Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Exposições no Brasil e no exterior retomam a força da arte têxtil revelando as possibilidades plásticas deste suporte tão conectado às práticas ancestrais, ao afeto e aos movimentos sociais.

Tapeçarias de Jacques Douchez e Norberto Nicola no MAM-SP (Foto: Divulgação)

"Em 2050, descobrimos: Brasil é América Latina!” “2027: Toma posse a primeira presidenta negra do Brasil.” “2085: Povos originários retomam a Amazônia.” Os aforismos são de Randolpho Lamonier e estampam sua série Profecias, iniciada em 2018. “Estamos com uma visão tão turva do país que a imaginação e a profecia tornam-se processos de resistência”, explica o artista, que bem poderia ter estampado essas frases em neon ou em placas de madeira. Mas Lamonier, vencedor do Prêmio Pipa em 2020, escolheu a arte têxtil por diversas razões. Além do patchwork ser uma mídia historicamente importante para manifestações políticas e sociais, para Randolpho, o início de tudo, entretanto, tem um estímulo que passa pelo afeto. Sua mãe era costureira e, influenciado por ela, o artista mineiro radicado em Paris começou a criar a partir de pedaços de tecido ainda em 2015, com a série Crônicas de Retalho.

Obra de Luiza Caldari (Foto: Divulgação)

A singularidade e potência dos retalhos e seus signos também podem ser vistas na ascensão meteórica de artistas como Sonia Gomes e no trabalho da artista israelense Noa Eshkol (1924-2007), destaque da 34ª Bienal de São Paulo. Mas a retomada da arte têxtil, muito presente na primeira metade do século 20, não está costurada apenas por fragmentos de tecidos ou narrativas. Baseia-se numa revalorização de práticas ancestrais, nas possibilidades pictóricas e escultóricas da tecelagem e na capacidade de ativação sensorial da fibra. Não à toa, a nova área do MoMA, em Nova York, tem um espaço dedicado à tapeçaria e vemos um resgate de nomes clássicos como Anni Albers, atualmente com mostra no Museu de Arte Moderna de Paris, e Sophie Taeuber-Arp, agora no MoMA. Ambas tinham uma relação íntima e direta coma pintura, explorando possibilidades plásticas entre tinta e trama. Quem passou, ano passado, pela exposição Oriente-Ocidente: Histórias do Tecer, curada por Ana Carolina Ralston, na Galeria de Arte André, conferiu este surpreendente diálogo entre pintura e tecelagem diante das obras (tecidas) de pintores como Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Iberê Camargo e Luiza Caldari.

Beaded Bag, de Sophie Taeuber-Arp (Foto: Divulgação)

Mas não é só da bidimensionalidade que vive a arte têxtil. Prova disso é o trabalho da chilena Cecilia Vicuña, redescoberta na última Documenta; da americana Sheila Hicks, um dos maiores destaques da 57ª Bienal de Veneza; e da polonesa Magdalena Abakanowicz, que ganhará uma retrospectiva na Tate Modern este ano em Londres. Abakanowicz, aliás, foi uma forte influência para Jacques Douchez e para Norberto Nicola, dois artistas expoentes do modernismo brasileiro que caíram no esquecimento a partir da década de 1980, que são celebrados no MAM de São Paulo, até 13 de março, na mostra Os Pássaros de Fogo Levantarão Voo novamente: as Formas Tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, curada pelo coletivo Assume Vivid Astro Focus, encabeçado pelo carioca Eli Sudbrack.

Douchez era adepto da racionalidade cartesiana e da precisão da abstração geométrica quando o assunto é composição e equilíbrio de linhas e cores vibrantes. Utilizava cortes, fendas, perfurações, rasgos e vazios em superfícies monocromáticas, que deixam entrever nesgas de outra cor.

Ciranda, de Norberto Nicola (Foto: Divulgação)

Já Nicola levou da tela para a tecelagem as texturas, incisões, cortes e franjas, criando uma explosão de cor e movimento. “Ele era mais tropicalista, selvagem e espontâneo. Foi muito influenciado pela natureza e explorava mais materiais como cordas, tecidos, areia, ráfia e palha”, explica o curador.

Obra da série Profecias, de Randolpho Lamonier (Foto: Divulgação)

Os dois chegaram a participar de cinco Bienais de São Paulo, mas o turning point de suas carreiras foi quando pararam de pensar como pintores e começaram a trabalhar como escultores. Em 1959 publicaram o manifesto Formas Tecidas, onde negavam a dimensão plana da tapeçaria, na mesma época em que Lygia Clark e Hélio Oiticica “quebravam a moldura” e se dedicavam a explorar as cores no espaço e o poder sensorial da arte. E foi justamente a tridimensionalidade das tapeçarias de Douchez e Nicola que chamou a atenção do museu. “Estas tapeçarias têm uma presença sensorial muito forte. São como seres míticos que abraçam o espectador”, comenta o artista-curador que, desde 2017, também vem produzindo trabalhos têxteis. “Por muito tempo, a tapeçaria foi considerada uma arte menor, mas este preconceito caiu por terra”, explica Sudbrack. “Para artistas que estão mais abertos a explorar novas mídias, a tecelagem nos dá possibilidades sensoriais extremamente ricas”, conclui.

por BETA GERMANO (@BETAGERMANO)

https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2022/01/arte-text...

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