Estados Unidos e China trocaram acusações de que os subsídios que cada país concede a seus produtores de algodão estão causando sérios problemas para os cotonicultores da África, em um confronto pouco usual entre os dois gigantes nesse terreno.
Por causa de subsídios ilegais oferecidos pelos EUA, o Brasil venceu uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o país. Produtores brasileiros embolsam uma compensação anual de quase US$ 150 milhões, pagos pelos EUA, em virtude da manutenção de programas de ajuda ao segmento.
Ontem foi a vez de Washington apontar o dedo para a China, que precisa de muito algodão para sua gigantesca produção de confecções baratas. O governo americano alega que a situação mudou. De um lado, garante que quase não concedeu subsídios nos últimos dois anos, pois os preços internacionais estão elevados e seus produtores não precisam receber a ajuda. De outro, acusa a China de ter ampliado em bilhões de dólares os subsídios para seus cotonicultores, sem ter notificado essa prática à OMC desde 2004.
Negociadores americanos reclamam também que a China, maior importador mundial de algodão, impõe uma tarifa de 40% sobre a commodity, enquanto exige que outros mercados se abram para seus produtos têxteis.
A reação de Pequim veio no começo da noite chuvosa de Genebra. Mas, em vez de responder a acusação de oferecer muitos subsídios, os chineses concentraram-se em atacar os EUA. Atribuíram a "alguns países desenvolvidos, com seus enormes subsídios que quase igualam o valor de sua produção", a causa para as dificuldades dos cotonicultores pobres da África
Segundo a China, as subvenções liberadas pelos EUA alcançaram US$ 3 bilhões em alguns anos, deprimindo os preços mundiais em até 13%. Acusou o "algodão subsidiado" americano não apenas de ter "suprimido" cotonicultores chineses, mas também de ter abocanhado fatias dos produtores africanos.
Pequim foi além, notando que a parte do "algodão subsidiado" americano no mercado chinês cresceu de 17% para 43% entre 1999 e 2005, numa mensagem indireta de que Washington não tinha do que se queixar. E reclamou que, "apesar de vários esforços da China para importar algodão da África, a fatia de mercado dos quatro produtores africanos (Burkina, Chade, Mali, Benin) caiu abaixo de 10%".
A questão do algodão voltou firme ontem na confrontação na OMC sobre qual pacote os países podem aceitar no fim do ano, na conferência ministerial da entidade, para dar algum sinal de que a Rodada Doha ainda não morreu. Um acordo foi alcançado em 2005 na conferência da OMC em Hong Kong, pelo qual os países concederiam entrada livre de tarifas para as exportações dos 49 países mais pobres do planeta. No caso do algodão, o corte de subsídios seria maior do que para outros produtos e em prazo mais curto. Os EUA, porém, continuam a só acenar com 97% de acesso, por causa da resistência de setores internos, a começar pela área têxtil
O embaixador brasileiro Roberto Azevedo defendeu ontem que uma oportunidade para sinalizar ao mundo que a OMC continua plenamente operacional seria, por exemplo, aprovar um pacote beneficiando os produtores dos países mais pobres. Mas a mensagem do embaixador americano Michael Punke foi basicamente de que mesmo um gesto de generosidade tem de ser recompensado na OMC. Ou seja, os americanos querem ganhar algo em troca. O sentimento de boa parte dos negociadores é de que mesmo uma medida simples para os pobres dificilmente será aprovada em dezembro.
Enquanto isso, a expectativa no mercado é de que a China corte em até 10% suas importações de algodão este ano, por causa dos preços elevados e dos custos dos financiamentos.
Fonte:|valoronline.com.br|
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