Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

 

 

José Lopes

O economista Wilson Andrade acaba de ser reeleito presidente do Grupo Intergovernamental de Fibras Duras da FAO (Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Empresário e cônsul honorário da Finlândia, país com o qual ele mantém relações comerciais há mais de 20 anos, Andrade divide seu tempo ainda entre a presidência da Associação Internacional de Fibras Naturais (Inf), a presidência do Sindicato Nacional das Indústrias de Fibras Naturais (Sindifibras) e a direção da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf).

Na última sexta-feira, 18, o site Gente e Mercado acompanhou, literalmente, parte da agenda de Andrade para conversar com exclusividade sobre as perspectivas do mercado mundial de fibras naturais e como o setor vem protagonizando a mudança do paradigma econômico em busca de sustentabilidade juntamente com as florestas plantadas.

Quais as perspectivas mundiais do setor de fibras naturais?

Wilson Andarde - Os anos de 2009 e 2010 foram limitados pela crise econômica de um lado e por problemas climáticas que reduziram a produção em algumas áreas. Isso deu uma redução de mercado significativa. Mas este ano teremos uma recuperação de todas as fibras em torno de 15% em relação a 2010 e há uma perspectiva de aquecimento maior do que aconteceu até agora nos próximos anos. Tem um dado que um filiado da Info na Alemanha trouxe de que em 2010 a indústria automobilística alemã utilizou 25 mil toneladas de fibras naturais na produção dos veículos. Desse total, apenas uma mil tonelada foi de fibra de sisal e uma mil de coco, as 23 mil toneladas restantes foram todas de “hemp” (maconha) para fins industriais.  Então, se a indústria automobilística da Alemanha já está adotando as fibras naturais, embora seja um pouquinho de sisal e de coco, é um alento para todo mundo. Fico entusiasmado. Além disso, cada carro produzido pela Ford em 2012 terá, pelo menos, 40 quilogramas de fibra de sisal (desde 2008 a montadora substitui peças plásticas por compostos de propileno reciclado e fibra de sisal). Isso só é possível devido às quatro qualidades que essa fibra reúne: ela é mais leve, mais forte, reciclável e mais barata que os outros materiais utilizados, por exemplo, na fabricação do painel do carro.

Qual a importância das fibras naturais para a Bahia?

W.A. – A Bahia lidera a produção nacional de fibras de sisal, coco e piaçava. Além da sua importância ecológica, as fibras naturais geram mais de um milhão de empregos e mais de US$ 200 milhões em exportação para a Bahia. Atento para sua importância social porque uma das prioridades do governo da Bahia, além de educação e saúde, é a região do semiárido, que ocupa mais de 60% do território baiano. E não se pode falar em semiárido sem falar em sisal, que é o “carro-chefe” da economia da região porque resiste à seca e emprega em sua cadeia meio milhão de pessoas distribuídas em 52 municípios, que vão de Feira de Santana até Juazeiro.

Qual município baiano é o maior produtor de sisal atualmente?

W.A. – Há uma confusão de estatísticas porque as notas fiscais são tiradas onde está a indústria e o sisal circula sem documento fiscal até chegar lá. Como as indústrias estão na região de Valente e Coité há uma imagem de que a produção sai de lá. Mas o maior produtor do estado, em área de plantio, é Campo Formoso.

Quanto dessa produção é exportada?

W.A. – Cerca de 85% da produção brasileira de sisal é exportada, o que gera US$ 100 milhões por ano. Desse volume, 30% sai ainda em forma de matéria-prima para ser processada lá fora e o maior comprador desse produto é a China, que vai concorrer conosco nos mercados europeus e norte-americano com tapetes, cordas, etc. Os outros 70% saem beneficiados, dos quais muito pouco (3% a 4%), em forma de tapete, que é vendido hoje por US$ 3,5 mil por tonelada. O fio é vendido por US$ 1,5 mil a tonelada e a fibra, de US$ 700 a US$ 800 a tonelada, então é uma diferença muito grande.

Então agregar valor aos produtos exportados é uma das prioridades do setor?

