Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Queda da participação da indústria no PIB nacional, demissões em vários segmentos e uma invasão de produtos estrangeiros. É a face concreta da desindustrialização, que assombra a economia brasileira

Mais de 30% dos componentes dos produtos que levam o selo made in Brasil são importados, diz Carlos Walter, presidente do Sindimetal Maringá

Os números da economia brasileira podem dar a impressão de que tudo vai bem no País. Em um cenário de crise internacional, em que as principais economias do mundo ainda tentam se reerguer, o Brasil registra crescimento do PIB e níveis gerais de desemprego baixos e nos últimos anos viu a distribuição de renda melhorar. Um movimento silencioso, porém, pode comprometer seriamente o crescimento sustentável do País em um futuro próximo: a desindustrialização. Ignorada pela grande massa da população, a perda de competitividade dos produtos nacionais, agravada pela enxurrada de importados que entram por nossas fronteiras, já coloca em risco a produtividade de vários setores industriais e a manutenção de empregos de qualidade no Brasil.

A maioria dos estudos econômicos sobre desindustrialização descreve o processo como a redução do peso relativo das atividades manufatureiras no desenvolvimento da economia de um país, tendo como reflexos tanto a diminuição da escala de produção e do valor adicionado aos produtos quanto dos níveis de emprego. O desafio de enfrentar esse processo não é exclusividade do Brasil. A maioria das grandes economias mundiais – como Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e Japão – viu suas indústrias perdendo força a partir da década de 1970 ou 1980. O principal problema, no caso brasileiro, reside no fato de que nossa economia encontra-se longe do grau de maturidade que havia sido atingido pelos países citados.

Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que nas economias avançadas, a queda do peso relativo da indústria, em termos de emprego e produto, ocorreu quando os níveis de renda per capita estavam em patamares muito mais elevados do que no caso brasileiro. Além disso os empregos nesses países foram transferidos para setores de serviços sofisticados, garantindo a manutenção da renda elevada.

Um estudo conjuntural elaborado pelo Ipea  este ano aponta que, nas economias com industrialização retardatária,como a nossa, “pode ocorrer o fato preocupante de que seu setor manufatureiro comece a perder participação relativa na produção total antes que tenham sido alcançados o ritmo de produtividade sistêmica e os níveis de renda per capita similares aos das economias avançadas no momento em que se inicia o processo da desindustrialização”.

No Brasil, a perda de participação relativa da indústria na economia se acentuou assustadoramente nas últimas décadas. Enquanto em 1985 o setor respondia por 27% do PIB nacional, no ano passado o índice já era inferior a 16%, devendo fechar 2012 abaixo de 15%. No mesmo período, o Brasil viu seu parque fabril encolher. Levantamentos apontam que, na década de 1980, a indústria brasileira era equivalente à da Tailândia, Malásia, Coreia do Sul e China somados. Em 2010, a indústria nacional representava apenas 8% em comparação com os parques industriais desses mesmos países.

“Passamos de fabricantes para montadores”, diz Uchida, dono de uma indústria de circuitos impressos

Os fatores que levaram a esse encolhimento estão na ponta da língua de qualquer empresário que enfrenta no dia a dia as dificuldades para se produzir no Brasil. A falta de políticas e estratégias estruturantes para o desenvolvimento do País levou a uma situação em que o setor produtivo enfrenta uma carga tributária excessiva, pesados encargos sobre a mão de obra, custos elevados causados por uma infraestrutura deficiente e dificuldade para obtenção de crédito – que vem acompanhada de altos juros.

Invasão estrangeira

Para piorar, uma política cambial que mantém o real sobrevalorizado há anos não só reduz a competitividade dos produtos brasileiros no exterior como permite a entrada, em alta escala, de importados no País, aumentando a concorrência no próprio mercado doméstico. Hoje, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), um em cada cinco produtos industrializados vendido no Brasil é importado. De 27 setores industriais pesquisados pela entidade, 21 registraram aumento no percentual de importados comercializados em 2011, em comparação com o ano anterior. Além disso, para 24 setores houve crescimento no coeficiente de insumos importados presentes nos produtos fabricados em território nacional.

