Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A sustentável leveza da moda: sustentabilidade e inclusão são temas do Minas Trend Preview. Entrevista com a a diretora criativa do MTP, a designer Mary Arantes

A sensibilidade é o fio condutor. É dela que vem a energia que move Mary Figueiredo Arantes, a designer mineira de acessórios que faz moda com atitudes, escreve poesia com as contas dos seus colares e acredita na criação entrelaçada a sentimentos. Essa mesma força motriz está concentrada no desafio de conduzir a direção da 10ª edição do Minas Trend Preview - que acontece entre 25 e 28 de abril deste ano, em Belo Horizonte. O tema "leveza" - que vai nortear o evento que antecipa as tendências do verão 2013 - traduz o propósito vibrante de quem aposta que a moda é capaz de transformar formas de viver.

O nome estrangeiro não esconde a brasilidade e a mineirice.  "Meu nome é Mary, mas a vida toda me chamaram de Meire... Pobre que nasce no Vale do Jequitinhonha e ganha nome em inglês dá nisso". A alegria e descontração estão na identidade da dentista de formação que antes já havia mergulhado no designer de bijuterias por paixão. Dos 55 anos, 30 estão dedicados à produção de acessórios marcados pelos tecidos, fitas, fios, contas, pedras e miçangas. Novamente, a sensibilidade fala mais alto: "Considero as duas profissões muito parecidas. Ambas reúnem processo de escultura e fundição, sem contar que são estéticas. Só que uma você esconde e a outra você mostra com prazer", argumenta.

Para quem aprendeu a extrair da necessidade o impulso para a inventividade, a história de vida da garota filha de alfaiate compõe uma colcha de retalhos repleta de experiências que alimentam sonhos. O sucesso e reconhecimento conquistados com as bijuterias da marca "Mary Design" - que somam a produção de mais de 15 mil peças ao mês, são comercializadas em mais de 500 lojas multimarcas por todo Brasil e aparecem com frequência nas novelas da Rede Globo - são senhas do aprendizado sustentável bem costurado ao longo da carreira. Conhecimento guiado pelo afeto que ela quer aplicar ao Minas Trend, enaltecendo a sustentabilidade na leveza de ações que priorizem menos resíduos e mais valorização humana.

Amante da literatura, da gastronomia, do feito à mão e da família com dois filhos, a simplicidade é seu mote inspirador. Porém, é na jardinagem que está enraizado o prazer que poderia fazer da atividade de horas vagas uma profissão. É do amor pela terra e do cheiro das ervas que cultiva na horta de casa que a designer retira energia que a nutre e renova. Em analogia, há 30 anos vem regando acessórios - muitos numa metamorfose de folhas e flores - que são a linguagem da beleza e da autoestima estabelecida com as mulheres. É com esse viés sensível, sem deixar de ser crítico diante de temas mais densos como política e economia, que Mary expõe na entrevista exclusiva ao site Nas Entrelinhas os desafios, projetos e apostas para o Minas Trend e a moda nacional. Sempre com a certeza de que o mundo pode ser mais leve.

 

ENTREVISTA


O Minas Trend chega a 10ª edição. Que papel o evento conquistou dentro da moda nacional?

Um espaço inovador. Além de ser a única feira de preview do País, o Minas Trend não fala apenas de moda. Reúne cultura e gastronomia, envolve a comunidade local, inova em abordagem com os clientes. Agrega arte e comportamento, além do foco em negócios, claro.

Você acompanha o Minas Trend desde o princípio, participando como designer de bijuterias artesanais. Como é assumir a direção criativa de uma plataforma tão importante para a moda nacional?

Sempre fiz dos eventos em que participei uma bandeira onde levantava questões relevantes a serem trabalhadas, muitas delas com temas nacionais. Sempre vi eventos, de forma geral, como espaços onde devemos mostrar o conceito de nossa marca e não apenas vender produtos. Ser convidada para dirigir um evento como este me deixou muito feliz, me senti reconhecida pelo trabalho que mostro há 30 anos. A responsabilidade é imensa, mas, a oportunidade também de apostar em profissionais que acredito e dar-lhes espaço para divulgar seus trabalhos é maravilhosa. Estar junto à Federação do Estado, a Fiemg, num evento como este é como levantar "bandeiras" pela nossa classe.

Que inovações você apresenta nesta edição de caráter tão emblemático?

O grande desafio do projeto é mostrar a sustentabilidade não como algo alternativo, mas com leveza e sofisticação. Afinal, estamos falando de moda. Logo na entrada da feira já brindaremos os convidados com um espaço que os acolherá: música ambiente e telões em toda a feira. As palestras falarão de moda, mas, a grande maioria delas falará do lado humano e do engajamento com o social.  Distribuiremos por dia um percentual de convites dos desfiles para levarmos cidadãos comuns, como industriários, garis e pessoas que trabalharam na execução do evento. Mas, meu projeto maior será implementar  junto ao Serviço de Limpeza Urbana de Belo Horizonte uma coleta seletiva  de resíduos da moda. Teremos também desfile com três estilistas da geração novos talentos. Exposição de uma artista genial, a Sônia Gomes, e muito mais.

Quais as expectativas de público e volume de negócios?

O público estimado é de 17 mil pessoas e é esperado um aumento de 15 por cento de volume de negócios em relação ao Preview do verão passado.

"Leveza" é o tema que norteia o evento. O que ele propõe?

Leveza não apenas na moda, mas na forma de viver, de se relacionar, de modelar uma roupa e descobrir que já existe modelagem no mundo que contempla o descarte zero, mais conhecida como Zero Waste. E, menos resíduos significa um mundo mais leve.  Da forma como acontece por aqui, na modelagem, de 15 a 20 por cento de tecido é perdido. Nossa intenção é que moda sustentável deixe de ser apenas uma palavra muito usada, um discurso e se torne uma atitude real.

Mais do que nunca o conceito artesanal se apresenta como caminho para a construção de uma moda identitária. Como você avalia essa junção?

Desde que existo que acredito no feito à mão. O que o homem faz me emociona. Sempre disse que devemos preservar estas "mudinhas" de pessoas maravilhosas, cujas filhas muitas vezes, não querem mais fazer o ofício da mãe, principalmente quando ele não é valorizado. O customizado nunca esteve tão na moda e o fato é que o artesanal é sempre exclusivo e dá a cada um a grande oportunidade de ser ele mesmo. Único!

Na condição de designer, você sempre fez do conceito "feito à mão" sua própria marca, trabalhando com peças carregadas de laços e memórias afetivas.  Esse caminho intuitivo tomado há 30 anos saiu à frente das demandas que a moda experimenta agora?

Quando comecei a fazer moda, desde aquela época, já convivia com amigas que queriam fazer o industrial e não queriam perder tempo nem na máquina, pespontando... Foi aí que pensei: eu quero fazer o caminho inverso, quero construir peças que demorem horas para ser feitas. Também com a felicidade de ter nascido no Vale do Jequitinhonha, nada poderia ter sido diferente.  Lá quando a gente não tem, a gente cria, se não sabe tocar instrumento, assovia!  Meu pai era alfaiate e meus brinquedos eram os retalhos descartados. Comecei aí a minha história e é o que faço até hoje. Brinco com o que amo fazer: bijus. E faço delas a minha fala com as mulheres, onde o afeto vem embutido em cada viés de pano.

O nosso país é continental, com uma diversidade cultural de igual tamanho. Em sua opinião, como conseguimos constituir uma identidade singular com tantas referências?

Talvez falando a linguagem do afeto, do coletivo, buscando nas histórias as verdades não expostas; vendendo mais que produto, mais uma história por trás de um produto. A mescla cultural é nosso mote. A cor e nossa alegria, nosso passe de venda. A nossa singularidade está justamente em saber ser plural. Ter "ziriguidum" é ter esse jeitinho, esse dom mágico de saber ser brasileiro. Temos que saber tirar proveito disso.

O Brasil está na vitrine e agenda mundial. A moda nacional está tirando proveito dessa imagem positiva?

Brasil é a bola da vez, sem ser só no futebol. Nunca se falou tanto desta ótima imagem do Brasil lá fora, mas não acredito que esta vitrine esteja sendo usada de forma ideal para a moda.  Leio muito sobre o quanto nossas roupas chegam caro lá fora, concorrendo com nomes consagrados. Temos que nos preparar para a Copa, por exemplo, e não deixar acontecer o que aconteceu na África, onde foi a Copa dos produtos chineses.

Como você classifica o momento atual da moda brasileira?

Um momento difícil onde os impostos sacrificam nossos lucros, a China incomoda e muito e a exportação se prejudica frente à queda do dólar. Sem falar dos parques industriais da área têxtil em estado de obsolescência e o apoio governamental inexistente. Geramos alto número de empregos, mas ainda não somos vistos como empresários. Corremos o risco de nos tornarmos revendedores no lugar de fabricantes.

É possível fazer da "leveza" da moda um instrumento de políticas públicas e inclusão social?

Sim. É o que pretendo salientar nesta minha gestão, fazendo a inclusão no exclusivo que é a moda. Um olhar mais terno e mais humano sobre ela. E quando falo do projeto da coleta seletiva, imagino se isto acontecer, o bem que uma ação pública como está fará para tantas pessoas, para comunidades carentes, ONG's e associações.  Não é apenas uma ação do Minas Trend Preview para uma edição, mais uma ação para toda uma comunidade, algo muito maior. 

Fonte:http://www.nasentrelinhas.com.br/noticias/pano-pra-manga/202/a-sust...

 

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