Publicado em 16/07/18 às 05:00

Diretora de estilo e operações de uma das poucas fábricas de alfaiataria premium do Brasil, Carmem Tanno idealizou o renascimento de uma tecelagem fundada por imigrantes japoneses na década de 1950. “Se não tivéssemos feito o caminho inverso da indústria, em direção à confecção, provavelmente teríamos fechado as portas”, afirma.

Os proprietários do grupo Sanyotex contrataram Carmem do mercado da moda, onde ela atuou na criação de selos reconhecidos como Le Lis Blanc e, confiada para estruturar a nova fase da empresa, hoje comanda as marcas de alfaiataria de luxo Gallagher e 956, fabrica uniformes premium e coleções de private label. Tem ainda como plano para o futuro criar uma marca para o público feminino.

Como foi sair da tecelagem para a alfaiataria, caminho inverso do setor no País?

Os fundadores da empresa começaram fabricando tecidos no bairro da Liberdade, em São Paulo, na década de 1950. Com a abertura comercial do Brasil em meados de 1990, passaram a importar tecidos de alta qualidade em contratos exclusivos. Mas a crise de 2014 atingiu em cheio nosso mercado e fui contratada para estruturar a nova empresa. Decidimos começar no segmento de uniformes sociais e logo depois criamos nossas duas marcas. Renascemos na crise.

 

Por que começaram com uniformes sociais?

 

Porque à época os tecidos que mais tínhamos no estoque da tecelagem eram usados principalmente neste segmento. Desde o início, atendemos clientes que exigem alta qualidade, não conseguimos brigar com preço. Já deixamos de atender diversas empresas por isso. Mas hoje temos na carteira uma grande variedade de clientes como o hotel Unique, o Grand Hyatt, a Avianca e o Sicredi, entre outros.

 

E como foi a criação das marcas próprias?

 

Decidimos entrar no mercado de roupas masculinas porque teríamos muito menos concorrentes. O segmento feminino é de longe mais acirrado. Mas sempre tivemos em mente a proposta de oferecer peças de altíssima qualidade, com cortes e acabamento impecáveis, realmente diferenciados. Tanto que a única diferença entre nossa marca de maior valor agregado, a Gallagher, e a 956, é o tecido usado.

 

Que tipos de tecidos vocês usam na produção?

 

100% do que usamos é importado. Temos contratos exclusivos com fornecedores do mundo todo. Ninguém terá uma peça feita com nossa tecelagem.

 

E como foi nascer na crise?

 

O lado positivo é que já nascemos enxutos, com 29 funcionários. Procuramos as máquinas mais avançadas do setor no Brasil, mas não achamos, então tivemos que importar tudo. Foi um investimento alto, mas valeu a pena porque temos tecnologias de ponta, inclusive maquinário que “fala” o que vai ou não fazer.

 

E quanto tem sido o crescimento da empresa?

 

Iniciamos as operações da fábrica há cerca de um ano e meio e, em 2018, vamos dobrar o faturamento. Para 2019, nossa meta é crescer 20% principalmente com a expansão das marcas próprias, mas também vamos investir para aumentar a carteira de clientes de private label, que responde por 25% do nosso faturamento.

 

Hoje, como é composto o mix da receita do grupo?

 

O varejo ainda sofre com uma economia fraca, muitos pedidos que deveriam ter chegado ainda não vieram. Já as empresas de uniformes precisam renovar as peças, o que têm sustentado os negócios. Mas hoje tecidos ainda respondem por 45% do faturamento e marcas próprias, bem como uniformes, equivalem a 15% da receita cada um.

 

Esse quadro deve mudar?

 

Esperamos aumentar cada vez mais a receita proveniente da Gallagher e da 956. Temos tido uma boa receptividade no mercado, tanto que em pouco mais de um ano passamos de 50 funcionários para quase 190.

 

Mesmo com a economia fragilizada, que persiste?

 

Os pedidos de private label despencaram. O que tem ajudado são os uniformes e as nossas marcas. Os concorrentes estão concedendo até férias coletivas, nós não.

 

A utilização da capacidade instalada está em qual nível?

 

Conseguimos produzir cerca de 400 peças por dia e, atualmente, estamos operando a cerca de 70% da capacidade. Temos espaço para crescer.

 

E como está a evolução das vendas de marca própria?

 

Hoje, vendemos cerca de 7 mil peças por mês, mas estamos trabalhando para ampliar ainda mais esses volumes.

 

Qual a melhor forma de enfrentar não só a economia morna no País, mas uma crise estrutural do setor têxtil?

 

Temos que nos reiventar todos os dias. Só neste mês, o preço da lã aumentou cerca de 20% e o aviamento, 15%. Se não trabalharmos junto ao cliente para sanar esses desafios, todos saem perdendo. Outro fator que ajuda é a garantia de peças de qualidade e durabilidade: o cliente está disposto a pagar um pouco mais.

 

Quais as perspectivas em um cenário tão instável?

 

O inverno mais fraco, a greve dos caminhoneiros e a Copa do Mundo afastaram os clientes das lojas. Temos que refazer todo nosso planejamento.

 

E as metas?

 

Nossa fábrica na capital paulista é considerada uma das cinco mais avançadas do País em tecnologias do setor de confecção e queremos manter esse reconhecimento. Além disso, possuímos um certificado muito difícil de atingir, o da ABVTEX, que demonstra o cumprimento de normas de responsabilidade social e relações de trabalho, que no setor têxtil é extremamente exigente e que poucos têm.

 https://www.dci.com.br/industria/fizemos-o-caminho-inverso-do-setor...

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