A consequência da invasão estrangeira é facilmente perceptível e, seguindo as tendências de qualquer processo de desindustrialização, reflete-se principalmente no fechamento de postos de trabalho nos setores mais afetados. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos

(Abimaq), a cada R$ 1 milhão destinado a importações e que poderia ser injetado na produção nacional, seriam gerados 28 postos de trabalho, diretos e indiretos, na economia brasileira.

Recentemente, a entidade lançou em São Paulo o “Desempregômetro”, painel que mostra esse impacto das importações sobre o emprego brasileiro. Pela estimativa da Abimaq, mais de 175 mil empregos deixaram de ser criados no Brasil em 2012, até o início de abril, devido às importações, que já chegavam a quase R$ 6,5 bilhões.

Iniciativa semelhante, batizada de “Importômetro”, já havia sido lançada em janeiro pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), um dos setores que mais sofre com a concorrência de produtos estrangeiros, especialmente asiáticos. A entidade faz uma estimativa do volume de peças de vestuário importadas que entram no País e também calcula o número de empregos que deixam de ser gerados aqui. Segundo dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, nos dois primeiros meses deste ano o País importou US$ 462 milhões em peças de vestuário, um aumento de 72,5% em relação ao mesmo período de 2011.

Outras entidades empresariais mostram também números concretos da redução do volume de trabalhadores em determinados setores. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), por exemplo, afirma que em apenas três meses – entre novembro de 2011 e janeiro deste ano – foram fechadas 1.520 vagas no setor. Já o Sindicato da Indústria de Artefatos de Borracha de São Paulo

(Sindibor-SP) estima que 8 mil funcionários do setor foram demitidos nos últimos 12 meses no Brasil. O número corresponde a 10% do total de empregos gerados pelas 1,7 mil indústrias do segmento, que fornecem principalmente para o setor automotivo.

Além da substituição de produtos nacionais por importados no mercado interno, as condições de produção no País dificultam também as exportações de manufaturados brasileiros – outro fator que poderia garantir empregos na indústria. O impacto é sentido nos resultados globais da balança comercial.

No caso do Paraná, 2011 fechou com um déficit de US$ 1,3 bilhão no saldo entre exportações e importações.

A maioria dos setores do Estado que tiveram balança comercial negativa são industriais, como materiais elétricos e eletrônicos, materiais de transporte, mecânica e têxteis.

Por outro lado, os produtos primários, como commodities agropecuárias, como soja, carnes e açúcar, tiveram fortes altas nas exportações. Para os especialistas, a troca de produtos industrializados por produtos primários na pauta de exportação é um dos sintomas do processo de desindustrialização.

Colônia

“Desindustrializar é voltar à época do Brasil colônia, quando se exportava pau-brasil e importava espelhinhos.” A reflexão do coordenador do Departamento Econômico da Fiep, Maurílio Schmitt, serve para ilustrar o processo que vem se desenhando nas relações comerciais do Brasil no mercado internacional. No caso do Paraná, desde 2009 o Estado tem como principal parceiro comercial a China. Em 2006, sua participação nas importações do Estado era de 5,77%. Seis anos depois, este percentual mais do que triplicou, chegando em 18,31%. A pauta de exportações paranaenses para o país asiáticosegue a tendência geral – com commodities agrícolas – e do outro lado, importação de produtos industrializados, prontos para o consumo, como equipamentos eletrônicos e roupas. “Deterioramos nossas relações de troca”, avalia Schmitt. “Nesse fluxo de comércio, estamos na verdade transferindo renda e emprego para os países dos quais o Paraná está comprando, especialmente a China”, completa.

No setor metalmecânico, um dos mais vulneráveis à invasão dos concorrentes estrangeiros, a desvantagem  brasileira está presente desde os processos internos de produção. Segundo o presidentedo Sindimetal Maringá e vicepresidente da Fiep, Carlos Walter Martins, hoje, mais de 30% dos componentes dos produtos que levam o selo “made in Brasil” são importados. “E são produtos de baixo  gregado técnico. O fornecedor nacional desses componentes básicos desapareceu com a concorrência estrangeira”, observa o empresário.

