Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Setor confeccionista abriga quase todos os imigrantes bolivianos que chegam ao Brasil em busca de uma oportunidade de crescimento

 

Nos dados oficiais do Censo 2010, eles são cerca de 18 mil, mas há quem diga que já são mais de 500 mil bolivianos no Brasil. Sim, meio milhão de imigrantes bolivianos vivendo em nosso país, sendo hoje a maior colônia estrangeira por aqui, desbancando, quem diria, italianos e japoneses.

Há registros de que começaram sua vinda ao Brasil nos anos 1960, mas foi na década de 1980 que se iniciou um fluxo maior de bolivianos vindo para cá, aumentando gradativamente nas décadas seguintes, chegando ao ápice nos anos 2000. “Quando cheguei aqui, em 1985, era difícil encontrar um boliviano nas ruas. Hoje, como são muitos, nem se cumprimentam mais”, comenta Marcos Herminio Canaviri, imigrante boliviano vindo do departamento de Oruro, próximo a La Paz, empresário e membro da diretoria da Associação Social e Cultural Bolívia Brasil (Bolbra).

E dois fatos curiosos chamam atenção: quase a totalidade dos imigrantes da Bolívia vem para São Paulo e 80% deles para trabalhar no setor de confecção. Estão presentes em todo o estado de São Paulo, mas a concentração se dá em maior parte na região central e Norte da capital, como Pari, Brás, Bom Retiro e Santana, bem como Zona Leste e adjacências, em bairros como Mooca, Penha, Itaquera e a cidade de Guarulhos.

E por que a confecção? “Porque qualquer pessoa vem com a ideia de que terá moradia, comida e trabalho”, diz Marcos Canaviri. “Eu mesmo, quando vim, trabalhei numa oficina de costura de coreanos, logo que cheguei. Eram bons coreanos, nos dávamos muito bem, a comunicação era um pouco difícil, mas conseguíamos nos entender. Mas eu sempre digo que esse sistema de trabalho – no qual se tem um teto, alimentação e o trabalho em si, tudo no mesmo lugar – foi implantado pelos coreanos e hoje estamos tentando mudar isso. Queremos nos basear nas leis brasileiras, trabalhar e morar em lugares diferentes, e acredito que, com o tempo, vamos lograr. E digo: existem os coreanos bons e ruins, assim como os bolivianos bons e ruins”, frisa Canaviri.

E ainda existe a questão de que a confecção é um setor em que a formação de mão de obra é muito rápida e fácil, em alguns casos não exigindo especialização. Por isso são treinados para já chegar trabalhando e, fato, suprir a carência do mercado, pois cada vez menos brasileiros querem trabalhar na área de costura. Além disso, na Bolívia não há tantas oportunidades de trabalho que sejam rentáveis e, por mais que ganhem pouco aqui, para grande parte ainda vale a pena vir tentar a sorte.

Marcos Canaviri conta que houve um movimento migratório pelo qual, no início dos anos 1990, com a implantação do real, muitos migrantes bolivianos vieram da Argentina para cá, encontrando melhores condições de trabalho e faturamento. E, da mesma forma que os coreanos vieram para trabalhar para os judeus, os bolivianos para os coreanos e brasileiros, hoje, além dos próprios patrícios, existem peruanos, paraguaios e até equatorianos trabalhando para os bolivianos. “Tem muita gente que ainda continua trabalhando com coreanos, e muitos outros independentes, por conta própria. Eu vejo alguns patrícios daquela época em que vim que hoje estão bem, outros nem tanto, uns souberam aproveitar bem o tempo e o trabalho. O Brasil é um país que acolhe todo mundo e, a quem trabalha, ele corresponde”, diz.

BOLIVIANO: SEU NOME É TRABALHO

Uma carga horária extensa, com mais de dez horas de trabalho, que vai de segunda a sábado. Essa é a rotina da maioria dos bolivianos nas confecções. De acordo com Canaviri, entre 2001 e 2002, havia cerca de 700 oficinas comandadas por eles em São Paulo, mas agora não tem ideia de quantas sejam, só sabe que são muitas. Diante de inúmeros casos de denúncia de trabalho escravo ou análogo nas confecções envolvendo seus patrícios, surgiu a necessidade de criar uma liderança que os representasse, e foi assim que nasceu a Bolbra.

“Em 2001, aconteceu um incidente em que encontraram uma oficina coreana que trabalhava com bolivianos de forma análoga à escravidão, e isso repercutiu muito à época. O caso chegou a Brasília e, numa reunião, o dr. Jorge Villegas (hoje presidente da Federação dos Residentes Bolivianos no Brasil) encontrou o representante da comunidade coreana, que lhe perguntou se poderia conversar com o representante dos bolivianos no setor de confecção para resolver a situação, para que esse tipo de caso não acontecesse mais. O senhor Jorge Villegas encontrou o senhor Juan Villegas Zuazo, atual presidente da Bolbra, e disse: ‘Vocês têm que ter um representante para falar com os coreanos’. O senhor Juan me chamou e, na primeira reunião, tínhamos umas cinco pessoas, na seguinte, dez, nas outras, 20, 30, até juntar umas 700 pessoas, mais ou menos. Fizemos uma reunião com ata, na qual foram eleitos o presidente e o conselho diretivo. Foi aí que nasceu a Bolbra, devido a essa necessidade de podermos liderar nossos patrícios no setor de confecção e poder conversar com os coreanos”, conta Canaviri.

“A Bolbra sempre fez a representação trabalhista dos bolivianos. Quando há reuniões com o governo, sempre somos chamados”, diz Juan Villegas, salientando a função da associação que, no início, tinha sede própria, mas, com o passar do tempo, sem receber as contribuições dos associados, precisou abrir mão desse espaço e os membros da diretoria passaram a trabalhar em suas casas.

“Às vezes penso que nós, da Bolbra, somos loucos por continuar a luta, batendo na mesma tecla. Mas pensamos como Martin Luther King, que lutou pela redenção da raça negra até conseguir e hoje em dia beneficia filhos, netos etc. O que estamos fazendo agora acredito que daqui uns dez anos terá resultado. Uma hora ele aparece”, desabafa Canaviri.

 

 

Bolivianos: maior colônia de imigrantes atualmente no Brasil.

Foto: Antonio Andrade/Bolivia Cultural

 

Praça Kantuta e Rua Coimbra: os principais redutos bolivianos em São Paulo. E Cholita com suas polleras.

Fotos: Antonio Andrade/Bolivia Cultural

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/25/materia/especial.html

Por Silvia Boriello

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