada.

 Mas falhou a antever a quebra acentuada que se seguiu no preço da fibra, que minou a competitividade do algodão no país e significou que as fiações têxteis e empresas de vestuário chinesas tenham ficado presas ao algodão doméstico a um preço bastante superior ao que podiam importar de mercados internacionais.

A segunda mudança para reduzir os inventários do Estado prevê uma redução do preço do algodão vendido a leilão da reserva de 18 mil yuans para 17.250 yuans por tonelada (de 1,32 dólares para 1,26 dólares por libra).

Juntamente com isso foram introduzidos incentivos para tentar mover o algodão das reservas para as fiações locais, com uma tonelada de quota de importação por cada quatro toneladas de algodão das reservas compradas pelas fiações.

No entanto, a Associação de Algodão da China também destaca que apenas 200 mil toneladas de algodão importado das reservas estão a ser colocadas à venda. «Com os preços das reservas acima das taxas internacionais, este rácio permite dar às fiações alguma oportunidade para baixar os preços médios ao mesmo tempo que encoraja a saída do algodão dos armazéns do governo [em Xinjiang]», explica a Cotton Inc.

O grupo também aponta que ao facilitar um fluxo mais direto de algodão dos agricultores chineses para as fiações chinesas e ao incentivar as compras das reservas, «as recentes reformas parecem enfatizar uma maior utilização da oferta disponível internamente».

Em termos futuros, o ICAC calcula que o consumo mundial em termos absolutos deverá subir 1%, para 23,6 milhões de toneladas em 2013/2014, e 3%, para 24,3 milhões de toneladas em 2014/2015 como resultado da recuperação da economia mundial e do crescimento da população mundial.

E embora a utilização das fiações de algodão na China deva cair nesta época para 7,9 milhões de toneladas, em comparação com as 8,3 milhões de toneladas em 2012/2013, vai continuar a ser o maior consumidor mundial.

Os três maiores consumidores seguintes – Índia, Paquistão e Turquia – devem registar um aumento na utilização de fiações em 2014/2015. O consumo mundial em 2014/2015 deverá atingir as 24,3 milhões de toneladas, um aumento de 3% em comparação com o ano anterior.
 

http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/43469/xmview/...

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Quer dizer que o confeccionado chinês baixará mais os preços. E tome importação!

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