Para driblar a crise, Hübner importa produtos acabados e está com 30% de sua capacidade de produção ociosos

Percepção semelhante tem o empresário e vice-presidente da Fiep Nelson Hübner, outro representante do  setor metalmecânico. Segundo ele, muitos fabricantes dos componentes para seus produtos já se tornaram meros representantes comerciais dos concorrentes estrangeiros, comercializando no País produtos importados. “É questão de sobrevivência”, observa o empresário, que também vem importando produtos acabados como forma de driblar a crise. À frente de um grupo composto por sete empresas, Hübner avalia que hoje, em decorrência da concorrência externa, 30% de sua capacidade de produção está ociosa. “Temos uma fábrica de ferro gusa, que está na base de produção dos nossos produtos, que está paralisada desde 2009”, afirma.

No setor de eletroeletrônicos, a situação se repete. Segundo o empresário Hélio Uchida, proprietário da PCI Indústria de Circuitos Impressos, a indústria nacional vem sendo desmontada aos poucos com a invasão dos importados. “Passamos de fabricantes para montadores”, afirma.

Esta também é a avaliação do vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Álvaro Dias Jr. Segundo ele, esta situação não é nova, mas vem se agravando dia a dia. “Nossa base de componentes nunca foi privilegiada no Brasil. Quem faz eletroeletrônico tem que importar estas peças. A competitividade começa a acabar aí”, observa. Seguindo esta lógica, segundo ele, é comum encontrar empresas do setor que montaram suas fábricas em outros países para se tornar mais  competitivas. “Você só coloca a etiqueta aqui”, explica Consequência desta estratégia é a comprovação da transferência de empregos que antes eram gerados pela indústria nacional para os países dos quais o Brasil compra. “Hoje o preço barato dos importados é pago pelo emprego que deixa de ser criado aqui”, avalia o empresário Augusto José Sperotto, da empresa Fiasul, localizada em Toledo.

Segundo ele, a sensação é de que o industrial brasileiro chegou a um beco sem saída. “Estamos sem perspectiva. Mesmo quem investe em qualidade e tecnologia não está conseguindo competir”, afirma.

Outro empresário do setor têxtil, Antônio Recco, da Recco Lingerie, localizada em Maringá, conta que recentemente colocou em operação um barracão de 10 mil m² para estocar produtos importados da Ásia e do Peru, que revende em território nacional. Ele afirma que não reduziu o volume de produção, de 150 mil peças por mês, tampouco precisou dispensar colaboradores. Mas para manter seu faturamento, precisou adotar essa estratégia. “O empresário brasileiro está numa encruzilhada”, compara. “Não temos competitividade para enfrentar os importados, mas se o povo perder o emprego, não compra lingerie”, diz.

Dono de uma indústria de fios em Toledo, Sperotto diz que o preço baixo do produto importado é pago com o emprego que deixa de ser gerado no Brasil

Soluções

As receitas para melhorar a competitividade da indústria brasileira, e assim frear o processo dedesindustrialização hoje em curso, passam pelo enfrentamento de problemas que são velhos conhecidos do empresariado. “Até o Chocolate, o cachorrinho da nossa empresa, sabe o que tem que ser feito”, brinca o empresário Antônio Recco. Para ele, a concorrência dos importados é apenas um dos problemas.“É preciso diminuir a carga tributária sobre a indústria sem diminuir a arrecadação”, avalia. Para isso, segundo ele, seria necessário um arranjo fiscal que tirasse impostos do processo produtivo e colocasse no consumo.

Mesma sugestão vem do empresário Carlos Walter, de Maringá. Em sua opinião, os impostos que incidem sobre a produção deveriam migrar para o consumo e para a renda. “A importação foi muito boa para agregar maquinário de última geração, o empresário se modernizou, está produtivo e eficiente. O problema é quando você agrega a carga tributária excessiva e o custo Brasil”, observa.

Na opinião de Hélio Uchida, que atua no segmento de circuitos impressos, é preciso valorizar quem produz e gera emprego dentro do País. Sua sugestão é que seja cobrado 35% de IPI de quem importa e revende e 3% para aqueles que produzem aqui dentro. “O governo, por livre e espontânea vontade, não faz. Temos que fazer um projeto e mostraro que deve ser feito”, diz.

