Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Artesãos do Brasil: pela valorização do legado sociocultural e histórico do fazer manual

No Brasil, a profissão de Artesão foi reconhecida apenas em 2015 e, ainda hoje, esses trabalhadores lidam com invisibilização e condições precárias de trabalho.

O reconhecimento oficial da profissão de arte no Brasil, por meio da Lei nº 13.180 em 2015 , representou um marco importante na história do manual de trabalho no país. Essa conquista foi resultado de décadas – se não séculos – de luta e mobilização por parte dos artesões, que enfrentaram a ausência de reconhecimento legal por anos, além de condições de trabalho muitas vezes precárias e de uma desvalorização sistemática de seu trabalho.

A lei, embora ainda seja bastante concisa, deu o primeiro passo em direção à criação da Comissão Nacional do Artesanato e à instituição do Programa do Artesanato Brasileiro , responsável pela elaboração de políticas públicas de apoio ao setor e pela Carteira Nacional do Artesanato . Entre os pontos importantes assegurados pela lei estão, por exemplo, a valorização da identidade e da cultura do artesanato nacional; a integração da atividade artesanal com outros setores; programas de desenvolvimento econômico e social para artes; a qualificação permanente das artes e o estímulo ao aperfeiçoamento dos métodos e processos de produção; o apoio comercial e a certificação de qualidade.

Historicamente, um dos principais motivos para a invisibilização das técnicas manuais e do trabalho artesanal se liga ao desenvolvimento do sistema capitalista, que coincidiu com o desenvolvimento da revolução industrial. Gradativamente, o modo de produção capitalista priorizou a produção em massa e a eficiência produtiva, em detrimento da qualidade e do valor cultural das técnicas manuais. Como resultado, as artes foram marginalizadas e relegadas a uma posição secundária na cadeia produtiva, enquanto as indústrias modernas ganharam espaço e dominaram o mercado com seus produtos padronizados e de baixo custo. Essa transição, que foi global e só foi ainda mais acelerada ao longo dos séculos, teve um impacto profundo na forma como o trabalho manual foi percebido e previsto na nossa cultura.

Atualmente, essa mentalidade voltada para a maximização dos lucros e a redução de custos ainda persiste na indústria da moda contemporânea. A busca incessante por lucros rápidos e a produção de roupas em larga escala muitas vezes resultou na utilização de mão de obra barata e em condições precárias, relegando o valor do artesanato para um segundo plano. Essa abordagem desconsidera a qualidade e o prejuízo das peças artesanais e também os impactos sociais e ambientais de práticas de produção desumanas e pouco éticas.

Muitas marcas de luxo e de alta costura que dizem valorizar o artesanato já foram acusadas de plágio, se apropriam ou até mesmo não remuneram – ou remuneram muito mal – os artesões, não oferecendo nem o reconhecimento criativo e intelectual desenvolvido, e nem o financeiro .

Além disso, a obsolescência programada das nossas roupas, combinada com práticas de cópia e apropriação indevida de ideias, são exemplos concretos dos desafios enfrentados pelas artes na era atual no setor da moda. Muitas marcas de luxo e de alta costura que dizem valorizar o artesanato já foram acusadas de plágio, se apropriam ou até mesmo não remuneram – ou remuneram muito mal – os artesões, não oferecendo nem o reconhecimento criativo e intelectual desenvolvido, e nem o financeiro . Essas práticas minam a integridade desse tipo de trabalho e perpetuam uma cultura de exploração e desvalorização dos profissionais por trás das criações.

É essencial reconhecer, inclusive, que o trabalho artesanal não se limita apenas à fabricação de peças, mas engloba todo um conjunto de técnicas e conhecimentos transmitidos ao longo de gerações, que carregam consigo a identidade cultural e o patrimônio histórico imaterial de nossa sociedade. Por isso, quando a indústria da moda coopta esses saberes apenas para o lucro e não os permite em toda a sua potência sociocultural, ela ajuda a descaracterizar essas tradições culturais, além de validar a precarização do trabalho e do fazer manual.

No entanto, apesar desses desafios, há, também, uma crescente conscientização sobre a importância do trabalho artesanal na indústria da moda. Apesar de poucas, há marcas que realmente valorizam e incorporam técnicas tradicionais em suas coleções, registrando o valor cultural e a singularidade que as artes trazem para o setor.

Paralelamente, há, também, diversas iniciativas e movimentos que visam promover o reconhecimento do trabalho artesanal e garantir condições mais justas e dignas para os artesãos. O MÃOS – Movimento de Artesãs e Ofícios e a Rede Artesol são exemplos de organizações que atuam nesse sentido, fornecendo suporte, capacitação e oportunidades de comercialização para os profissionais do artesanato.

No entanto, não há como negar: ainda há um longo caminho para garantir que essas pessoas tenham seus trabalhos respeitados e é necessário que nós, enquanto cidadãos, também nos questionemos sobre a perpetuação do artesanato enquanto patrimônio imaterial e enquanto resistência histórica, social e cultural .

O primeiro Dia das Manualidades na Rua promovido pelo Fashion Revolution Brasil acontecerá no sábado, dia 20 de abril de 2024

É nesse contexto que o Fashion Revolution Brasil convida todas as pessoas para participar do primeiro Dia das Manualidades na Rua, no dia 20 de abril, durante a Semana Fashion Revolution. Essa iniciativa, que acontece em diversas cidades do Brasil e do mundo, tem o objetivo de ser um momento de celebração coletiva às manualidades.

Traga suas linhas, seu crochê e sua disposição para reparar suas roupas e participar desse movimento de valorização do trabalho artesanal. Ou, caso você prefira, consulte apenas artesões e demais pessoas fazendo suas manualidades! Você pode conferir a agenda do Dia das Manualidades na Rua pelo site da Semana Fashion Revolution 2024 .

 

Texto escrito por Claudia Castanheira , comunicadora socioambiental, mestra em Discurso e Sustentabilidade (USP), e redatora do Fashion Revolution Brasil.

https://www.fashionrevolution.org/artesaos-do-brasil-pela-valorizac...

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