Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O varejo brasileiro vem apresentando sólidas taxas de crescimento ano após ano. Alguns setores, como casual dining, e-commerce, cosméticos e fast fashion vem apresentando índices próximos a 20% anualmente. Quando vemos redes mundiais como a Forever 21 inaugurando operações aqui causando um frenesi absurdo em sua primeira loja (situada em um grande shopping da Zona Sul de São Paulo), podemos afirmar com segurança que o varejo brasileiro é um negócio excepcionalmente promissor.

 
Bom, temos então o outro lado da moeda: o e-commerce brasileiro não dá lucro. Nenhum dos grandes players – sejam de sortimento variado como a B2W e a Nova Pontocom, sejam especializados como a Netshoes e a Dafiti – consegue ficar no azul por um tempo significativo. Ao contrário, a tônica é ver balanços tingidos de vermelho. Vemos as redes de fast fashion oferecerem moda a preços completamente descolados da realidade mundial, incorporando o custo Brasil e ineficiência operacional, estimulada pela falta de informação e pela ansiedade do nosso consumidor. Vemos o mercado de varejistas de material de construção extremamente pulverizado, onde a soma das 4 maiores redes mal chega aos 10% do total – o que reflete mais ineficiência e falta de qualidade. Mercados competitivos precisam de um certo grau de concentração para balizar e orientar consumidores e concorrentes. Porém, o que mais chama a atenção de quem dedica-se a analisar, comentar e entender o varejo brasileiro é uma equação perversa: o crescimento pode ser uma armadilha na qual o ganho de escala incorpora-se ao custo mas não necessariamente à rentabilidade. Ou seja, quanto maior o varejo, mais ele pode perder dinheiro. Isto se deve justamente ao ambiente de negócios que hostiliza, afronta e dificulta sobremaneira o crescimento sustentado das redes varejistas.
 
É elementar que a busca pelo crescimento impõe a adoção de premissas importantes: governança de qualidade, investimentos em tecnologia – sistemas de gestão, controle de perdas, integração de operações e estoques para operações físicas e de e-commerce – mão de obra treinada e qualificada, sucessão... Mas os ganhos de escala decorrentes dessa profissionalização não são incorporados de imediato às normalmente estreitas margens praticadas pelas redes varejistas. Some-se a isso, o aumento de custos decorrente das obrigações fiscais, trabalhistas e logísticas e temos um cenário no qual o empreendedor pode ser tomado pela indecisão: vale a pena investir para crescer e colocar em risco o negócio e sacrificar margens no médio prazo ou é melhor ficar como está, com margens seguras até que concorrentes mais aptos simplesmente pulverizem seu negócio?
 
Muitos comentaristas julgam ser impossível a manutenção da estratégia de entrada da Forever 21 no Brasil, com preços irreais dado o contexto brasileiro. Acreditamos também que cedo ou tarde esta marca deverá acomodar-se à realidade áspera na qual a ineficiência e o preço alto prevalecem. A questão crucial aqui é: há espaço para o crescimento sustentável e rentável? Qual é o ponto de equilíbrio no qual uma rede varejista consegue conciliar escala, lucro e custos sob controle? O que inevitavelmente conduz a outra questão de igual relevância: o investimento que sustenta esse crescimento deve ser orgânico ou fruto de parcerias, associações ou incorporações por outras redes concorrentes (consolidação) ou por fundos de private equity, por exemplo? Essas questões serão debatidas no próximo mês no Seminário de Investimentos promovido pela revista NOVAREJO que se propõe a juntar profissionais especialistas em investimentos com lideranças varejistas para traçar um caminho seguro para o crescimento sustentado das redes varejistas brasileiras.
 
Já é tempo de compreendermos melhor a dinâmica do varejo brasileiro: se de um lado há um mercado consumidor com potencial e poder aquisitivo para fomentar oportunidades de crescimento, por outro há a necessidade de avaliar de modo consistente como realmente transformar essas oportunidades em negócios perenes, sólidos e rentáveis.
 
A busca pelo crescimento não pode jamais ser uma dúvida. Antes, deve ser a certeza e o objetivo de qualquer empresa competitiva.



Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Inteligência de Negócios do Grupo Padrão.

http://www.portalnovarejo.com.br/index.php/2014-04-03-19-54-24

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Respostas a este tópico

Brilhante a teoria. Porem citar varias vezes a ineficiencia, tornou-se uma máxima para os consultores. Quais tem seu negócio próprio? Escrevem bem, apontam soluções que se não derem certo, foi porque o empreendedor não aplicou todos os conceitos. Não são responsáveis pelas mudanças que mandam fazer. Continuam como críticos. Porem a teoria tem muito valor, mas parem de falar na ineficiencia de quem dá  um duro danado para sobreviver honestamente.

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