Governo anuncia medidas de estímulo à indústria

Na tentativa de estimular a indústria brasileira, o governo federal divulgou no dia 3 de abril, durante solenidade em Brasília, uma série de medidas de desoneração, ampliação de crédito e outros benefícios para o setor. O presidente da Fiep, Edson Campagnolo, que esteve no Palácio do Planalto para acompanhar o anúncio feito pela presidente Dilma e sua equipe econômica, aprovou o pacote, mas cobrou a realização das reformas estruturantes necessárias para o Brasil garantir crescimento sustentável.

“As medidas são uma resposta ativa e mostram a preocupação do governo com a produção e o emprego brasileiros”, disse Campagnolo. Entre as medidas anunciadas, ele destacou a desoneração da folha de pagamentos para mais 11 setores. Eles se somam a quatro segmentos já contemplados anteriormente e terão isenção da contribuição previdenciária de 20% que incide sobre a folha de salários.

Na Assembleia Legislativa, o presidente da Fiep fala sobre o cenário industrial

A estimativa do governo é que a desoneração, que passa a valer a partir de julho, chegue a R$ 7,2 bilhões anuais. Para compensar a queda na arrecadação, o governo determinou que as empresas terão uma líquota de 1% a 2,5% sobre seu faturamento, dependendo do segmento.

O presidente da Fiep afirmou também que as novas medidas de incentivo à indústria automotiva, que pretendem estimular investimentos das montadoras, podem beneficiar o Paraná. “A indústria automotiva ganha fôlego e isso é importante para o nosso Estado, que é o terceiro maior polo do setor no País”, disse.

Campagnolo também considera fundamental o combate à entrada desenfreada de produtos importados no Brasil, que tiram a competitividade do produto nacional até mesmo  no mercado interno. Além de pedir uma política cambial que favoreça o setor produtivo, ele defende a aprovação pelo Senado da Resolução 72, que pretende colocar fim à chamada Guerra dos Portos, em que alguns Estados oferecem descontos de ICMS para a entrada de produtos estrangeiros. “A aprovação da Resolução 72 traria mais equilíbrio na concorrência da indústria nacional com os importados”, afirmou.

Apesar do otimismo trazido pelas novas medidas, o presidente da Fiep cobrou a adoção de políticas definitivas que solucionem os problemas enfrentados pela indústria nacional. “Estou animado e satisfeito com as medidas anunciadas, mas é preciso também enfrentar as mudanças estruturantes necessárias e fazer reformas definitivas, como a Tributária, Fiscal, Trabalhista e Previdenciária. Só assim a indústria brasileira será verdadeiramente competitiva”, declarou.

Fonte:|http://www.agenciafiep.com.br/noticia/a-industria-brasileira-em-ris...

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Respostas a este tópico

Mais uma matéria que aborda tudo o que sistematicamente temos comentado aqui por mais de um ano.

Nenhuma novidade de que resultaria na paradeira atual. Aliás, já há estimativa de que nossa economia cresça apenas 2,6% este ano (menos que o PIBinho ridículo do ano passado). Temos que torcer para que a previsão não se concretize, mas é visível que o desânimo tomou conta da economia. Com todos que converso, de vários segmentos, a palavra é uma só: o mercado parou.

Depois que a vaca vai pro brejo é difícil tirá-la de lá.

Meu cachorro não tem o nome de Chocolate mas também sabe tudo o que precisa ser feito. Os cachorros sabem. Só os burros não sabem (com o devido respeito ao esforçado animal).

Bom, ser colnia de Portugal até que não foi tão ruim, pelo menos hoje falamos a lingua deles e fizemos piadas.

Ruím vai ser colonia dos China. Quero ver como vou fazer para falar a lingua deles, mas acho que tenho uma saida.

Todo mundo não ri do tamanho do bilaou do Chines, pois é, vejam que não é tão pequeno assim, mas vamos fazer um estudo, as atuais camisinhas que tem no mercado não estão proporcionais, ou são pequenas ou grandes demais.

Se alguém quiser ser meu sócio neste negócio ( Camisinhas para Chines ) entre em contato. Será que vai doer.

Enquanto isto estamos discutinho pra quem o bicheiro emprestou dinheiro.

Abraços.

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