W.A. – É um dos seis pontos estratégicos do nosso programa, que foi decidido pelo grupo de produtores, plantadores, compradores, trabalhadores rurais, governo e Sindifibras. Todos estão de acordo nesses seis pontos.

Fale um pouco sobre esse programa.

W.A. – O primeiro ponto entende que é preciso melhorar a produtividade no campo. A gente pode sair de uma média de 1.200 quilogramas de fibra de sisal por hectare para até 2.500 quilogramas por hectare e isso é possível sem a aplicação de muita tecnologia, basta cuidar do campo. O segundo trata do melhoramento da qualidade e para isso precisamos classificar o produto com mais rigor e certificá-lo a nível mundial, não só quanto às características técnicas, mas também às condições ambientais e o aspecto social, o que se chama hoje de política do trabalho decente. Em terceiro lugar, precisamos usar 100% da planta. A política agroindustrial hoje tem que ser o lixo zero. Do sisal, a gente usa muito pouco da planta: a fibra não passa de 5%, a mucilagem equivale a 20% e cerca de 75% da planta é o suco, que é jogado fora e a gente precisa melhorar isso.

Existem estudos para o aproveitamento do suco?

W.A. – Sim, desenvolvidos pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) que foram apresentados e aprovados durante a Semana Internacional de Fibras Naturais realizada em Salvador (o INFW 2011o aconteceu de 13 a 18 de novembro e reuniu autoridades governamentais e empresariais de 54 países). A Unesp tem um centro tecnológico avançadíssimo e acredito que em breve a Bahia poderá fazer o mesmo com o Parque Tecnológico. Aproveito para reforçar publicamente o pedido de um espaço para as fibras naturais ao secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Paulo Câmara. Os pesquisadores da Unesp descobriram pelo menos 12 utilidades para o suco do sisal, três delas com forte viabilidade comercial: como defensivo agrícola no combate de ácaros que atingem as culturas de cítricos; como carrapaticida; e como remédio para a candidíase e no tratamento de micoses em geral. Mas precisamos encontrar novos usos para todos os nossos produtos. A gente pretende entrar em outros três mercados: na substituição do amianto, empregado na construção civil e que, devido aos riscos que representa à saúde, já é proibido em muitos países; na substituição da fibra de vidro nas indústrias automobilística, náutica e aeronáutica; e na construção civil pesada, com o emprego de geotecidos de fibras naturais para impedir a erosão em áreas de encostas e estradas. Além disso, precisamos desenvolver equipamentos modernos e investir em comunicação, fazer mais propaganda dos nossos produtos.

As fibras naturais, então, têm um papel fundamental no jogo da mudança de paradigma econômico?

W.A. – Em termos mundiais, elas são a grande opção. Elas de um lado e as florestas plantadas. Floresta é fibra.

Você também é diretor executivo da Abaf. Como você vê esse outro setor?

W.A. – É um setor que vem crescendo nos últimos cinco anos 7%, com tendência de aumentar bastante esse percentual nos próximos anos. Isso a nível de Bahia, que já é um destaque em termos de produtividade mundial. Enquanto a média da produção nacional é de 40 metros cúbicos por hectare ao ano, a Bahia, em algumas áreas do Extremo Sul, ultrapassa 60 metros cúbicos. E se você pegar o eucalipto da Malásia, ele dá 12. Na China, também é menos que vinte metros cúbicos por hectare ao ano.

Qual a importância ecológica dessas florestas?

W.A. – O mundo quer hoje combater o aquecimento global, provocado pelo excesso de carbono na atmosfera. Essas florestas capturam carbono, reduzem o nível de carbono. É um setor que só tem exemplos a dar, tem crédito a vontade na área ambiental e o comportamento ético das empresas é exemplar. Enquanto o Código Florestal Brasileiro diz para preservar 20% da mata nativa da sua fazenda, o setor florestal trabalha com quase um hectare plantado para um nativo. E vem dominando a pauta de exportações do estado desde abril deste ano, disputando com a química e a petroquímica. Exporta quase US$ 2 bilhões por ano. Além disso, pode ser realizado em consórcio com outras atividades. Aqui mesmo na Bahia, a Dow Química lançou um projeto em conjunto com a Nova Energia em que boa parte do consumo de energia vai ser por resíduo de madeira. Além disso, o mercado de compósitos de plástico e madeira (wood plastic composite) é de um milhão de toneladas ao ano, uma coisa fenomenal.

