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Um caos, uma situação crítica, um desrespeito. O conjunto de palavras é apenas uma síntese da revolta dos empresários diante das travas às exportações de calçados para Argentina.
De fevereiro até o dia 23 deste mês, 3.381.808 pares de sapatos, numa soma de US$ 33,87 milhões, não conseguiram atravessar a fronteira para o país vizinho por falta da liberação das licenças não-automáticas, concedidas pelo governo de Cristina Kirchner. Ou seja, estão há 211 dias parados nas fábricas aguardando a autorização para o embarque, quando as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) ditam o prazo de 60 dias.
O número de pares pode ser bem maior, pois este volume refere-se a cerca de 20 empresas associadas que responderam ao levantamento feito pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados. “A situação insustentável e os prejuízos são sérios à indústria nacional, que, se já não registrou, deve estar na iminência de cancelamentos de pedidos”, lamentou o diretor-executivo da
Abicalçados, Heitor Klein. Ainda segundo ele, o volume de exportações brasileiras está aquém do acordado com a Argentina há dois anos, de 15 milhões de pares por ano. “Mal conseguimos chegar a 6 milhões de pares (US$ 122 milhões) de janeiro a agosto.”
O executivo da
Abicalçados lembra que a temporada da primavera-verão já chegou e a coleção deveria estar sendo mostrada nas vitrines argentinas. Outro agravante é que em 17 de outubro os hermanos festejam o Dia das Madres (Dia das Mães), que assim como em território brasileiro é considerada uma das datas mais importantes do calendário do comércio. Se os sapatos 'made in Brazil' não chegarem a tempo, adeus vendas, por consequência mais pedidos anulados.
A inércia do Planalto é duramente criticada pela
Abicalçados e por empresários. “Nosso governo não está sendo eficaz aos mandos da Argentina, que cada vez mais protege sua indústria local, ainda mais agora que estão em campanha eleitoral”, disse o executivo da
Abicalçados, Heitor Klein. Ele explicou que o governo brasileiro é abastecido duas vezes por semana com informações sobre a posição das licenças pendentes, portanto, não tem comoalegar desconhecimento e nem fazer de conta que está tudo bem.
A postura da tranquilidade também é assumida pelo governo argentino. Segundo Klein, nas últimas três semanas, o presidente da entidade, Milton Cardoso, esteve quatro vezes em Buenos Aires para tratar o assunto. Tanto Guillhermo Moreno (secretário do Comércio), Eduardo Bianchi (secretário da Indústria e Comércio Exterior) e a própria Débora Giorgi (ministra de Indústria) discursam que a situação continua normal. “Nosso governo está a olhar candidamente para tudo isso, como se fôssemos imbecis, enquanto eles (os argentinos) nos chamam de tolos, dizendo que tudo está bem”, esbravejou o representante da
Abicalçados.