Aqui na Bahia, além do plástico verde desenvolvido pela Braskem, com base na cana-de-açúcar, existem outras iniciativas de wpc?

W.A. – Mesmo sem a Braskem, vamos muito bem. Quando se desenvolve um produto de wpc, 100% reciclável, eu estou ajudando a natureza, o mercado, enfim, todos saem ganhando. O que a Braskem está trazendo é algo adicional, com 60% do derivado de petróleo com a derivados da cana de açúcar, mas não está “linkado” conosco. É ótimo e tomara que venha com preço competitivo.

Algum conselho para o empresariado local?

W.A. – Tem um dado muito interessante com relação à produção de fibra de coco. O Brasil é o sexto produtor de coco do mundo. Os quatro principais produtores da fibra de coco – Índia, Sri Lanka, Malásia e Filipinas – exportam US$ 300 milhões por ano, a gente não faz US$ 1 milhão ainda. No entanto, Salvador produz 30 toneladas de coco por dia. Se ampliarmos para Lauro de Freitas, Camaçari e Litoral Norte esse número cresce para cerca de 60 toneladas de casca de coco verde na praia todos os dias e a gente não aproveita nada. Ao contrário: pagamos para coletar e estocar em forma de lixo. Tudo que é voltado para o verde, os setores empresariais organizados deveriam saber que existem recursos disponíveis. A Info conseguiu recursos para contratar duas universidades mundiais especializadas em estudos de longo prazo (foresight studies), a de Manchester (Inglaterra) e Ultrech (Holanda) para dizer o que vai acontecer com as fibras naturais que estamos produzindo nos próximos 20 anos. A previsão é que seja finalizado até abril do ano que vem.

Fonte:|http://genteemercado.com.br/64035/

Exibições: 369

Responder esta

Respostas a este tópico

Os da "Melhor Idade" lembram da época em que os Colchões, Estofamentos, Isolantes Térmicos e
Acústicos eram fabricados com Fibras Naturais. Posteriormente foram substituídos pela Espuma;
atualmente as Fibras Naturais estão retornando, principalmente por questões de Saúde e Sustentabilidade, embora infelizmente estas informações ainda não tenham chegado ao Público Consumidor.
As grandes Montadoras de Automóveis em todo o mundo já estão retornando para as Fibras Naturais.
A Indústria da Construção Civil do Brasilbrevemente terá regulamentada normas para proteções Sonora e Térmica.

Em 2007 a ONU/FAO determinou que o ano de 2009 seria dedicado às Fibras Naturais.
A ABTT-Associação Brasileira de Técnicos Têxteis, imediatamente adotou e passou
a divulgar nos Boletins de divulgação, e culminou que em seu XXIII CNTT - Congresso Nacional de Técnicos Têxteis as FIBRAS NATURAIS foram o tema principal;
inúmeros organismos, entidades e empresas estiveram presentes, embora alguns outros de grande importância infelizmente se omitiram.
Hoje no mundo, o grande objetivo da Sustentabilidade é o aproveitamento dos
Resíduos Têxteis Sólidos para a fabricação tanto de Fios como de Mantas. No Brasil
já há cerca de 200 empresas envolvidas com este segmento.
A LAROCHE-França – www.laroche.fr, empresa centenária e reconhecida
mundialmente, tem tecnologia “state of art” para a industrialização das Fibras
Naturais, Sistema de Cotonização de Fibras Naturais, bem como o Desfibramento
de Resíduos Sólidos Têxteis para a fabricação de Fios e Mantas; inclusive faz
projetos “turn kee”, com referências em todo o mundo.

Responder à discussão

RSS

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço